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Carro furtado: a sensação de se sentir lesado por duas vezes

O ladrão leva seu automóvel, que é recuperado, mas depois você ainda é obrigado a enfrentar um processo burocrático para ter o veículo de volta

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Em poucos segundos o ladrão arromba o seu carro e o leva, mas mesmo se for recuperado não será tão fácil reavê-lo
Em poucos segundos o ladrão arromba o seu carro e o leva, mas mesmo se for recuperado não será tão fácil reavê-lo Foto: Em poucos segundos o ladrão arromba o seu carro e o leva, mas mesmo se for recuperado não será tão fácil reavê-lo

As estatísticas comprovam que o furto/roubo de veículos no Brasil ainda é um problema grave. E só quem já teve um carro furtado ou roubado mediante ameaça sabe bem o quanto é ruim a sensação de ter sua privacidade invadida e seu patrimônio levado. Pior ainda é ter a notícia de que o carro foi recuperado no dia seguinte, mas você só consegue tê-lo de volta duas semanas depois.

Tive o desprazer de vivenciar essa situação e fiquei pensando quantas pessoas passam por isso diariamente em nosso país, sendo vítimas duas vezes: primeiro, ao ter o carro furtado, e depois, para recuperá-lo. A lógica diria que, se o carro foi recuperado, a prioridade deveria ser a devolução ao proprietário o mais rápido possível. Mas não é bem assim.

A sensação desagradável começa quando você descobre o furto e leva alguns minutos para processar a informação. Na verdade, a gente fica tentando acreditar que o carro foi estacionado em outro lugar e você esqueceu onde. Mas não foi. Eu tive mesmo meu carro furtado.

Minha primeira atitude foi ligar para o 190 (Polícia Militar) para comunicar o furto, acreditando que seria possível localizar o meliante com meu carro ainda nas proximidades. A atendente da PM, muito gentil, anotou todos os dados necessários e disse que as informações seriam repassadas para as equipes de rua e, caso o carro fosse encontrado, eu seria comunicado imediatamente.

Nessas horas, a tecnologia também pode ajudar, pelo menos para você saber como foi que o furto aconteceu. Recorrendo ao circuito de câmeras do prédio, visualizei a tranquila ação do ladrão. Eram pouco mais das 10h da manhã, sol a pino, ele chega de boné na cabeça e máscara para dificultar a sua identificação. Aproximou e definiu que aquele seria seu carro furtado do dia.

Mas antes de pôr o plano em prática, despistou, olhou para as janelas dos prédios em volta e não se intimidou com as pessoas que estavam paradas no ponto de ônibus bem em frente ao carro. Em seguida, foi até a porta do passageiro e, em menos de três segundos, usando uma chave mixa, destravou o carro.

Calmamente, caminhou até a porta do motorista, abriu e entrou no carro. Feito isso, saiu do carro novamente e abriu o capô, já com uma central eletrônica decodificada para desbloquear o carro e fazer o motor funcionar. Tudo muito rápido, diante dos olhos de pessoas que trafegavam pela rua sem imaginar o que estava acontecendo. E lá se foi o ladrão com mais um carro furtado.

Para mim restou acionar o seguro, fazer o registro da ocorrência na Delegacia de Furtos e Roubos e esperar uma notícia que indicasse a localização do meu carro furtado, embora a esperança fosse pequena. Mas no dia seguinte, bem cedo, recebi uma ligação de um agente da Polícia Rodoviária Militar informando que meu carro havia sido localizado na MG-050, no município de Carmo do Cajuru, no Oeste de Minas Gerais, a 112 quilômetros de Belo Horizonte.

De acordo com o policial, o carro furtado estava intacto, sem qualquer tipo de dano aparente, e o cidadão que estava dirigindo foi preso em flagrante como receptador de carro furtado. O mais curioso é que ele foi preso porque estava fumando maconha dentro do carro e o cheiro chamou a atenção dos policiais quando o meliante passou por eles.

Por que tanta demora na devolução de um carro furtado?

O ladrão foi preso e conduzido para a Delegacia Regional de Divinópolis, onde foi feito o flagrante. E o carro foi rebocado para o depósito da Polícia Civil em Carmo do Cajuru. Aí começou meu calvário para reaver meu carro. Em contato com a delegacia, a atendente informou que, como o flagrante havia sido feito na regional de Divinópolis, eu teria que esperar que o inquérito fosse encaminhado para Carmo do Cajuru para, em seguida, meu carro ser periciado e liberado. A informação era de que esse processo poderia demorar cerca de 10 dias.

É isso mesmo! Você é vítima de furto, seu carro furtado é recuperado, mas é preciso esperar 10 dias para reavê-lo. O detalhe curioso é que a atendente não permitiu que eu falasse com o delegado responsável, sempre alegando que ele não estava ou que não poderia atender.

Nessas horas o cidadão se sente totalmente desamparado, sem saber a quem recorrer. Só me restou ligar para a Delegacia de Carmo do Cajuru inúmeras vezes para saber quando o carro seria liberado. No terceiro dia de contato, a atendente disse que o delegado havia orientado para que eu escrevesse um texto relatando o furto e comprovando com documentos que o carro me pertencia. O documento deveria ter firma reconhecida em cartório e em seguida entregue pessoalmente ou enviado pelos Correios.

Eu pensei: meu carro foi furtado, eu fiz o registro com a PM e com a Polícia Civil, e ainda teria que enviar um texto com documentos anexados explicando que eu era a vítima? Situação surreal a qual me recusei a seguir. Mas, de qualquer forma, tive que esperar quase duas semanas para ter o carro liberado. E ainda fui ouvido como vítima na Delegacia de Carmo do Cajuru. Fica uma estranha sensação de que quem estava fazendo algo errado era eu.

O carro? Estava, realmente, quase intacto, com um pequeno estrago na fechadura da porta do passageiro, onde a ação do ladrão começou. Por dentro, mais estrago no sistema de ignição e, no cofre do motor, a central eletrônica decodificada usada para furtar o carro. Sobre o banco do passageiro, alguns pertences deixados pelo ladrão, como uma carteira vazia, chaves com um chaveiro do Clube Atlético Mineiro e um recipiente com álcool escrito a palavra “fé”.

No porta-malas estava faltavam o estepe, o macaco e a chave de roda. Fica o prejuízo e a sensação de que o cidadão brasileiro muitas vezes é penalizado duplamente, e sem razão, mesmo sendo vítima na história. Resta torcer para que o país diminua as diferenças sociais, trazendo como consequência a redução dos furtos e roubos de veículos e outros bens. E que o serviço público seja mais eficiente e não penalize o contribuinte que foi lesado.

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