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Burrocracia

Segurança no trânsito é unanimidade no Brasil: nem consumidor, nem empresas, nem governo dão a menor pelota para o assunto

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Pior do que o brasileiro não se preocupar com a segurança no trânsito é o governo também não dar a mínima pelota para o assunto.

Milhares de acidentes e mortes teriam sido evitadas todo ano se os veículos fossem submetidos à inspeção veicular, estabelecida pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB) há dez anos. Mais uma lei que ficou no papel, porque as autoridades responsáveis por sua implementação não se mexeram.

E tome carro rodando com pneus carecas, freios ineficientes, luzes queimadas, amortecedores vencidos e outros atentados à segurança. E ao nosso pulmão: essas sucatas sobre rodas são também responsáveis pela péssima qualidade do ar que respiramos, pois as emissões que saem desses escapamentos não são controladas periodicamente.

O governo brasileiro é de um cinismo a toda prova. Sempre que se acumulam (como nesse final de ano) recalls de duas ou três montadoras, aparece na imprensa um burrocrata governamental, preocupado com os riscos que os donos dos automóveis envolvidos estão correndo. Em vez de tentar seus 15 minutos de fama, essa turma de incompetentes deveria estar atenta para as reais ameaças à integridade do cidadão brasileiro. Se a montadora faz o recall (aqui como em todo o mundo), o problema está solucionado.

O que os burrocratas não percebem é que a ameaça é outra: quando a fábrica se omite e não faz o recall. Ou o faz discretamente, na calada da noite.

Enquanto isso, engate-bola e quebra&mata (desculpe, quebra-mato...) são 'regulamentados', em vez de serem definitivamente proibidos.

Ameaça à vida é não existir nenhuma. Isso mesmo, nenhuma fiscalização do que se coloca à venda no nosso mercado. E não são espelhinhos nem tapetinhos de borracha: componentes de direção, suspensão e freios, sem nenhum compromisso com padrões mínimos de qualidade, são vendidos livremente por lojas de peças, postos e oficinas, mesmo que fabricados em autênticos 'fundos de quintal'.

No primeiro mundo, componentes ligados à segurança só vão para a prateleira depois de submetidos a rigorosos testes de qualidade, e certificados por institutos homologados pelo governo.

O lobby do setor no Brasil é tão poderoso que os atentados à segurança são cometidos sob o respaldo da lei. Exemplo?

O governo tornou obrigatório o apoio de cabeça, um acessório que evita problema na coluna cervical (provocado pelo 'efeito chicote'), caso o automóvel sofra uma batida na traseira. Mas, por pressão das montadoras, o apoio não é exigido no centro do banco. Ou seja, o governo (finge que) se preocupa com quem vai nas laterais. Mas o infeliz que vai no meio pode quebrar o pescoço...

Outro exemplo? Criança é obrigada a ser acomodada no banco traseiro do automóvel. Mas, no caso de picape, que só tem os bancos dianteiros, a legislação abre uma exceção. E dane-se a vida da criança.

Carros chineses que foram reprovados no quesito segurança pelas autoridades norte-americanas já estão desembarcando no Brasil. Por que o burrocrata, que tanto se preocupa com os recalls, não tenta mais 15 minutos de fama, exigindo dos importadores a certificação de segurança?