Final de ano surgem os mais diversos prêmios do melhor disso e daquilo. O meu é para a maior mentira do ano. Mas é tanta mentira neste setor dos automóveis que fica difícil decidir quem vai levar o troféu.
Neste ano, a Volkswagen facilitou as coisas com o lançamento do que ela chama de “nova” Saveiro. Verdadeira cara de pau de uma marca tão famosa e conceituada (será mesmo?) e que já produziu modelos modernos, marcantes, sucessos mundiais de mercado, apresentar uma picape incompatível com a modernidade do setor, um verdadeiro vexame, pois não passa de um “facelift”, um quebra-galho de estilo que se limitou ao capô, grade e para-choque do modelo antigo. Antigo mesmo, pois é derivado da Saveiro que chegou em 2010.
Em resumo, ao invés de a Volkswagen reservar para a Saveiro um lugar de honra em seu museu, mandou-a para o showroom dos concessionários.
Não é assim que a Volkswagen atua em outros mercados. É bem verdade que a marca teve sua imagem arranhada com o “diesel-gate”, que lhe rendeu um prejuízo de dezenas de bilhões de euros e diretor atrás das grades. Mas é inquestionável a modernidade de seus modelos produzidos na Alemanha, África do Sul e Estados Unidos, por exemplo.
Entretanto, no Brasil a Volkswagen se recusa a investir para acompanhar as tendências mundiais do setor. Prova disso? Braços cruzados enquanto a concorrência lançava um SUV atrás do outro. E a mesma postura agora, mantendo picapes obsoletas como Saveiro e Amarok, enquanto nosso mercado recebeu uma enxurrada de novos modelos nos últimos meses.
Qualquer destes sete itens seria suficiente para atribuir o título “Pinóquio de Ouro 2023” à Volkswagen Saveiro (aliás, sete não é mesmo conta de mentiroso?):
- Plataforma antiga, mas tão antiga que já foi sucateada junto com o VW Gol;
- Motor antigo, mas tão antigo, que se trata de um quatro cilindros 1.6 sem turbo nem injeção direta e que desenvolve apenas 116cv. Potência fornecida hoje por qualquer motorzinho 1.0;
- Depois de décadas com o câmbio manual, o brasileiro finalmente passou a exigir o automático, não oferecido na Volkswagen Saveiro. Sua turma de Marketing do Produto nem parece estar em São Bernardo do Campo, mas em Marte;
- Mesma carroceria de seu lançamento em 2010, com modificações apenas no capô, grade e para-choque. E ainda bem que a cabine dupla tem apenas duas portas com difícil acesso ao banco traseiro. Melhor mesmo nem entrar atrás, pois o espaço para adultos é ridículo.
- A Volkswagen não se importou em deixar vestígios de seu obsoletismo para todo lado. Os vidros (só os dianteiros) são elétricos. Mas o revestimento das portas ainda traz arruelas encapadas para cobrir o buraco das antigas maçanetas;
- Aliás, por falar em elétrico, estão lembrados de que no passado existia direção hidráulica nos automóveis? Eu não me esqueço, pois é o que tem nos meus antigos das décadas de 1970 e 1980. Mas atualmente, pelo menos uma eletrohidráulica a Saveiro mereceria, não é dona Volkswagen?
- Em um mercado que tem Fiat Strada, Chevrolet Montana, Fiat Toro e outras deste naipe, é inacreditável que a Volkswagen, que sempre cobrou mais por seus carros que a concorrência baseada em sua qualidade superior, tenha agora que apelar para “a melhor relação custo/beneficio”. Puro sofisma para evitar de anunciar “a mais barata do mercado”.
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