Um dos sonhos de consumo das motoristas brasileiras é o SUV, iniciais que designam (em inglês) o veículo utilitário-esportivo. Para quem não sabe do que se trata, é aquele grandalhão, meio-termo entre perua grande e jipão. Alto, com cara de bravo, estepe dependurado, em geral na tampa traseira, suspensão elevada e pneus cidade/campo. A moda surgiu nos EUA e o pioneiro foi o Cherokee, neto da brasileira Rural Willys. Depois, apareceram dezenas deles, de todas as marcas.
Mas tudo tem seu preço: nos EUA, o primeiro susto com os SUVs foi o Explorer, que capotava quando estourava seu pneu. O defeito era da Firestone, mas não teria as mesmas conseqüências se o problema fosse num automóvel: o SUV é muito mais alto e menos estável.
O segundo baque foi duplo: grandes e pesados, bebem e poluem exageradamente. Com o preço da gasolina subindo sem parar nos EUA e as campanhas pela redução de emissão de gases, foram para a lista negra e suas vendas estão morro abaixo nos últimos dois anos.
Mas por que sonho da motorista? As mulheres gostam do jeitão macho, da impressão de segurança proporcionada pela altura, do espaço à vontade. Elas nem sabem onde fica a alavanca que aciona a tração nas quatro rodas, muito menos a reduzida.
E os homens gostam dos SUVs principalmente pelas rodas e pneus grandes: uma tranqüilidade para viajar nos buracos cercados de algum asfalto. E também os que rodam na terra, adoram uma trilha, ou se embrenham pela natureza e acionam todos os recursos off-road do bicho.
Mas, além dos SUVs de verdade, há os de mentirinha. O Brasil é o campeão deles. São os Ecosport, CrossFox e Adventure da vida: suspensão elevada e pneu especial para quebrar o galho na terra. Nada de tração nas quatro nem reduzida, o resto é só decorativo. Bem no ponto para atrair quem não quer um ou não tem dinheiro para comprá-lo.
Qual é o problema de segurança com os off-road de meia-tigela?
Enquanto os verdadeiros SUVs são todos equipados com os mais modernos dispositivos eletrônicos, para garantir sua estabilidade, mesmo com a suspensão mais alta e pneus menos adequados para velocidades mais elevadas, as versões despojadas desenvolvidas no Brasil não contam com nenhum desses recursos eletrônicos. A conseqüência é que a segurança e a integridade de motorista e passageiros ficam comprometidas.
Os amantes dos SUVs vão contestar. Mas no Ecosport, por exemplo, foi a própria Ford que, preocupada, pôs um aviso no pára-sol, advertindo o motorista a respeito dos riscos de acelerá-lo com vontade.
Mas o brasileiro tem muita fé e certeza de que acidente só acontece com o vizinho e continua preferindo a roda bonitinha aos freios com ABS, os bancos em couro ao airbag.
"Pode ser que meu jipinho tenha uns probleminhas de segurança, mas não é uma gracinha?"
A mentirinha que é uma gracinha
As mulheres são apaixonadas pelos "off-road" de mentirinha, apesar de menos estáveis e seguros que os automóveis. Mas são tão bonitinhos...