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Não é verdade que o brasileiro se recusa a instalar equipamentos de segurança em seu automóvel, por falta de condições financeiras. Para comprar rodas de liga leve, CD Player, direção hidráulica e ar-condicionado, o dinheiro aparece.
É verdade que muitos realmente não têm condições e optam pelo modelo mais barato, num esforço de levar um carro zero, muitas vezes financiado em 72 suadas prestações.
Mas, quando a grana dá para equipar o carro, primeiro o conforto, depois a segurança. Porque acidente só acontece com o vizinho...
Teste
Um órgão de defesa do consumidor de São Paulo, o Pro Teste, fez um crash test comparativo entre o VW Fox exportado (com airbag) para a Europa e o vendido (sem airbag) no Brasil. Provou o óbvio: os passageiros (bonecos) são protegidos no modelo europeu, mas se ferem gravemente ou morrem na versão brasileira.
Quem não gostou da maneira como o teste foi divulgado, e com razão, foi a Volkswagen. Pois ficou insinuado um desprezo da montadora alemã pelo mercado nacional. Claro que não é nada disso. O consumidor europeu exige o airbag, o brasileiro acha que é besteira.
Tem também a história do ovo e da galinha, do ciclo vicioso. São reduzidas as vendas de freios com ABS e airbags porque são caros, ou são caros porque são vendidos em pequenas quantidades?
Para quebrar o ciclo, a Bosch decidiu investir no sistema ABS, que evita o bloqueio das rodas no caso de uma freada de emergência. Ela vai nacionalizar o equipamento (atualmente importado), com o apoio de montadoras, para reduzir seu custo.
Marcha a ré
Até agora, várias montadoras brasileiras já deram com os burros n?água, com airbags e ABS.
Quando a Mercedes-Benz iniciou a produção do Classe A, em Juiz de Fora, o carro chegou ?caro? ao mercado, pois oferecia todos os mais sofisticados equipamentos de segurança. O modelo não vendeu, mas a montadora se recusou a retirá-los, para baratear seu preço. E acabou fechando a fábrica.
A Renault demonstrou preocupação com segurança e declarou que todos os modelos produzidos no Brasil seriam equipados com airbag duplo. Teve que voltar atrás, no caso da versão mais barata, pois ficava mais caro que as da concorrência e não vendia.
A própria Volkswagen teve (literalmente) de pagar caro para ?adequar? o Golf ao mercado interno: quando iniciou sua produção no Paraná, investiu no desenvolvimento de um novo volante (sem a bolsa inflável), pois nos modelos alemães o airbag era de série.
Já tem um lobby atuando no Congresso, para tornar obrigatório o airbag em todos os automóveis nacionais. Se vingar, não seria má idéia isentar airbag e ABS dos pesados impostos federais. Seria uma modesta contribuição do governo para quebrar o ciclo vicioso e reduzir o peso da segurança no bolso do motorista.