O segmento dos sedãs médios no Brasil é como se fosse uma arena na qual é preciso matar um leão por dia para sobreviver, tamanho o nível de disputa. E esse “campo de batalha” inclui um número considerável de bons “gladiadores”, como Citroën C4 Lounge, Chevrolet Cruze, Ford Focus, Honda Civic, Nissan Sentra, Peugeot 408, Renault Fluence e Volkswagen Jetta. Para se manter bem na “briga”, é preciso ter boas armas, leia-se linhas atraentes, amplo espaço interno, pacote tecnológico atual, bons níveis de acabamento e equipamentos e preço competitivo. A nova geração do Toyota Corolla, que é produzida na fábrica de Indaiatuba (SP), seguiu a receita quase à risca, se esquecendo um pouco do preço, que é bem salgado.
EUROPEU O modelo brasileiro é baseado no projeto europeu, seguindo dois conceitos definidos pela marca japonesa: Keen Lock, que reflete a nova identidade visual dos veículos Toyota; e Under Priority, que tem como característica o posicionamento mais baixo da grade frontal, para reduzir os danos a pedestres em caso de atropelamento. As novas linhas não são exatamente revolucionárias, mas representam uma grande evolução em relação à geração anterior, que era muito conservadora. Na frente, destacam-se os faróis de duplo refletor, que são “tocados” pelas barras cromadas da grade; os vincos acentuados nas laterais do capô e a tomada de ar na cor preta. Detalhe importante: a frente tem boa altura em relação ao solo e não raspa com facilidade em entradas e saídas de rampa. De perfil, as rodas de liga na cor grafite dão um toque de elegância ao conjunto, enquanto o acabamento do painel de porta que fica aparente pelo vidro dianteiro parece gambiarra. A traseira também ficou bonita, com lanternas muito recortadas e unidas por uma barra cromada.
DIMENSÕES A nova geração do Corolla cresceu ligeiramente em comprimento e largura, mas a principal alteração foi na distância entre-eixos, que foi determinante para que o sedã ganhasse mais espaço interno. Os passageiros do banco traseiro desfrutam de muito conforto para as pernas, mesmo aquelas pessoas de maior estatura. Por outro lado, quem senta no meio é incomodado pelo apoio de braço embutido no encosto do banco. O porta-malas tem capacidade para acomodar tranquilamente a bagagem de férias da família. Por outro lado, faltam rede para prender pequenos objetos, ganchos para fixar a carga e uma forração para o teto do compartimento de bagagens, que evitaria que os alto-falantes ficassem tão expostos. Num carro desse segmento e por esse preço, isso faz muita diferença.
INTERIOR Se as linhas externas misturam bem esportividade com elegância, o habitáculo privilegia mais o sóbrio, principalmente no painel. Com desenho mais horizontalizado, ele é bem tradicional. O quadro tem instrumentos analógicos que são bem visíveis, assim como a pequena tela do computador de bordo, que fica no centro. O acabamento interno é bom, misturando as cores preta (presente nas partes superior e inferior do painel, na maior parte dos painéis de porta, no volante, no console central e no retrovisor) e cinza (no revestimento em couro dos bancos, no centro do painel, na parte de baixo do volante e nos puxadores de porta dianteiros). No centro do painel, o sistema multimídia (que tem tela de LCD, DVD, rádio, MP3, entradas auxiliar e USB) tem uma moldura em material imitando fibra de carbono. A Toyota trabalhou bem no isolamento acústico, e o novo Corolla é perceptivamente mais silencioso do que o anterior. A câmera de ré ajuda bem nas manobras de estacionamento, já que a visibilidade traseira é ruim..
NA DIREÇÃO O motor 2.0 é praticamente o mesmo do modelo anterior. O ganho de 1cv quando abastecido com etanol em nada mudou o desempenho, capaz de agradar tanto ao tiozão que quiser fazer aquela viagem tranquila como ao jovem que quiser colocar um pouco de adrenalina na coisa. Mas o grande barato tecnológico dessa versão é mesmo o câmbio CVT, que torna a tarefa de dirigir bastante agradável. O motorista pode mudar as marchas por borboletas junto ao volante ou usar a tecla Sport para trocas em rotações mais altas. Ele também é fundamental para garantir um consumo bem razoável, levando em conta que se trata de um motor 2.0. A suspensão traseira merecia um multilink como a do concorrente direto Civic, para melhorar conforto e estabilidade. Por outro lado, a direção tem relação mais direta, o que deixa o Corolla gostoso de dirigir.
POBRE A lista de conforto deixa de fora ar-condicionado de duas zonas, sensor de chuva e até luzes de cortesia nos para-sóis; enquanto o pacote de segurança não contempla sensor de estacionamento nem dianteiro nem traseiro, controles de tração e estabilidade e acendimento automático dos faróis. Num carro de R$ 80 mil, a falta desses itens é inaceitável.
ESCANEANDO O SEDÃ - Conheça os detalhes do novo Toyota Corolla*
FICHA TÉCNICA
MOTOR
Dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 1.986cm³ de cilindrada, 16 válvulas, que desenvolve potências de 143cv (gasolina) e de 154cv (etanol) a 5.800rpm e torques de 19,4kgfm (gasolina) a 4.000rpm e de 20,3kgfm (etanol) a 4.800rpm
TRANSMISSÃO
Tração dianteira com câmbio continuamente variável (CVT) de seis velocidades
SUSPENSÃO/RODAS/PNEUS
Dianteira, do tipo McPherson, com barra estabilizadora; e traseira, eixo de torção, com barra estabilizadora / em liga leve de 16 polegadas / 205/55 R16
DIREÇÃO
Do tipo pinhão e cremalheira, com assistência elétrica
FREIOS
A disco ventilado nas quatro rodas, com ABS e EBD (distribuição eletrônica da força de frenagem)
CAPACIDADES
Do tanque, 60 litros; e de carga útil (passageiros mais bagagem), 435 quilos
QUANTO CUSTA?
O novo Toyota Corolla 2.0 Xei com câmbio automático tem preço básico sugerido de R$ 79.990. O sedã também é vendido nas versões Gli 1.8, com câmbio manual (R$ 66.570); Gli 1.8, automático (R$ 69.990); e Altis, automático (R$ 92.900).
EQUIPAMENTOS DE SÉRIE
Controle automático de velocidade, econômetro, espelho retrovisor eletrocrômico, sistema multimídia com CD, DVD, MP3, rádio, navegação, Bluetooth e entradas auxiliar e USB e tela LCD do tipo touchscreen, retrovisores externos com indicador de direção, volante multifuncional, airbags frontais, laterais e de joelho (para o motorista), faróis de neblina, sistema Isofix para fixar cadeiras infantis, trava automática das portas acima de 20km/h, vidros verdes, computador de bordo, câmera de ré, chave do tipo canivete e trava, vidros e retrovisores com comando elétrico.
OPCIONAL
Não tem.
Notas (0 a 10)
- Desempenho: 8
- Espaço interno: 9
- Porta-malas: 8
- Suspensão/direção: 9
- Conforto/ergonomia: 8
- Itens de série/opcionais: 7
- Segurança: 8
- Estilo: 8
- Consumo: 8
- Tecnologia: 8
- Acabamento: 8
- Custo/benefício: 7
AVALIAÇÃO TÉCNICA
ACABAMENTO DA CARROCERIA
A qualidade final do acabamento da pintura não é boa, pois contém vários pontos com impurezas e imperfeições na preparação da chapa. As tampas do porta-malas e do capô têm boa montagem. As quatro portas têm montagem aceitável. As lanternas, faróis, para-choques, emblemas, grade dianteira e retrovisores apresentam boa montagem. REGULAR
VÃO DO MOTOR
O motor 2.0 16V preenche bem o vão e o acesso à manutenção é limitado a vários componentes. Quando aberto, o capô é sustentado por vareta manual e tem bom ângulo de abertura. O resultado do isolamento acústico é razoável em relação ao habitáculo com o motor em alta rotação. O vão tem aspecto limpo e organizado e os itens de verificação constante têm fácil verificação e manuseio. REGULAR
ALTURA DO SOLO
Não tem chapa protetora em aço para o cárter do motor e câmbio. Não ocorreram interferências com o solo numa condução mais prudente e atenta sobre piso irregular usual, saídas de garagem com desnível e na transposição de quebra-molas, inclusive com o veículo carregado. POSITIVO
CLIMATIZAÇÃO
Sistema é automático digital. Existem quatro difusores de ar no painel, com distribuição satisfatória. Mas faltam saídas específicas para os passageiros de trás. O nível de ruído de funcionamento está adequado (sete velocidades da caixa de ar) e o conjunto mostrou-se bem vedado na opção com somente recírculo interno de ar. Apresentou um bom funcionamento em geral. POSITIVO
FREIOS
O pedal de freio tem boa sensibilidade e relação. O ABS está bem calibrado e atuou com eficiência quando solicitado. Apresentaram bom comportamento dinâmico em geral. A desaceleração foi eficiente e sem alteração na trajetória, mesmo em frenagem de emergência em velocidade elevada sobre piso seco de asfalto e terra batida. O freio de estacionamento é por comando manual e atuou normalmente. POSITIVO
CÂMBIO
É o Multi Drive-S CVT, que tem modo sequencial de sete velocidades, podendo ser acionado através de toques na própria alavanca principal e, também, nas aletas incorporadas ao volante. Apresentou um ótimo funcionamento, em geral. No console central tem tecla com função “Sport” que altera o gerenciamento eletrônico do câmbio, permitindo uma melhor dinâmica ao automóvel. Proporciona uma dirigibilidade agradável, com muito conforto e sem trancos, além de boa resposta em kick down. POSITIVO
MOTOR
As retomadas de velocidade e aceleração são eficientes e rápidas para a cilindrada e peso do veículo. A dirigibilidade é prazerosa devido à união com o câmbio CVT, apresentando ganhos evidentes na performance quando se aciona a tecla Sport. Apresentou bom funcionamento e a partida a frio (que não tem reservatório independente com gasolina) com somente etanol no tanque foi imediata, com marcha lenta linear e aceleração progressiva, mesmo com o motor pouco aquecido. Apesar de ter o torque máximo (20,7kgfm) a 4.800rpm, a sua condução em baixo regime de rotação no uso urbano é positiva. POSITIVO
VEDAÇÃO
Boa contra água e poeira. POSITIVO
NÍVEL INTERNO DE RUÍDOS
O efeito aerodinâmico é contido, mesmo em alta velocidade. No habitáculo surgem vários ruídos, principalmente no painel/quadro de instrumentos quando se roda sobre piso de calçamento, asfalto mal conservado e estrada de terra. REGULAR
SUSPENSÃO
A estabilidade é boa devido à precisão no contorno de curvas feitas em velocidade usual e com pouca inclinação da carroceria. Numa condução bem esportiva, faltam os controles eletrônicos de estabilidade e tração em curvas de raios curto e médio, feitas no limite da aderência lateral. O conforto de marcha é satisfatório passando a aceitável quando o veículo está carregado. REGULAR
DIREÇÃO
A coluna de direção tem ajuste manual em altura e distância, com curso razoável. A assistência elétrica progressiva tem cargas bem definidas para o uso misto. A precisão na reta e em curvas é boa. A velocidade do efeito retorno e o diâmetro de giro satisfazem. POSITIVO
ILUMINAÇÃO
O grupo óptico dianteiro tem construção com duplo refletor e lâmpadas halógenas e o resultado final em iluminação é bom. No habitáculo existe uma lanterna na zona central do teto e outra bipartida junto ao retrovisor, que satisfazem. Luz de cortesia somente no porta-malas e porta-luvas. Não tem sensor crepuscular. Falta regulagem elétrica de altura do facho em função da carga transportada. REGULAR
LIMPADOR DO PARA-BRISA
Não tem sensor de chuva. A área de varredura é satisfatória e as palhetas são de boa qualidade. Ao esguichar água (dois jatos do tipo spray), o sistema de limpeza entra em operação automaticamente. O acesso ao reservatório de água instalado dentro do vão do motor é fácil. REGULAR
ESTEPE/MACACO
O estepe fica dentro do porta-malas, no fundo do assoalho e somente o pneu é igual aos de uso. A operação de troca é normal. O kit de troca está acondicionado ao lado do estepe. POSITIVO
ALARME
A chave de ignição é codificada e do tipo canivete. As quatro portas têm função um toque para descer/subir os vidros e o sistema antiesmagamento atuou com precisão. Existe proteção perimétrica das partes móveis, mas falta a volumétrica contra invasão, através da quebra dos vidros. Ao dar comando para travar as portas por controle remoto inserido na chave de ignição, os vidros sobem automaticamente se continuar pressionando a tecla. REGULAR
VOLUME DO PORTA-MALAS
O declarado é 470 litros, o mesmo encontrado na nossa medição.
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(*) Avaliações do engenheiro Daniel Ribeiro Filho, da Tecnodan.