De Oaxaca México - Repetir um ícone é tarefa ingrata. Ainda mais quando se trata da Asa de Gaivota, um modelo que não entrou apenas para a história da Mercedes-Benz, mas do próprio automóvel.
A primeira tentativa não foi das mais felizes: a Mercedes McLaren SLR, produzida de 2003 até 2009, foi um super-esportivo com muito desempenho mas que deixou a desejar em muitos itens. Grandalhão, desajeitado, com pouca visibilidade e muito caro, custava cerca de 400 mil euros na Europa, desembarcando no Brasil por cerca de R$ 2 milhões. A nova custa 180 mil euros lá, U$ 360 mil (cerca de R$ 670 mil) aqui.
E a Mercedes tem tudo para voar alto com sua nova "asa": batizada de SLS AMG, é uma releitura que faz jus ao modelo original, tanto na estética como na mecânica.
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Reeditar a 300 SL (nome oficial da Asa de Gaivota) não foi um trabalho penoso em termos de estilo, pois as linhas do modelo original, além de exótica e surpreendentes para um projeto de quase 60 anos, são modernas e apreciadas até hoje. A SLS AMG tem linhas super atualizadas, mas é quase uma cópia da "asa". O longo capô, a grade com a estrela central, a traseira curtinha, a carroceria arredondada e, obviamente, as portas se abrindo para cima.
A mecânica foi puro capricho, em todos os aspectos. Para reduzir peso e ganhar resistência, o alumínio foi usado em profusão. Aliás, a 300 SL também tinha sua carroceria em alumínio.
O motorzão V8 é fornecido pela AMG (departamento de produção de "feras" da Mercedes) e desenvolve 571cv. A caixa de marchas é do tipo DSG, com sete marchas e fica atrás, acoplada ao diferencial (limitado), para melhor distribuição de peso. A colocação do motor atrás do eixo dianteiro teve a mesma finalidade e o resultado foi excelente: 53% na frente e 47% atrás. A suspensão é sofisticada, com triângulos duplos na dianteira e traseira.
Voando baixo Ao contrário da SLR McLaren, a SLS AMG é extremamente prazerosa. As duas têm desempenho semelhante em termos de arrancada (menos de quatro segundos para chegar a 100km/h) e velocidade máxima (acima de 300 km/h). Mas a SLS é muito mais agradável, seja numa estradinha de asfalto razoável e sinuosa (como a Panamericana), seja numa boa rodovia de duas pistas. E até no trânsito urbano (o mexicano não é muito mais fluido do que o nosso...), pois é mais curta e tem melhor visibilidade que a SLR.
É espantosa a agilidade do carro e sua reação quando se pisa fundo no acelerador. Nas curvas, sejam de alta ou de baixa velocidade, o motorista tem o carro "na mão". Os sistemas eletrônicos de estabilidade e suspensão dão conta do recado até quando a opção é por retirá-los parcial ou totalmente: o carro transmite a sensação de esportivo e dá uma escorregada nas curvas. Mas quando a situação complica ou se pisa no freio, o computador percebe e retoma o controle da fera.
Entre os comandos no console, o da caixa de marchas permite várias opções, desde o completamente automático até o manual (com as aletas sob o volante) ou o misto, esticando mais ou menos as marchas. E a suspensão é também reprogramada conforme a opção do freguês.
O ronco do V8 é uma delícia e não deixa margem a dúvidas de que você está a bordo de um "avião". Tem até aerofólio traseiro que se levanta em função da velocidade ou ao comando do motorista.
Ruim para baixinho
Entrar e sair da SLS não exige o mesmo contorcionismo que a 300 SL original, pois as portas da versão moderna vão até quase o assoalho. Mas um ponto negativo é a dificuldade para se alcançar o puxador quando a porta está lá no alto: se eu que tenho 1,85m tive dificuldade, imagine a torcida dos baixinhos para que, um dia, elas sejam elétricas....
O porta-malas é pequeno (apenas 176 litros), como se espera de um super-esportivo. E, dentro do carro, não cabe nem uma maletinha.
Motorista e passageiro vão com extremo conforto. A ergonomia é excelente. Além dos ajustes (elétricos) tradicionais dos bancos, ambos permitem regulagem adicional de apoios laterais e dos rins.
A caixa de marchas do tipo dupla embreagem é tão agradável e eficiente quanto uma automática tradicional. Mas, em alguns raros momentos, quando se pisa fundo no acelerador, ela fica "pensando" qual marcha engatar. E o motorista pensando que o motor desligou...
No frigir dos ovos, a SLS AMG é um esportivo brilhante, a melhor Mercedes-Benz que já dirigi. E olha que eu já acelerei quase todas...
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Leia a segunda parte da matéria: Por que no México .
(*) Jornalista viajou a convite da Mercedes-Benz do Brasil