A JAC é a marca chinesa que menos investe na fórmula pronta do custo/benefício. Embora importe carros completos, o fabricante não cobra valor de pechincha como alguns conterrâneos, chegando relativamente próximo dos nacionais da mesma classe, descontando opcionais. O mesmo ocorre com o J5, sedã que chega para concorrer entre os médios. O preço pedido de R$ 49.900 enquadra o recém-chegado junto a modelos de acesso do segmento, como o Nissan Sentra e próximo de sedãs compactos mais caros, como o Honda City, mas abaixo de versões mais baratas do Fiat Linea e Ford Focus e bem distante dos medalhões Toyota Corolla e Honda Civic. Em tamanho, o J5 leva vantagem diante de rivais mais antigos, como o próprio Corolla, enquanto em itens de série fica no mesmo nível.
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Porém, o J5 se afasta da média do segmento em alguns quesitos. O motor é o menor do nicho. O 1.5 16V está no mesmo nível de rendimento dos 1.6 16V que equipam os sedãs médios mais baratos. Embora tenha comando variável de válvulas, que deveria dar uma mão nas baixas rotações, o motor pede por rotações mais altas para deslanchar os 1.315kg do J5. Ou seja, na hora das retomadas, não tem jeito: retomar em quinta não faz parte do vocabulário do J5, que pedirá a quarta ou até terceira marcha para acelerar. A alavanca de câmbio tem curso longo e engates algo ruidosos e imprecisos, principalmente nas trocas rápidas. Além de não ser flex, o J5 fica devendo o câmbio automático, lugar-comum entre os sedãs médios.
No lugar das rodas aro 16 em pneus 205/55 de série, o modelo testado veio com rodas aro 17 e pneus 215/45, que emprestam um ar pouco mais esportivo e uma dose extra de aderência. A suspensão independente nas quatro rodas entrega estabilidade em curvas. Porém, em velocidades mais elevadas, a direção pouco precisa ao centro ajuda a deixar a dianteira leve demais. Além disso, ao rodar sobre pisos esburacados, o conforto é quebrado pelos solavancos repassados pelo conjunto de rodagem superdimensionado. As frenagens, por sua vez, foram feitas de maneira equilibrada, auxiliadas pelo ABS.
ITALIANO A JAC não foge à cartilha dos chineses que procuram um estúdio italiano. Com linhas traçadas com a ajuda do estúdio Pininfarina, o J5 não emociona. Mas marca pontos na carroceria limpa com apenas um vinco à meia altura que parte dos para-lamas dianteiros e chega à traseira. Faróis não inovam em formato, enquanto as lanternas se destacam pelos LEDs. Por dentro, o nível de acabamento não emociona. Há superfícies macias, mas os materiais guardam imperfeições. Para tentar dar um pouco mais de requinte, o painel recorre a superfícies em preto laqueado. Na mesma intenção, o estofamento em veludo pode dar lugar a revestimento em couro (opcional). O espaço interno é na medida para quatro passageiros adultos e uma criança.
RUÍDOS O conforto acústico é quebrado pelo ruído do motor, que invade o habitáculo com maior força acima das 3.000rpm. As rodas mais esportivas em pneus de perfil baixo também ajudam a despertar uma série de ruídos parasitas rodando sobre pisos ruins. O quadro de instrumentos ostenta uma forte iluminação em azul que pede para ser diminuída, o que pode ser feito prontamente por um botão. O volante de grande diâmetro lembra peças da década de 1990 e tem ajuste apenas de altura, de acionamento rude.
Incompatível é a ausência de cinto de três pontos e encosto de cabeça para o passageiro central traseiro. Outros pontos estilo retrô que rendem críticas são o porta-malas sem recurso de rebatimento do encosto do banco traseiro, ausência de computador de bordo, sistema de som sem botões no volante e que exige cabo para USB e os pinos das portas. Faz falta também a oferta superior de itens de segurança, restritos ao trivial duplo airbag e freios ABS, porém sem incluir nem como opcionais bolsas laterais ou do tipo cortina, tampouco controles eletrônicos de estabilidade e tração. O JAC acena com a vantagem dos seis anos de garantia.
Emílio Camanzi também testou o JAC J5. Veja o vídeo:
Em busca de afinação apurada
Modelo perde pontos em quesitos dinâmicos por falta de um ajuste mais fino entre motor e estabilidade, enquanto motor sofre um pouco para carregar conjunto.
AVALIAÇÃO TÉCNICA
Acabamento da carroceria
As quatro portas estão desniveladas entre si e têm folgas fixas diferentes entre os dois lados. A tampa do porta-malas está desnivelada e descentralizada, e o capô desalinhado. A pintura tem bom acabamento. REGULAR
Vão do motor
O acesso à manutenção é razoável. O capô tem bom ângulo de abertura. Os itens de verificação constante têm fácil visualização e manuseio. O resultado da insonorização (capô e painel de fogo) é aceitável. POSITIVO
Altura do solo
Não houve interferências com o solo, numa utilização normal do veículo. Não tem de série chapa em aço para o cárter e câmbio. POSITIVO
Climatização
É automática digital. No painel são quatro os difusores de ar, sendo os da extremidade com formato circular que giram 360º. Na extremidade do console central tem difusor para os passageiros de trás com vazão razoável. Apresentou um bom funcionamento e boa vedação. Não tem opção de regulagem diferenciada de temperatura para condutor e passageiro. POSITIVO
Freios
Tem ABS bem calibrado. O freio de estacionamento atuou normal. O pedal de freio tem sensibilidade satisfatória. Apresentaram reações uniformes nos dois eixos, desaceleração eficiente pelo espaço percorrido até parar e com manutenção da trajetória. POSITIVO
Câmbio
As relações de marchas/diferencial são aceitáveis em função da dinâmica no veículo com esta motorização e peso. A qualidade de engate é prejudicada pela eventual falta de precisão nas trocas rápidas, engates secos com ruídos e curso um pouco longo da alavanca, além da rumorosidade de funcionamento de trambulador. REGULAR
Motor
A sua performance é discreta com aceleração e retomadas de velocidade apenas aceitáveis. A rumorosidade de funcionamento não é baixa (estridente) em alta rotação. O torque máximo (15,5 kgfm a 4.000rpm) atua em uma rotação elevada pela arquitetura do cabeçote. Abaixo disso a dinâmica é mais contida. Não há opção flex e, mesmo com comando variável, a alteração do rendimento é pouco sentida. REGULAR
Vedação
Boa contra água. POSITIVO
Nível interno de ruído
Os ruídos no habitáculo são vários e incomodam bem, mas o efeito aerodinâmico é baixo. REGULAR
Suspensão
Estão mal desenvolvidas e calibradas para a proposta desta versão pelo excesso de aspereza e pelo alto nível da transferência das imperfeições do solo para dentro, principalmente pelo eixo traseiro, que também não é silencioso. A utilização de pneus da série 45 e a pressão deles com 37 libras nas quatro merecem ser revistas. A estabilidade agrada pela pouca inclinação da carroceria, e boa precisão em curvas de raios variados, nas quais os pneus contribuem bastante. REGULAR
Direção
A caixa de direção não é silenciosa e transfere vibrações para a coluna de direção, que também se transforma em ruídos. O curso em altura da coluna de direção é limitado para cima e o volante tem pega razoável. A precisão na reta e em curvas é boa. O diâmetro de giro satisfaz, e a velocidade do efeito/retorno é aceitável. REGULAR
Iluminação
Há luz de cortesia no porta-malas, porta-luvas e para-sóis. Não tem sensor crepuscular. Os faróis têm dupla parábola, auxílio discreto de faróis de neblina embutidos no para-choque, com o resultado satisfatório em iluminação, além de contar com regulagem elétrica de altura. O quadro de instrumentos e o console central têm fácil leitura dia/noite. No teto há uma lanterna no centro e dois spots fixos junto ao retrovisor.POSITIVO
Limpador do para-brisa
Não tem sensor de chuva. São quatro os esguichos no para-brisa, com vazão e pressão satisfatórias. As palhetas apresentaram boa qualidade e varrem uma área razoável. É fácil o acesso ao reservatório d’água dentro do vão motor. POSITIVO
Estepe/ macaco
O estepe tem a roda em aço e o pneu diferente dos de uso, em medidas e especificações técnicas. Não tem porca autoadaptadora antifurto. A operação de troca é normal, mas ao utilizar o estepe em qualquer eixo, principalmente em uma viagem, o veículo terá o seu comportamento dinâmico alterado, e não tem etiqueta alertando da velocidade máxima (80km/h), além de obrigar o conserto, se possível, o mais breve do conjunto roda/pneu. NEGATIVO
Alarme
A chave de ignição é codificada. Há proteção perimétrica somente para as quatro portas (capô e tampa do porta-malas não têm) e não tem a volumétrica contra a invasão pela quebra dos vidros. Existe função um toque somente para descer o vidro do condutor. REGULAR
Volume do porta-malas
O declarado pela fábrica é de 415 litros, o mesmo encontrado na nossa medição.
(*) Avaliações do engenheiro Daniel Ribeiro Filho, da Tecnodan.
Palavra de especialista
Falta experimentação e cilindrada
DANIEL RIBEIRO FILHO
ENGENHEIRO
Faltou qualidade na montagem dos vários componentes do habitáculo pelo excesso de ruídos, causando desconforto auditivo. A tropicalização do automóvel foi mal desenvolvida pela baixa qualidade do piso urbano e de rodovias do Brasil. A calibração das suspensões está mal definida pelo desconforto a bordo para todos os ocupantes. A homologação do pneu de uso opcional na medida 215/45 ZR 17W (W é o índice de velocidade para máxima de 270km/h), para um sedã médio com motor de baixa potência, é um desperdício no custo do automóvel. Faltou também uma melhor definição na calibragem dos pneus, seja com somente condutor ou com carga máxima. O sistema de direção precisa ser revisto pela rumorosidade elevada produzida pela caixa de direção com transferência direta para a coluna de direção/ volante/ habitáculo, causando sensação de fragilidade para um veículo com apenas 2 mil quilômetros rodados. O conjunto motor/câmbio (relação de marchas/diferencial) tem rendimento prejudicado em relação ao peso e com ar-condicionado ativado. O porta-malas tem bom volume, e o pacote de equipamentos de segurança de série satisfaz para o seu segmento de mercado. A habitabilidade é satisfatória para quatro adultos de boa estatura. Enfim, o J5 tem belo desenho da carroceria e harmonia do conjunto de faróis, lanternas, para-choque, etc.
FICHA TÉCNICA
MOTOR
Dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 1.499cm³ de cilindrada, que desenvolve 125cv de potência máxima a 6.000rpm e 15,5kgfm de torque a 4.000rpm
TRANSMISSÃO
Tração dianteira, com câmbio manual de cinco marchas
DIREÇÃO
Do tipo pinhão e cremalheira, com assistência hidráulica
SUSPENSÕES/RODAS/PNEUS
Dianteira, independente, do tipo McPherson, com barra estabilizadora; e traseira independente do tipo Dual-link, com rodas 215/45 aro 17 (opcional)
FREIOS
Discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira
CAPACIDADES
Tanque, 57 litros; de carga (ocupantes e bagagem), 375kg
EQUIPAMENTOS
DE SÉRIE
Conforto/conveniência – ar-condicionado digital, direção hidráulica, trio elétrico, sistema de som CD/MP3 com entrada auxiliar, coluna de direção e banco do motorista ajustáveis em altura, destravamento interno da tampa de combustível e do porta-malas, faróis com regulagem de altura, bancos em veludo, volante revestido em couro, sensor de estacionamento traseiro.
Aparência – Rodas de liga leve aro 16, para-choques, maçanetas e retrovisores na cor do veículo.
Segurança – Duplo airbag frontal, freios ABS com EBD, dois encostos de cabeça e dois cintos de três pontos traseiros, sistema de alarme.
OPCIONAIS
Revestimento interno em couro e rodas aro 17.
NOTAS (0 A 10)
Desempenho 6
Espaço interno 8
Suspensão/direção 6
Conforto/ergonomia 7
Itens de série/opcionais 8
Segurança 7
Estilo 8
Consumo 8
Tecnologia 7
Acabamento 6
Custo/benefício 7
QUANTO CUSTA
O JAC J5 custa R$ 49.990 na versão básica e completo, sai por R$ 54.480. Curiosamente, quem quiser o carro no tom branco sólido como o testado terá que pagar os mesmos R$ 1.290 da pintura metálica. Deve ser o preço da moda.