Quem teve contato apenas com a primeira leva de carros chineses que chegaram ao Brasil e ficou impressionado com a falta de qualidade do acabamento e dos materiais utilizados, deve dar uma olhada nos dois modelos, o hatch J3 e o sedã J3 Turin, que a Jianghuai Automobile Co., (representada no Brasil pelo Grupo SHC, do empresário Sérgio Habib) está trazendo. A impressão é de que se trata de uma segunda geração, ou seja, uma evolução. Além de um produto bastante competitivo, a JAC Motors, que inaugurou simultaneamente 50 concessionárias no último dia 18, também entra na briga com uma estratégia de marketing bastante agressiva: seis anos de garantia para os proprietários que fizerem revisões a cada cinco mil quilômetros, assistência 24 horas por dois anos depois da compra (parceria com a seguradora Porto Seguro) e a promessa dos menores preços de revisão do mercado.
O vídeo abaixo mostra a apresentação oficial da JAC no Brasil:
ESTILO Embora ainda sejam principiantes no cenário automotivo global, os chineses já aprenderam a importância do visual. E, assim como outras marcas daquele país, a JAC Motors recorreu aos italianos para traçar as linhas dos seus veículos: criou um centro de design em Turim e fez uma parceria com o estúdio Pininfarina. Embora sem nenhuma ousadia, o resultado foi bastante equilibrado. Na frente, os dois faróis puxados para cima se harmonizam com o U que corta o para-choque e com a grade bem discreta. De perfil, destacam-se os ressaltos nos para-lamas e a moldura superior dos vidros em forma de arco. Na traseira, as linhas também são limpas e as lanternas lembram às do Renault Sandero. O acabamento externo é bem melhor do que aquele presente nos modelos expostos no Salão de São Paulo do ano passado.
POR DENTRO Para desenhar o interior, a JAC lançou mão do centro tecnológico que mantém no Japão, criado para pesquisar soluções no uso de materiais. Parece que deu resultado, pois a primeira impressão é de que o acabamento interno também está no mesmo nível dos concorrentes nacionais. Não existem rebarbas e o material não é pior do que aquele usado no Palio, por exemplo. O habitáculo mistura tons de preto (presente nos revestimentos dos bancos, painel e painéis de porta) com detalhes em plástico cinza imitando metal (na moldura do rádio CD Player e dos comandos do ar-condicionado) e imitando cromado (nas saídas do sistema de climatização. A iluminação azul do painel é eficiente e bonita, mas o conta-giros no meio do velocímetro e o ponteiro do marcador de combustível (que caminha na direção oposta do normal e falha algumas vezes) são confusos. Outro ponto negativo: trava só no pino da porta.
CONFORTO O J3 proporciona conforto para quatro adultos. É fácil encontrar uma boa posição de dirigir, pois a coluna de direção regula em altura. Três viajam no banco traseiro, mas muito apertados. Como o banco fica praticamente em cima do eixo traseiro, o acesso é um pouco difícil. A capacidade do porta-malas (de 350 litros) é compatível com a de um hatch deste tamanho. Mas seu grande apelo é a extensa lista de equipamentos. Quem olha apenas a relação dos itens de série do J3, compra sem vacilar, pois nenhum concorrente no Brasil oferece um pacote tão completo (veja lista de equipamentos) por R$ 37.900. A suspensão, que é independente (dual link) no eixo traseiro (em vez de torção, como nos outros do segmento) e usa amortecedores Hitachi Tokico, proporciona boa estabilidade, mas não absorve bem as irregularidades do piso.
RODANDO Embora a JAC não seja honesta com a cilindrada, que deveria ser chamada de 1.3 e não de 1.4, o motor é. Desenvolvido em parceria com a austríaca AVL, ele tem bloco e cabeçote em alumínio, comando variável de válvulas e proporciona fôlego suficiente para um bom desempenho, tanto na estrada como na cidade, embora seja preciso manter os giros em alta para extrair toda sua força. O ponto fraco é que consome apenas gasolina, embora seja bastante econômico. O flex só chega em 2012. O câmbio é manual e tem relações de marcha bem escalonadas, mas falta precisão e maciez aos engates. A direção tem boa calibragem, seja nas manobras como em alta velocidade.
Confira a galeria completa de fotos do JAC J3 Hatch!
VEREDICTO Nenhum modelo no Brasil vem de série com o que o J3 oferece em termos de equipamentos de conforto e segurança. E o acabamento parece estar no mesmo nível dos concorrentes nacionais. Tudo bem, tudo certo, mas ainda restam algumas dúvidas. Como será a assistência técnica desses carros? Como eles vão reagir às condições brasileiras, tanto das estradas quanto dos combustíveis (nossa gasolina tem álcool)? E a durabilidade? E a questão da segurança passiva, já que os JAC não foram submetidos aos rigorosos crash-tests europeus?
Artimanhas do chinês
Motor do novo hatch J3 é destaque, mas engates do câmbio poderiam ser mais precisos.
O programa Vrum mostrou um pouco do J3 na chegada da JAC no Brasil, como mostra a reportagem de Sérgio Melo:
AVALIAÇÃO TÉCNICA
ACABAMENTO DA CARROCERIA
A folga fixa das portas dianteiras, em relação ao para-lamas, é diferente nos dois lados. A pintura apresenta má qualidade na aplicação do verniz e tonalidade da tinta em relação à carroceria, na porta traseira esquerda, na união com o teto, e também no para-choque traseiro. A porta traseira esquerda tem montagem satisfatória, mas as três restantes estão desniveladas. A tampa traseira está bem montada, assim como o capô. As portas não têm friso protetor. Os faróis, lanternas, retrovisores, para-choques, spoilers, pestanas e emblemas têm boa montagem. REGULAR
VÃO DO MOTOR
Mesmo com isolante acústico na parte interna do capô e térmico/acústico no painel de fogo, o resultado do isolamento acústico é ruim. O motor preenche bem o vão, mas o acesso à manutenção é razoável. Os itens de verificação permanente têm fácil visualização e acesso. Quando aberto, o capô é sustentado por vareta manual e tem bom ângulo de abertura. REGULAR
ALTURA DO SOLO
Existe proteção parcial com chapa plástica, de resistência limitada, para a zona frontal e lateral inferior do conjunto motopropulsor, e uma barra em aço estreita em toda a zona central. Não foram notadas interferências com o solo numa utilização usual. POSITIVO
CLIMATIZAÇÃO
É por comando manual. Os quatro difusores de ar do painel têm formato circular e as aletas giram 360 graus. Apresentou bom funcionamento e está bem vedado. O nível de ruídos de funcionamento é satisfatório. Não há difusor de ar especifico para os passageiros de trás, nem regulagem de temperatura diferenciada para condutor e passageiro. POSITIVO
FREIOS
O mecanismo do sistema de freio de mão é áspero no seu funcionamento, em extensão. O pedal de freio tem pouca sensibilidade e é necessário pressioná-lo mais forte para uma desaceleração mais eficiente. O ABS tem pequeno retardo de resposta. O conjunto pastilhas/discos/pinças dianteiro apresentou ruído metálico quando se trafega sobre piso de paralelepípedo e asfalto danificado. REGULAR
CÂMBIO
A embreagem é macia, tem bom curso e progressividade. O trambulador é barulhento e incomoda o seu funcionamento seco/metálico. A qualidade de engate é aceitável, mas ocorrem algumas incertezas (precisão e maciez). A pega no pomo é boa e o curso da alavanca, razoável. Levando-se em conta a curva do motor com arquitetura multiválvulas (torque máximo em alta rotação 4.500rpm) e o peso, as relações de marchas/diferencial são razoáveis. Em 3ª marcha e a 60km/h o motor gira a 3.000rpm. O mesmo ocorre em 5ª, a 100km/h. REGULAR
MOTOR
Merece destaque a performance e curva (potência/torque x rpm) para a cilindrada de 1.332cm³. A arquitetura é moderna e inédita no país para motor de baixa cilindrada. Devido ao peso do veículo, as retomadas de velocidade e aceleração são eficientes a partir de 3.500rpm, fazendo uso do ar-condicionado. Em rotação mais alta (a partir de 4.000rpm) e com sistema VVT (comando variável) atuando na sua fase maior, nada fica a dever em rendimento para um motor 1.6. No uso urbano, em baixa velocidade/rotação, com carro carregado e ar-condicionado ligado, e rodando numa topografia bem irregular, é apenas aceitável a sua dirigibilidade em algumas situações. O nível de funcionamento é aceitável para um multiválvulas. Para o automóvel ter dinâmica mais eficiente no uso misto (cidade/ estrada), deve-se manter o giro mais elevado e trabalhar bem com o câmbio. POSITIVO
VEDAÇÃO
Boa contra água. POSITIVO
NÍVEL INTERNO DE RUÍDO
O efeito aerodinâmico é evidente a partir de 100km/h e crescente com a velocidade. Ao trafegar sobre piso de calçamento, terra e asfalto ruim, surgem vários ruídos no habitáculo. NEGATIVO
SUSPENSÃO
Mereciam melhor tropicalização para uso no Brasil devido à qualidade limitada de várias rodovias e ruas urbanas, pois não filtram bem as imperfeições do solo, transferindo-as para dentro. A suspensão traseira com dual-link é inédita no segmento. O conforto de marcha é aceitável, mas poderia ter uma calibração mais refinada, assim como a definição da pressão dos pneus quando roda apenas o condutor. A estabilidade direcional é boa, assim como a precisão no contorno de curvas com inclinação moderada da carroceria, mesmo numa condução normal/esportiva leve. REGULAR
DIREÇÃO
Coluna de direção tem ajuste em altura, com um bom curso. O volante tem pega aceitável devido ao diâmetro do aro (mais fino) e à textura do material de revestimento, que é mais liso. Os pneus têm pressão única com 32 libras nas quatro, seja vazio ou carregado. O diâmetro de giro é bom, assim como o efeito/retorno. A precisão na reta e em curvas é satisfatória. O conjunto apresentou nível baixo de ruído em curvas sobre piso irregular. POSITIVO
ILUMINAÇÃO
Os faróis de neblina estão desregulados no foco. Não tem nenhuma luz de cortesia, somente luz de advertência na cor vermelha, quando as portas dianteiras estão abertas, para sinalizar para quem está vindo atrás. Os faróis têm refletor único, auxilio de faróis de neblina e regulagem elétrica de altura em função da carga transportada. A sua eficiência é normal. No habitáculo há uma lanterna integrada com dois spots fixos na zona anterior do teto. O quadro de instrumentos tem iluminação permanente, o mesmo não ocorrendo com os interruptores elétricos instalados nos painéis de porta, mesmo com os faróis ligados. O sistema não tem sensor crepuscular. REGULAR
LIMPADOR DO PARA-BRISA
Não tem sensor de chuva. No para-brisa são quatro esguichos, que têm vazão e pressão razoáveis, que, quando acionados, ativam o sistema de varredura, com palhetas de boa qualidade. Mas deixa grande área sem limpar do lado do condutor, junto à coluna A, prejudicando o campo de visão. No vidro traseiro, o esguicho é ineficiente devido ao posicionamento e à baixa vazão de água, o que faz com que a palheta trabalhe mais seca, danificando o vidro e deixando a área turva. Mesmo sob chuva forte, a palheta traseira trepida e é barulhenta. NEGATIVO
ESTEPE/MACACO
O estepe está instalado dentro do porta-malas, no assoalho, e é específico para pequenos deslocamentos com velocidade limitada. Essa solução não é prática nem funcional no Brasil, pois altera o comportamento dinâmico do automóvel, o ritmo da viagem e obriga a um rápido conserto, nem sempre possível. Os cubos de roda estão equipados com quatro prisioneiros fixos, o que facilita muito numa troca, principalmente à noite. Os pneus de uso têm medida 185/60 R15 e o estepe, T135/70 R16. REGULAR
ALARME
A chave de ignição é codificada e tem teclas de abrir e fechar as portas (trava elétrica) inseridas na mesma. Não tem proteção perimétrica das partes móveis, contra abertura forçada, nem volumétrica, dentro do habitáculo, contra invasão pela quebra dos vidros. Ao dar comando para travar as portas, os vidros não sobem automaticamente. REGULAR
VOLUME DO PORTA-MALAS
O declarado pela fábrica é 350 litros, e o encontrado foi 258 litros, com a tampa do bagagito fechada e apoiada nos suportes laterais, o banco traseiro na posição normal e o triângulo dentro do vão.
Avaliações do engenheiro Daniel Ribeiro Filho, da Tecnodan.
Pente fino no compacto
FICHA TÉCNICA
MOTOR
Dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 1.332cm³ de cilindrada, 16 válvulas, comando de válvulas variável, que desenvolve 108cv de potência a 6.000rpm e 14,08kgfm de torque a 4.500rpm
TRANSMISSÃO
Tração dianteira e câmbio manual de cinco marchas
SUSPENSÃO/RODAS/PNEUS
Dianteira, independente, do tipo McPherson, com barra estabilizadora; e traseira, independente, tipo dual link / rodas de liga leve de 15 polegadas / 185/60 R15
DIREÇÃO
Do tipo pinhão e cremalheira, com assistência hidráulica
FREIOS
A disco ventilado na dianteira e tambor com sapatas autoajustáveis, com ABS e EBD
CAPACIDADES
Tanque, 48 litros; de carga (passageiros e bagagem), 440 quilos
EQUIPAMENTOS
DE SÉRIE
Conforto/conveniência – Vidros, retrovisores e travas com acionamento elétrico, faróis com regulagem elétrica de altura, para-sol com espelho de cortesia, porta-revistas no costado dos bancos dianteiros, banco traseiro bipartido, chave com destravamento remoto das portas, sensor de estacionamento traseiro, porta-copos, antena impressa no para-brisa, coluna de direção com regulagem de altura, direção hidráulica, ar-condicionado, CD Player com entrada USB e seis alto-falantes e abertura interna do bocal do tanque de combustível.
Segurança – Faróis e luzes de neblina, terceira luz de freio, protetor de cárter, airbag frontal duplo, alarme antifurto, travamento automático das portas a 15km/h, freios ABS com EBD (distribuição eletrônica da força de frenagem).
Aparência – Iluminação azul do painel de instrumentos e rodas em liga leve de 15 polegadas.
OPCIONAL
Pintura metálica.
NOTAS (0 A 10)
Desempenho 8
Espaço interno 8
Suspensão/direção 7
Conforto/ergonomia 7
Itens de série/opcionais 9
Segurança 8
Estilo 8
Consumo 8
Tecnologia 8
Acabamento 8
Custo/benefício 9
QUANTO CUSTA
O JAC J3 tem preço básico sugerido de R$ 37.900. Com pintura metálica, sobe para R$ 38.800. Já o sedan (J3 Turin), que tem a mesma lista de equipamentos, custa R$ 39.900 e R$ 40.800 (com pintura metálica).