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Spam - Mentiras repassadas

Mitos sobre uso de motor flex, exageros dos riscos do uso do ar-condicionado e celular no carro são disseminados por e-mail. Quem acredita em tudo tende a levar prejuízo

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Uma esquete - pequena cena de programa de rádio ou tevê de caráter cômico - do grupo inglês Monty Phyton, apresentada pela primeira vez em 1970, deu origem ao termo Spam. A cada pedido de um casal uma garçonete listava entre os pratos a palavra spam (abreviatura para spyced ham, presunto apimentado, em português). Da falta de variedade no cardápio, a piada evolui para o nonsense típico do grupo e um coral viking entra em cena entoando em coro a palavra Spam. Quando as caixas de e-mail passaram a ser abarrotadas com mensagens disparadas para múltiplos destinatários, a referência ao presunto apimentado foi uma solução para nomeá-los. Entretanto, essas mensagens estão longe da inocência do humor inglês. Muitas vezes quando interpretadas ao pé da letra podem levar o internauta a erros e, consequentemente, a prejuízos.

Duas mensagens eletrônicas que são corriqueiras dizem respeito ao uso dos motores flex. Uma explica que a fórmula mágica para conseguir o melhor consumo é usar uma mistura com 70% de gasolina e 30% de álcool. Outra, que inclusive é repetida em oficinas e até concessionárias, informa que nos primeiros 1 mil quilômetros os veículos flex devem ser abastecidos somente com gasolina. O presidente da diretoria executiva da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), José Edson Parro desqualifica essas informações: "Não tem nada a ver e nem é tecnicamente provável".

Parro trabalhou 30 anos na GM e se lembra de outros mitos que surgiram junto com evoluções técnicas, como na época da injeção eletrônica. "Os primeiros sistemas de injeção exigiam gasolina de melhor qualidade, pois a gasolina começou a carbonizar os bicos de injeção. À época contratamos pessoal dos EUA, que recomendou colocar uma espécie de detergente para dispersar na gasolina, que removeria o carbono do bico, e essa gasolina começou a ser chamada de aditivada. Porém, tinha concessionário que não usava isso de jeito nenhum, se apegava a boatos de que não era bom para o carro", lembra Parro. A solução para acabar com esse tipo de atitude, na opinião de Parro, é treinar bem o concessionário e os mecânicos, para que assim todos fiquem bem informados. Já para o consumidor, o fundamental é ler bem o manual de instrução para esclarecer as dúvidas.

Saúde

Porém, os Spam?s podem afetar mais do que o bolso e atingir aspectos da saúde. Um e-mail desse tipo discorre sobre riscos do ar-condicionado em tom alarmista. Recomenda que ao entrar no carro é preciso abrir as janelas e não ligar o ar-condicionado. O texto se refere a pesquisas, mas não cita nenhuma fonte, e afirma que o painel, assentos e sistema de refrigeração emitem benzeno, que é uma toxina causadora de câncer. Depois, cita uma série de dados sobre os níveis de benzeno e diz que, se o carro estiver estacionado ao sol, a uma temperatura superior a 16°C, o nível de benzeno sobe para 40 vezes a mais que o aceitável, o que leva as pessoas a respirar uma quantidade enorme de toxinas.

A médica Valéria Maria Augusto, presidente do Departamento de Pneumologia da Associação Médica de Minas Gerais (CAMMG), explica que o benzeno é tóxico, mas não conhece relato de doença associada a esse elemento nessas circunstâncias, que provavelmente ocorrem por curtos períodos de tempo. A médica ressalta que é prudente abrir as janelas antes de ligar o carro, o que melhora a qualidade de circulação do ar. Porém, ela pondera que o medo gerado pela violência, principalmente nas grandes cidades, impede que as pessoas tomem essa atitude sempre. Outro aspecto ressaltado pela presidente do Departamento de Pneumologia da AMMG é a baixa qualidade da higienização dos sistemas de ar-condicionado, apesar dos filtros.

Bum

Outro e-mail que mira o motorista diz respeito ao uso de celular nos postos de combustível, com relatos de explosões provocadas pelo uso do telefone móvel. A BR Distribuidora encomendou estudo sobre a real possibilidade e constatou que ela existe, mesmo que pequena. Para que isso aconteça, é preciso que a mistura do vapor de gasolina e ar, em uma proporção entre 1,3% e 6%, entre no aparelho. Se isso acontecer e o aparelho vibrar ou tocar, pode gerar uma centelha elétrica, que serve de ignição. A chance é maior nos aparelhos mais antigos e em baterias com folgas.