Um sonho de Ratan Tata era produzir o carro mais barato do mundo. Foi realizado, mas logo virou pesadelo. Ratan é o poderoso chefão do gigantesco grupo indiano Tata. No setor de automóveis, além da Tata Motors, comprou a divisão de caminhões da coreana Daewoo e também as inglesas Jaguar e Land Rover.
Na Índia, uma família se aboleta sobre uma moto e a ideia da Tata é substituí-la por um Nano, que foi anunciado por US$ 2.500, mas acabou custando mais que US$ 3 mil. As previsões de Ratan foram super otimistas, pois estimou vender 500 mil automóveis por ano, mas, acaba de atingir as 100 mil unidades desde seu lançamento há 18 meses. O interesse pelo carro despencou entre os indianos por diversos problemas. Em primeiro lugar, pela precariedade da rede de concessionárias nas regiões mais pobres, onde se concentraria a maior parte dos compradores. Além disso, vários carros se incendiaram, queimando sua imagem.
As pretensões de exportação do Nano se esvaíram pelos elevados custos para equipá-lo com itens de conforto e segurança. Tanto que, no último Salão de Genebra, o Nano nem foi exposto no estande da marca.
PROJETO O motor vai lá atrás. Sobre ele, o reduzido (e bota reduzido nisso) porta-malas. Para baratear o projeto, não tem tampa traseira. Isso significa que qualquer operação de manutenção no motor ou de carga e descarga de bagagem tem que ser feita pelo interior do automóvel. Praticidade mandou lembrança! Sob o capô? Lá na frente, só estepe, reservatórios de água e fluido de freio. E olhe lá. Como é muito leve (600kg), o consumo é baixo: a Tata declara 20km/l.
AO VOLANTE Dirigi um Tata Nano. O carro é bem espaçoso, motorista e passageiros se acomodam em assentos elevados, como no Classe A. Mas é de simplicidade franciscana no acabamento, encaixes, materiais, painel, comandos etc. Ergonomia passou distante do projeto. Foi literalmente pensado para dar mais conforto que uma moto, e ponto final. O motorzinho de dois cilindros (0,66 litro, 33cv) é suficiente para levá-lo aos 100km/h. E, numa rampa forte e carregado, o Nano não arranca. Nada de tentar passear com ele em Ouro Preto. A aceleração de zero a 100km/h não é aferida por cronômetro: melhor usar um calendário.
Na reta anda bem, mas a sensação de insegurança com seus galeios se confirma nas curvas, pois a carroceria inclina e a sensação vira quase certeza. O câmbio só tem quatro marchas, mas é bem legal, macio e justo. Freios existem, funcionam, mas não queira exigir muito.
O modelo avaliado tinha alguns extras, como vidros elétricos, freio assistido (eu nem sabia que ainda tinha carro sem o hidrovácuo) e ar-condicionado. Para ser exportado, teria que oferecer os equipamentos básicos de segurança como airbag e freios ABS. Mas aí seu preço se aproximaria de U$ 6 mil (R$ 10.500). Somando os impostos brasileiros, o modelo desembarcaria aqui próximo dos R$ 20 mil reais.
Nano no Brasil?
Pouco provável: até pela parceria com o grupo Fiat já se imaginou a possibilidade da Tata Motors vir para o Brasil e fabricar o Nano em Minas Gerais. Seria uma das hipóteses.
Mas o brasileiro não compra automóvel muito simples, com pouco espaço interno e porta-malas reduzido: a maioria dos nossos subcompactos é o único carro da família. É por isso que a Fiat não faz aqui o Panda e a Renault nem pensa no pequeno Twingo.
Mas a Tata anunciou suas intenção de fabricá-lo no México. Como as importações de lá não são taxadas no Brasil...