Quando se fala no sistema de partida a frio adotado nos carros flex, logo se imagina que ele só foi desenvolvido para facilitar o funcionamento do motor quando abastecido com etanol e nos dias com temperaturas baixas. Ledo engano! Apesar de ser considerado um atraso, pois o tanquinho já deveria ter sido extinto, o sistema evoluiu nos últimos anos e, em alguns casos, é acionado mesmo quando o tanque está abastecido com gasolina, para evitar o envelhecimento do combustível armazenado no compartimento auxiliar. Porém, nem todas as montadoras adotam esse sistema.
A polêmica em torno do assunto surgiu quando a maior parte dos consumidores, proprietários de carros flex, deixaram de abastecer com etanol devido ao preço não muito atraente do combustível. Com isso, muitos passaram a usar somente o derivado do petróleo, mas se viram diante do problema com o reservatório do sistema de partida a frio, que é abastecido com gasolina. Se o cidadão não abastece o carro com etanol, então que sentido faz encher o tanquinho? Não seria necessário. E se a gasolina ficar muito tempo no tanquinho não vai envelhecer?
A questão deve ser avaliada de formas diferentes. Primeiramente, se o sistema de partida a frio não for abastecido, certamente causará ressecamento e consequentes trincas em seus componentes. E assim no próximo abastecimento poderá ocorrer vazamento de combustível. Porém, se a gasolina do pequeno reservatório não for usada, vai envelhecer e causar problemas ao sistema, entupindo as vias de alimentação. Diante disso, algumas montadoras buscaram soluções para os dois problemas.
OXIDAÇÃO Os modelos da Fiat usam sistema de partida a frio que injeta o combustível do tanquinho em alguns momentos, mesmo em dias quentes e com o tanque principal abastecido com gasolina. O objetivo é não permitir a oxidação do combustível ali armazenado. Com isso, o reservatório poderá ser sempre abastecido e a gasolina não ficará velha.
A Honda informa que a injeção de gasolina do sistema de partida a frio de seus modelos flex ocorre em temperaturas abaixo de 20 graus. A quantidade de combustível injetado vai depender do percentual de etanol no tanque principal. Com 100% de etanol, o sistema injeta de 10cm³ a 15cm³ de gasolina. Já em temperaturas acima de 20 graus a injeção de gasolina é dispensável, mesmo com 100% de etanol. Porém, segundo a montadora, há injeção de 0,5cm³ de gasolina em todas as partidas, para evitar a deterioração do combustível no tanquinho.
A Volkswagen informa que o sistema de partida a frio de seus modelos só injeta com etanol no tanque e em temperaturas mais baixas. Mas, se houver mistura de etanol com gasolina, dependendo das condições, pode injetar também. Os carros da Renault só injetam com etanol no tanque e com temperatura abaixo de 15 graus. A Ford revela que o reservatório de partida a frio somente é acionado quando a proporção do etanol no tanque está acima de 85% e a temperatura abaixo de 18 graus.
Nos modelos da General Motors, o sistema só injeta gasolina quando estiver com etanol no tanque e com temperatura abaixo de 16 graus. Já com 80% de etanol e 20% de gasolina, o sistema só é acionado com temperaturas inferiores a 3 graus. Só com gasolina no tanque não há acionamento do sistema de partida a frio. Os modelos da Kia com motor flex não injetam combustível do tanquinho quando abastecidos com gasolina, e com etanol só o fazem com temperatura abaixo de 20 graus.
Os modelos do grupo PSA, leia-se Citroën e Peugeot, usam sistema de partida a frio que é acionado quando a temperatura do motor está abaixo de 18 graus e o tanque principal com mais de 80% de etanol. No caso da família 207 da Peugeot, com motores 1.4 e 1.6, o tanquinho tem capacidade reduzida de 450ml, para que o consumo seja rápido, evitando o envelhecimento do combustível. A Hyundai tem apenas o ix35 com motor flex e o sistema de partida a frio só injeta com temperaturas baixas e etanol no tanque principal. A Nissan informa que o sistema de partida a frio dos motores de seus modelos apenas injeta gasolina do subtanque quando necessário, levando em conta o combustível e a temperatura.
Enquanto isso...
...JÁ VEM QUENTINHO
Para eliminar o reservatório auxiliar do sistema de partida a frio, a Bosch desenvolveu o Flex Start, que estreou no Volkswagen Polo E-Flex, em 2009. O sistema identifica a temperatura ambiente e, ao ser acionado, aquece o combustível por meio de resistências que ficam antes das válvulas injetoras. Isso faz com que a partida seja eficiente e ainda evita que o carro apresente oscilações de marcha lenta nos primeiros minutos de funcionamento. Caso a temperatura seja superior aos 14 graus, o sistema não é acionado. Recentemente, o mesmo sistema da Bosch passou a ser usado no Peugeot 308 e no Citroën Aircross, ambos equipados com motor 1.6. Porém, com uma evolução em relação ao usado no modelo VW: traz a função Wake-up, que começa a aquecer o combustível assim que o motorista abre a porta do carro. Neste exato momento a central eletrônica identifica a temperatura e a proporção de etanol no tanque antes mesmo de a chave de ignição ser virada. Uma luz no painel indica quando o aquecimento do combustível foi concluído e só depois disso o sistema permite dar a partida. A divisão automotiva da Continental também está desenvolvendo um sistema de partida a frio sem o tanquinho. Um Ford Focus III equipado com o sistema foi flagrado pelo caderno Vrum na região de Betim.