Na hora de voar, a maioria dos passageiros está preocupada apenas em chegar ao destino da maneira mais descomplicada e rápida possível. Além de todo o aparato de serviço às aeronaves e passageiros, os aeroportos também devem estar preparados para emergências. A torcida é que a infra-estrutura nunca precise ser usada, mas deve estar pronta para entrar em ação. No Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, a brigada contra incêndio, além de profissionais especializados, conta com veículos especialmente fabricados para combater fogo em aviões.
O gerente de segurança do aeroporto, Milton Campos Siqueira, explica que o esquadrão está de prontidão 24 horas, trabalhando em turnos. Ao todo são 42 bombeiros contratados pela Infraero. O aeroporto da capital tem a particularidade de contar com o único esquadrão formados por profissionais da própria empresa. Nos outros aeroportos, são convênios com FAB ou corpo de bombeiros que garantem o pessoal. A equipe de Confins dá suporte e treinamento para equipes de outros aeroportos, inclusive ministrando cursos fora de Belo Horizonte. A formação dos profissionais é de bombeiro de aeródromo e são oriundos da Força Aérea ou da Polícia Militar.
Além de emergências aeronáuticas, a equipe dá apoio no eixo viário do aeroporto, para atendimento rápido até a chegada do socorro tradicional, e também é preparada para dar proteção às edificações do conjunto aeroportuário. Todo aeroporto tem sua unidade de combate a incêndio, mas a estrutura depende da categoria, de acordo com classificação definida pelo Icao, órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) responsável pela segurança aeronáutica civil.
Quem aciona a equipe é a torre de controle, que passa o local do aeroporto onde há situação de emergência. A partir do aviso, o tempo máximo para resposta à ocorrência na cabeceira 16, a mais distante, não pode ser superior a três minutos, tempo no qual, no mínimo, metade do contingente já deve estar prestando atendimento.
Máquinas
Em Confins, há mais de 10 veículos especializados. De um caminhão limpa-pista, que funciona como uma aspirador gigante, passando por utilitários equipados para resgate em estrada, combate a incêndio florestal e de resgate e salvamento, que são equipados, inclusive, com um imenso alicate capaz de cortar a fuselagem de aviões. Há também um torre de iluminação móvel. No entanto, o destaque é o Titan E One, veículo próprio para combate a incêndio em aeronaves.
Fabricado nos Estados Unidos, em 1994, é bem diferente dos tradicionais caminhões do corpo de bombeiros. Tem reservatório de água com capacidade de 11.355 litros e 1.514 litros de líquido gerador de espuma (LGE), com canhão. O condutor, além de dirigir, também pode operar o canhão e regular a quantidade de água ou a mistura água/espuma a ser usada. A espuma tem o objetivo de isolar fisicamente o oxigênio do combustível, quando há vazamento. O canhão tem uma força de 16 kg/cm², um alcance, sem vento, de até 60 metros e a vazão é de 6 mil litros por minuto. Pode combater incêndio em qualquer tipo de aeronave, incluindo o Airbus A380, maior avião do mundo. O motor é Detroit Diesel 8V 92 de 14 litros e 540 cv. Há um divisor de potência entre o motor e a transmissão que fornece 60% de potência para o deslocamento do veículo e 40% para a operação da bomba que alimenta o canhão. O veículo também carrega 750 kg de pó químico, do mesmo tipo usado em extintores de incêndio, para auxiliar no combate às chamas. O consumo é de 0,5 km/l, isso mesmo, um litro a cada 500 metros.
São três eixos, com tração integral 6x6 e caixa de cinco velocidades. Há também bloqueio opcional dos dois eixos traseiros. Os pneus são de uso misto, com desenho otimizado para não levar detritos para a pista.
Há 25 unidades em uso na rede Infraero. A durabilidade do veículo varia de acordo com as normas de combate a incêndio definidas pela Icao, e da qualidade da manutenção. Pelo estado de conservação, apesar da idade, os equipamentos ainda suportam, no mínimo, 10 anos de operação, até porque, ao contrário dos caminhões do corpo de bombeiros, o Titan E One é pouco usado. Em relação às peças de reposição, Rogério Cassiano, mecânico responsável pela manutenção dos caminhões, explica que há representante do fabricante no Brasil e que do pedido à entrega são menos de 24 horas. Há também componentes industriais universais que podem ser usados no motor.
Para garantir o bom funcionamento dos equipamentos, as máquinas são testadas duas vezes por dia, às 8h e às 20h. Todos os integrantes da brigada são habilitados para operar qualquer um dos veículos, e fazem rodízio entre as unidades, para se reciclarem e evitar o vício em apenas um tipo de equipamento.