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Revenda: Estoques estão altos e a hora é de comprar

Carros como Toyota Corolla e Honda Fit têm liquidez e são vendidos a preço de tabela, enquanto marcas francesas passam aperto. Estoques estão altos e a hora é de comprar

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Tido como "venda certa" há até pouco tempo, Honda Civic sofreu desvalorização depois do lançamento do novo modelo

Há mais de três meses o publicitário Bernardo Guerra tenta vender seu Honda Civic LXS 07/08 automático, com cerca de 30 mil quilômetros rodados. O carro está em excelente estado de conservação, incluindo pneus novos, tem as revisões em dia e o IPVA pago. O preço pedido: o mesmo que o publicitário tem visto em anúncios de unidades similares. Mas o que pode, então, estar dificultando a venda de um modelo há até pouco tempo tido como entre os de melhor liquidez? A resposta, para alguns especialistas na revenda de usados, pode estar no lançamento da nova geração do modelo.

“O preço do Civic caiu bem em relação à tabela Fipe (referência no mercado de usados) por causa do modelo novo. Para vender, o carro tem que ser pouco rodado e ter preço”, diz o gerente de seminovos multimarcas da concessionária VW Mila, Frederico Augusto Costa Machado. “No caso de um carro mais barato, quando é lançado o modelo novo, o tombo é menor. Mas o Civic tem um público mais exigente, que está de olho em novidades”, compara. Segundo ele, até o Fiat Uno Mille – quem diria – caiu de preço depois do lançamento do Novo Uno (apesar de serem carros diferentes que levam o mesmo nome).

Aliás, o mercado já não é mais o mesmo para modelos considerados bons de venda, como os Fiat Uno e Palio e o VW Gol geração quatro, por exemplo. “Esses carros precisam ter um ‘algo mais’ para se conseguir tabela Fipe, pois há muitos no mercado. A concorrência é grande, inclusive com as locadoras, que vendem carro 2009 a preço de 2007, por exemplo”, acrescenta o proprietário da agência Stilo Automóveis, Luiz Antônio de Souza. “O mercado não está fácil. Tem muita oferta, tanta opção que, para vender, tem que ter preço, além da qualidade. Uno, Palio ou Gol, por exemplo, têm que estar muito bons ou você espera três meses para vender”, concorda o gerente da Zero Km, Ricardo Machado.

FIPE

 

Mas a entrada de uma geração seguinte e o excesso de oferta são apenas alguns entre os diversos componentes que influenciam na venda do carro usado, um comércio dinâmico e misterioso em que ter liquidez não significa necessariamente ser bom. Assim como ser mico (péssimo de venda), muitas vezes sem explicação coerente, não indica que o carro é ruim. Quem manda é o mercado. A tabela Fipe é, na prática, apenas uma referência. Se o consumidor comum não consegue vender seu carro pelo preço indicado na tabela, muitas vezes nem o lojista. Entre vários revendedores ouvidos, só houve consenso em pedir o preço da tabela Fipe, atualmente, em dois veículos comercializados no mercado nacional: Toyota Corolla e Honda Fit.

Toyota Corolla está entre os poucos veículos negociados pelo preço da tabela Fipe

Em ascensão, estão também os coreanos das marcas Hyundai e Kia, especialmente o Hyundai i30. O Fiat Siena, principalmente se mais equipado (ar-condicionado, direção hidráulica, travas e vidros elétricos) e de cor neutra, assim como os VW Fox e CrossFox também têm boa aceitação. Entre os Uno – Novo Uno ou Mille –, o melhor é o Way.

DIFÍCEIS

 

E se a aceitação não tem muita lógica, a rejeição também não. Chama a atenção até mesmo de quem está há anos nesse mercado a desvalorização das marcas franceses (Peugeot, Citroën e Renault), especialmente da Renault. A maioria concorda que os carros são excelentes, mas só vendem se o preço for muito bom. Modelos como Mégane, Fluence e Grand Tour chegam a valer de 10% a 15% menos que o informado na tabela Fipe. O Sandero, talvez o melhor de revenda da marca, tem maior procura, mas ainda assim precisa ter mais equipamentos para se sobressair aos básicos do segmento. Também são ruins de mercado os Fiat Linea e Bravo e o Chevrolet Prisma. O Ford Focus – também tido como ótimo carro – melhorou a liquidez depois do lançamento (em 2008) do modelo atualmente comercializado, mas a geração anterior não tem bom mercado.

“O mercado dos carros chineses também é obstáculo, pois o mineiro é desconfiado e isso reflete na avaliação”, afirma o gerente de seminovos multimarcas da concessionária Fiat Automax, Daniel Oliveira. “Aqui, tenho liquidez grande para carros mais populares, como Palio, Uno, Celta e Gol, além de Siena, Idea, CrossFox e Punto. O Ford EcoSport também vende bem, mas o preço deve despencar com o lançamento próximo do outro”, continua. “A liquidez depende até da localização da loja. Aqui, Gol e Fiesta não ficam muito tempo no estoque. O meu melhor giro é de carros que custam entre R$ 20 mil e R$ 30 mil, principalmente se tiverem um bom pacote de opcionais”, completa o gerente de seminovos da Espaço Ford, Fabiano Zarattini.

PALAVRA DE ESPECIALISTA: Marcelo Maria de Souza/ADM Automóveis


Melhor troca é com dois anos

O mercado de usados está ruim. Esteve pior em novembro e dezembro, que, para mim, foram os piores dos últimos 22 anos. Agora já melhorou um pouco, mas está longe de compensar. O acesso ao carro zero quilômetro continua fácil. E o consumidor vai ter que se acostumar, em algum momento, que o usado não vale mais como ele imagina. A época ideal para trocar de carro é com dois anos de uso. Isso é muito relativo, mas é a hora em que o pulo para outro zero não é tão grande. Já com menos de um ano só vale a pena trocar se estiver com a quilometragem muito baixa, pois a desvalorização inicial é alta. Agora, independentemente de qualquer coisa, o zelo e o cuidado com o carro são muito importantes na hora da revenda. Isso é indiscutível.