Se Minas Gerais são muitas, como disse o poeta, autorizado pela licença artística, o que dizer do Brasil inteiro? Suas dimensões continentais produzem culturas e estilos de vida tão diferentes quanto a topografia, a culinária ou a exuberante natureza. Só uma coisa cobre toda a sua extensão de forma quase semelhante: a língua, muitas vezes maltratada e esbofeteada como nossas estradas, caminhos, trilhas ou rodovias, responsáveis por unir os mais distantes rincões ou as mais agressivas metrópoles. Rodando por seu vasto território de carro, moto, bicicleta ou de ônibus, podemos perceber suas gigantescas diferenças e suas curiosidades, produzidas quase sempre pela simplicidade de um povo alegre e criativo, mas que também não dispensa a comunicação, via placas, cartazes, faixas e avisos, que dão bem seu recado, algumas vezes de forma irônica e engraçada, outras vezes de forma ríspida ou ainda do jeito que é possível, dentro da espontaneidade de sua gente.
NO INÍCIO Chamada de rodovia translitorânea, a BR-101 atravessa 12 estados, o que não impediu de também ter suas placas atravessadas a bala, por alguém inconformado com seus buracos, como as que indicam seu início, no município de Touros, no litoral do Rio Grande do Norte, distante 96 quilômetros de Natal. Ficam ao lado do Farol do Calcanhar (o mais alto do Brasil, com 62 metros), que leva este nome por ficar bem na esquina do Brasil, onde o vento faz a curva. O fim da estrada, 4.542 quilômetros depois, fica em Arroio Chuí, no Rio Grande do Sul.
FIM DO MUNDO Bem distante de lá, saindo do Nordeste para o Norte, fica o verdadeiro fim do mundo. É a Casa Fim do Mundo, especializada em ferragens, material elétrico, hidráulico e de pesca. Talvez para abastecer os que vão para o “além”, por via fluvial (as estradas da região amazônica), já que está estabelecida em Manaus, Amazonas, bem em frente ao porto da cidade, na beira do majestoso Rio Negro.
NA LATA Quem precisar de um reparo no carro, um conserto na lataria ou um trato na máquina e estiver na cidade de Acari, Região do Seridó, no Rio Grande do Norte, distante 201 quilômetros da capital, é só passar na Funelaría e Mecânica, que fica na entrada da cidade considerada uma das mais limpas do Brasil, próximo ao magnífico portal de boas-vindas. O cliente, porém, só não pode reclamar do funileiro e da parafuseta da rebimboca, já que “funelaría” está mais para funeral do seu automóvel.
COISA DE BEBUM Enquanto a sociedade vai sofrendo na pele de forma dolorosa para conscientizar os motoristas de que álcool e volante não combinam, alguns acabam fazendo apologia à bebida. Ainda que no idioma “mineirês”, que abrevia as palavras e transforma tudo para o diminutivo, o recado estampado no carro da cidade de Furnas (ao lado da barragem de Furnas), Minas Gerais, foi dado de forma explícita: Dim terim bebim. Talvez, na delegacia, o motorista fique “dim terim prezim”.
XÔ, CAVALO Carro e moto podem estacionar. Cavalo, nem pensar! A ironia é que a placa, com o aviso da proibição quadrúpede, fica exatamente em Bichinho, distrito da charmosa cidade de Tiradentes, Região Central de Minas Gerais. Bichinho deveria proporcionar melhor tratamento ao pacato bicho equestre, que presta relevantes serviços ao bicho homem e também com a língua portuguesa, que acabou levando um coice de raspão.
FOFOCA A voz do povo é a voz de Deus. Quem nunca ouviu falar no ditado da velocidade da propagação de uma notícia ruim? É comum ouvir dizer entre os motociclistas que a moto anda mais que notícia ruim, para realçar sua potência e qualidades. O Motoclube Fofoqueiros do Asfalto, do Méier, no Rio de Janeiro, descobriu na prática algo que anda bem mais e talvez também faça mais estragos.
NO “TRAZEIRÃO” A pintura no muro parece querer subir na bicicleta para dar umas voltas pelas ruas da badalada cidade litorânea de São Miguel do Gostoso, no Rio Grande do Norte, e sumir do político e ortograficamente incorreto Trazeirão, embora seja considerado a preferência nacional. Eleita a capital dos esportes kitsurf e windsurf, que misturam prancha e vela, atrai turistas de todo o mundo. “Gostoso”, como é chamado, fica distante cerca de 110 quilômetros de Natal.
ANIMAL Se os cavalos não podem estacionar em Bichinho, acabam ficando soltos, requerendo bastante cuidado dos motoristas que transitam pelo distrito de Tiradentes. A placa não faz referência ao tipo de bicho que anda à solta por Bichinho. Porém, deve ser um só e provavelmente já foi atropelado. Na dúvida, pé no breque, porque se a vírgula muda de lugar....
DEPOIS DOS 40 Se a vida começa aos 40 anos, há controvérsia. Entretanto, pode acabar em um piscar de olhos. Os donos de motos superesportivas, que beiram os 200cv, gostam mesmo é de acelerar, já que os modelos passam fácil dos 200km/h e beiram os 300km/h. Adrenalina é bom, mas caldo de galinha também. Só não pode ser canja de hospital.