Quem anda ou dirige pelas ruas das grandes cidades mundo afora certamente deve se perguntar em algum momento: “Onde vão parar todos esses veículos e seus componentes inservíveis?”. A pergunta procede, pois, um dia, tudo na vida envelhece, até mesmo os automóveis. Não que todos terão o mesmo fim, já que muitos são preservados a peso de ouro e viram peças de museu ou de ricas coleções. Entretanto, uma grande parte vira sucata e vai parar nos ferros-velhos, onde são vendidos em pedaços ou se desmancham com o tempo, corroídos pela ferrugem. E o pior é pensar que são milhões de automóveis, ônibus, caminhões, motos, bicicletas, aviões e até tanques de guerra. Alguns abandonados pelas ruas das cidades, em lotes vagos ou em áreas desabitadas.
RECICLAGEM
É o lixo automotivo, que se acumula de diferentes formas, contribuindo avassaladoramente para o comprometimento do meio ambiente. Como se não bastassem as emissões de poluentes, a contaminação do solo por infiltração de lubrificantes e combustíveis e o número incontável de pneus inservíveis espalhados por todos os lados, os diferentes tipos de veículos envelhecem e viram problema. A reciclagem já é uma realidade, tanto que muitos fabricantes de automóveis usam cada vez mais o plástico em seus modelos para torná-los mais leves e baratos (para eles!), além de facilitar o processo de reaproveitamento. Porém, ainda há muita lata-velha amontoada por aí e haja forno para derreter tudo isso.
PRENSADOS
Para se ter uma noção do problema, basta ver nas grandes cidades do Brasil a quantidade de ferros-velhos com milhares de carros empilhados. Todos esperando uma oportunidade de reaproveitamento. Mas será que a maioria entra mesmo no processo de reciclagem? Espera-se que sim. E as montanhas de automóveis não são um privilégio somente de países em desenvolvimento. Os ricos também acumulam lixo automotivo (e como!), mas nem sempre sabem dar destino às sucatas de forma honesta. Alguns países têm o péssimo hábito, por exemplo, de despachar os pneus velhos para outros mercados mais pobres, onde são reaproveitados como seminovos. Porém, há os bons exemplos. Na Suíça, mais precisamente nas proximidades de Bern, uma companhia trabalha com a prensagem de automóveis velhos, formando uma verdadeira montanha de sucata que será destinada à reciclagem. Aliás, a Suíça recicla 76% de tudo que pode ser reaproveitado.
COMUNAS
Enquanto isso, em países como o Brasil, Índia e Cuba ainda se vê muita sucata andando pelas ruas, sem a menor condição de tráfego e segurança. Seriam presas fáceis se fosse aplicada de forma séria a inspeção veicular. Quem visita a simpática Havana certamente se impressiona com a quantidade de carros velhos, como os Chevrolets dos anos 1950, que teimosamente resistem à ação do tempo e continuam circulando. Sem falar nos caquéticos Ladas, provenientes da antiga União Soviética, que também retratam a decadência econômica de um país prejudicado pelo embargo comercial imposto pelos Estados Unidos.
A TODO VAPOR
Mas, deixando o depois de lado, a indústria automobilística quer mais é encher as ruas, avenidas e estradas de toda sorte de veículos. A produção aumenta a cada dia e os mercados emergentes estimulam cada vez mais seus cidadãos a comprar carros e motos. A China, por exemplo, tornou-se o maior produtor de veículos do mundo, não só para consumo interno, mas também para exportação para países menos abastados. As joint-ventures firmadas com grandes fabricantes de Primeiro Mundo estão dando resultado por lá e o que mais se vê são pátios imensos repletos de automóveis à espera de seus compradores.
Ali perto, no Vietnã, a realidade é bem diferente, tendo a bicicleta ainda como um dos principais meios de transporte. E é possível ver por lá cenas curiosas, como uma mulher transportando centenas de câmaras de pneus.
DA GUERRA
Já em Israel, a curiosidade fica por conta de um cemitério de tanques de guerra, abandonados em uma base militar nas proximidades de Kirvat Gat. São cerca de 700 blindados usados em diferentes conflitos, que se decompõem em meio a um cenário bucólico, com flores silvestres que parecem sugar toda a frieza das toneladas de aço que tanto estrago fizeram. Estavam lá para ser vendidos por cerca de 25 centavos de dólar o quilo, como material reciclável. Além do peso do aço, o comprador leva de quebra uma energia não muito positiva.
VASO
Em Valência, na Espanha, um automóvel que poderia ser simplesmente abandonado em um ferro-velho, virou a base principal de uma instalação da artista Marta Roman. Denominada Automacetas, a obra é uma prova de que existem formas diferentes de reciclagem, mesmo que o veículo passe a ter a curiosa função de um imenso vaso de plantas. Pode não parecer muito funcional, mas a intenção é muito boa.
E OS PNEUS?
Por outro lado, é triste constatar que ainda há muito que se fazer para resolver de maneira mais eficiente a questão da reciclagem do lixo produzido pela indústria automotiva. Os pneus inservíveis são um problema em países em desenvolvimento, pois o sistema de recolhimento ainda é falho. Por mais que se aproveite, reciclando a borracha para outros fins ou para o mesmo, ainda se veem pneus jogados nas ruas, em lotes vagos, rios, no mar e outros lugares. É preocupante pensar que uma monstruosa montanha de pneus espera por uma solução rápida, pois, do contrário, a coisa vai ficar preta!