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Nova Ordem Mundial - Um nome persistente

Engenheiro transforma motor 1.0 flex do VW Gol em elétrico e explica como funciona. Ele tem o mesmo sobrenome do pioneiro da tecnologia em veículos verdes no Brasil

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João Conrado do Amaral Gurgel, o engenheiro e fabricante de automóveis que ergueu uma fábrica de veículos brasileiros e sempre teve ideias ousadas, apresentou há 35 anos o Itaipu, um carro compacto elétrico de forma trapezoidal de dois lugares. O Itaipu não vingou comercialmente, assim como a fábrica de João Conrado, que levava seu sobrenome. O engenheiro morreu em janeiro deste ano, mas suas ideias permanecem frescas. Em um giro pelos últimos salões dos automóveis, percebe-se que cada fabricante busca o desenvolvimento de modelos movidos a bateria e, principalmente, sem depender dos combustíveis fósseis. O presidente mundial da Renault-Nissan, o brasileiro Carlos Ghosn, prevê que em 2020 10% dos carros serão movidos apenas a bateria. Outra estimativa, essa do instituto de pesquisa inglês IDTechex, é que em 2025 cerca de 1/3 dos veículos produzidos no mundo serão movidos a eletricidade.

Elifas Gurgel do Amaral tem os mesmos sobrenomes do capitão da indústria brasileira e compartilha a inquietude de desenvolver tecnologia inteligente. Coronel da reserva e engenheiro de computação, ele participou do grupo que desenvolveu a urna eletrônica no país e está concluindo seu último projeto: a conversão do motor 1.0 flex de um Gol 2008 para ser movido a eletricidade, alimentado por baterias.

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Elifas decidiu pela conversão para poder explicar com detalhes — e na prática — o funcionamento do carro elétrico, como pretende fazer em palestras e apresentações. No início deste mês, ele esteve no Sexto Seminário e Exposição de Veículos Elétricos (VE 2009), que mostrou um panorama do carro elétrico no Brasil. Além de boas iniciativas e projetos isolados de alguns fabricantes, a indústria automotiva nacional caminha a passos lentos quando se trata de carro elétrico, pois centra fogo no desenvolvimento da tecnologia para motores a combustão, a álcool e gasolina, além de projetos a biodiesel.

Conjunto de 30 baterias ocupa 1/5 do porta-malas, com outras 10 sob o capô



Entretanto, Elifas acredita que o carro elétrico é a melhor opção e para ter o seu precisou superar vários obstáculos. Como o projeto do Gol levou em consideração motor a combustão, a concepção de espaço é diferente. Ele explica que não é possível simplesmente colocar as baterias no local do tanque de combustível. Para gerar energia, Elifas equipou o Gol com 40 células de bateria de íon-lítio (as mais avançadas), sendo que 10 células foram dispostas no porta-malas e outras 30 sob o capô, no espaço onde ficava o radiador. No porta-malas, as baterias ocuparam 1/5 do espaço.

Foram também retirados o motor a explosão, o sistema de escapamento (o carro não polui mais), os sistemas de arrefecimento e de injeção (pois não há mais combustível para ser injetado). Elifas refez a programação do sistema elétrico do carro e manteve os comandos de faróis, lanternas, painel e velocímetro, além da bateria original de 12V para alimentar esses sistemas. Porém, fez adaptações para que seja possível interpretar o automóvel. Por exemplo, o marcador do combustível foi modificado eletronicamente para mostrar a carga da bateria.

O motor elétrico é de corrente contínua e tem 71cv de potência de pico e 20,3cv de potência nominal. Elifas explica que a potência de pico é usada apenas para a arrancada, enquanto a potência nominal é a usada durante praticamente todo o circuito. Elifas destaca que, no caso dos elétricos, a constância do torque, que atinge o máximo em quase toda a curva de funcionamento, é ponto positivo. Ele calcula que as baterias levem seis horas para conseguir a carga total e que a autonomia seja de 150 quilômetros . O custo da conversão foi R$ 60 mil, sendo R$ 40 mil gastos somente com as baterias. O consumo estimado é de 1kw/h para cada 5 quilômetros percorridos, o que, se convertido para o custo da energia elétrica, é de R$ 0,06. De acordo com as contas de Elifas, o investimento pode ser pago em até quatro anos.

Elifas acredita ser parente distante de João Conrado do Amaral Gurgel, mas não o conheceu, apesar de admirá-lo.

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