Um mundo com 2,5 bilhões de veículos em 2050. Ou seja, em 40 anos o que já está péssimo e saturado com os atuais 600 milhões tende a ficar bem pior. Além da questão da mobilidade, a poluição que toda essa frota causa e pode provocar é pensada pelos fabricantes de automóveis, que buscam nos veículos elétricos, que não poluem, uma solução. Porém, o Brasil ainda vive a realidade dos veículos a explosão e contempla os carros elétricos em projetos isolados.
Fósseis apagados
A Toyota espera vender 1 milhão de unidades do Prius no ano que vem. O híbrido da fábrica japonesa é o mais bem-sucedido exemplo da nova onda do mercado mundial. Não é um carro elétrico, pois sendo híbrido tem também um motor a combustão que funciona como extensor da autonomia da bateria que move o propulsor elétrico. Além disso, produz energia nas frenagens e recarrega as baterias durante o movimento. Apesar de ser mais caro que modelos do mesmo segmento ? custa cerca de US$ 24 mil no mercado norte-americano ?, inegavelmente é um símbolo de como o mundo passou a pensar automóvel diferente, tanto que é comercializado em 40 países e já acumula 1,43 milhão de unidades vendidas. No Brasil, o Prius não é vendido e nem existe previsão. Mas já é vendido na Argentina.
Para a consultora da Associação Brasileira dos Veículos Elétricos (ABVE), Maria Arcangela Pico, todo carro que tem apenas uma roda girando com a força de um motor elétrico é considerado elétrico. Uma questão de conceito, menor que outras mais importantes, como o pedido que a ABVE faz ao governo para que os carros elétricos fiquem isentos dos 35% do Imposto sobre Propriedade de Veículo Automotor (IPVA), o que pode incentivar o desenvolvimento e a produção. ?A ABVE quer a suspensão do IPI por um período de 10 anos?, afirma Maria Arcangela. Ela entende que o país vive um período em que a indústria foca a produção nos motores flex, além do boom causado pela descoberta da camada pré-sal, mas ela avalia que o enfoque não pode ser apenas econômico. ?Tem que ser ambiental. Aquilo que se destruiu, não poderá mais ser reposto?, afirma.
Brasil
Sem incentivo do governo, a indústria brasileira se limita a experiências. A Fiat, em parceria com a Usina Hidrelétrica Itaipu Binacional e com algumas empresas energéticas, como a Cemig, desenvolveu a Palio Weekend elétrica, com uso restrito às concessionárias de energia e com o preço fora da realidade de mercado. Outro, recém-apresentado, é o Aris, uma parceria da Edra Automotores com a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), misto de picape e utilitário, que também será usada experimentalmente.
Mundo
Porém, os projetos dos fabricantes para os países desenvolvidos ganham corpo e as previsões da eletrificação da frota parecem fazer sentido. Entre elas, o badalado Chevrolet Volt, que chega ano que vem, proclamado como a tábua de salvação da General Motors, custará cerca de US$ 40 mil e terá autonomia de 65 quilômetros, segundo a montadora, suficiente para cobrir 80% do uso diário do americano. Estatísticas como essas são feitas por diferentes fontes. A Robert Bosch, por exemplo, atesta que 90% dos alemães dirigem menos de 80 quilômetros diariamente.
Já a Renault deve iniciar seus planos elétricos com o Kangoo, que já é testado em Portugal e deve ser vendido pelo mesmo preço da versão a diesel. Na sequência, virão o sedã Fluence e depois o Twizy e Zoe. Os dois últimos foram desenvolvidos para rodar apenas com motor elétrico e apresentados no Salão de Frankfurt deste ano. A parceira francesa, a Nissan, aposta no Leaf, que também será lançado no ano que vem no Japão e nos Estados Unidos, com projeto ambicioso, de fabricar 200 mil unidades por ano, com autonomia de 160 quilômetros, capaz de receber 80% da carga em 30 minutos. Outro japonês, o Mitsubishi i-Miev, também chegará em 2010 com preço estimado em US$ 49 mil.
Bateria
Enquanto os projetos começam a ir para as ruas, as baterias ainda precisam ser aperfeiçoadas, pois o elevado preço e a curta durabilidade diminuem a competitividade do carro elétrico. Algumas soluções já são pensadas e executadas para minimizar o efeito ?bateria?. Uma empresa da Califórnia, chamada Better Place, iniciou um programa em Israel, em parceria com a Nissan, em que disponibiliza locais para recarregar a bateria e também eliminar as velhas. Quem se associa paga uma mensalidade e assim amortiza o preço da bateria, funcionando como uma espécie de aluguel, cobrado por quilômetro percorrido. O programa já existe na Dinamarca, Havaí, Austrália e com a maior cooperativa de táxis de Tóquio (cerca de 60 mil veículos).
Nos Estados Unidos, 13 empresas criaram, na semana passada, um grupo chamado de Electrification Coalition, com o objetivo de reduzir o custo e aumentar a funcionalidade das baterias. Entre os associados do grupo destacam-se Renault-Nissan, NRG Energy, as fabricantes de bateria Coda Automotive e A123. Na apresentação do grupo, Carlos Ghosn, presidente da Renault-Nissan, revelou que até 2040 a coalisão acredita que 75% dos trechos viajados serão com abastecimento de energia elétrica. Tomara que ele tenha razão, pois a outra previsão assusta: 2,5 bilhões de veículos no mundo em 2050. Hoje são 600 milhões.