No início da quinzena, a Gol adquiriu a Webjet. Não fora a diminuição da concorrência, diríamos que é um negócio de soma zero. Uma empresa que não se preocupa com os seus usuários adquiriu uma outra endividada, que desejava ser inovadora e se perdeu.
A Webjet foi criada em fevereiro de 2005. Desde a sua implantação ela não encontrou um caminho asfaltado para evoluir. As empresas TAM e Gol, apesar de concorrentes, trabalharam para criar dificuldades à empresa de cauda verde.
Em janeiro de 2006 duas transportadoras terrestres pertencentes aos Grupos Águia e Jacob Filho adquiriram a empresa, considerando que tinham em seus grupos diversas empresas ligadas ao setor de turismo. Em fevereiro de 2006 opera apenas em voos charter e volta ao voo regular em maio daquele ano. A sua vocação para o atendimento de empresas de turismo volta a se manifestar, quando é adquirida pelo grupo CVC por R$ 45 milhões.
Sob o controle do novo operador, introduziu práticas pobres no segmento de transporte aéreo. Sob a justificativa de participar da inclusão social, jogou os seus serviços a níveis medíocres. Atolada em dívida, foi adquirida pela Gol por R$ 96 milhões, deixando para esta uma cauda negativa de mais de R$ 200 milhões.
Ser adquirida por uma empresa que está primando pelos atrasos, sempre justificados pelos ajustes operacionais, de nada ajuda ao usuário, que retorna às garras do duopólio TAM e Gol. A primeira detém 44,43% do mercado e a segunda 40,55%. Pelo distanciamento que se observava antes da aquisição da Webjet pela Gol, percebemos que ainda há uma faixa de usuários que valoriza um bom serviço.
Um comandante da Gol informou que a escala de voo da empresa é para inglês ver. A tripulação embarca para uma determinada missão e não sabe nunca se irá cumpri-la conforme previsto. Segundo ele, os tripulantes da Gol nunca sabem onde irão descansar, pois a coordenação de voos da empresa costuma alterar as programações das aeronaves. Quando a situação se agrava, a empresa se justifica junto a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), afirmando estar procedendo um ajuste operacional, e fica tudo por isso mesmo. Os passageiros que esperem.
NOAR A notícia mais triste da quinzena ficou reservada ao acidente da empresa regional nordestina Noar. A sua aeronave, que se destinava a Mossoró/RN, com escala em Natal, teve uma perda de potência 55 segundos depois da decolagem e se estatelou num terreno desocupado, com apenas três minutos de voo.
Há algumas contradições em tudo o que foi divulgado. Publicaram que a aeronave passara por serviços de manutenção no domingo que antecedeu à queda e que os trabalhos foram executados por técnicos da fabricante das turbinas (Pratt & Whitney) e da aeronave (LET). Por outro lado, funcionário da empresa afirma que os serviços de manutenção foram executados 19 horas de voo antes do acidente, acompanhados pelos técnicos já citados.
O que agravou demais a situação da pequena empresa regional foi a sua sistemática de registrar as discrepâncias que os tripulantes observam em voo e no solo. Toda discrepância observada pelos tripulantes deve ser registrada no diário de bordo da aeronave, inclusive as suas ações corretivas ou postergadoras. É possível postergar a eliminação de uma discrepância, desde que ela seja prevista numa lista de equipamentos mínimos da aeronave, aprovada pela Anac e que seja corrigida no prazo previsto. Essa situação existia na aeronave da TAM que varou pista do aeroporto de Congonhas/SP, em julho de 2007.
O argumento de utilizar um livro de registro diferente, pois tinha implantado o seu sistema de análise e supervisão continuada, parece bastante frágil. Para manter a regularidade, por vezes, os operadores se valem de rotinas que podem terminar em tragédia. Lamentavelmente.
A empresa está sob auditagem da Anac e será investigada pela Polícia Federal, segundo decisão judicial publicada na segunda-feira.
TAM
Outro fato ligado a acidente foi a denúncia apresentada pelo Ministério Público e aceita pelo Judiciário. Passaram à condição de indiciados a ex-diretora da Anac, Denise Abreu; o vice-presidente de operações da TAM, Alberto Fajerman, e o diretor de Segurança de Voo, Marco Aurélio dos Santos de Miranda e Castro, por causa do acidente com avião da TAM no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, em julho de 2007.
O indiciamento da ex-diretora da Anac é consequência da irresponsabilidade dos políticos que a designaram para tal função. A agência acabara de ser implantada e os cabides de emprego se abriram para os amigos. Na época, foi publicado que a ex-diretora convencera uma juíza sobre a segurança da pista do aeroporto, que acabara de ser reformada, mas ainda não tinha recebido as ranhuras (grooving). Estas permitem diminuir a espessura da lâmina d’água que se forma sobre a pista em dias de chuva, aumentando o poder de frenagem das aeronaves. As condições de pista molhada, de procedimento operacional questionável e de um reversor de fluxo preso por pinos (pinado) determinaram o maior acidente aeronáutico da história da aviação comercial brasileira, no primeiro ano de vida da agência reguladora.
O indiciamento dos dois administradores da empresa foi uma consequência natural dos fatos. Se a aeronave fosse orientada a seguir para o aeroporto internacional de Guarulhos/SP, o máximo que poderia ocorrer seria uma saída da pista, possivelmente sem consequência.
Os fatos que marcaram a quinzena que findou na última sexta-feira não engrandecem o transporte aéreo nem deixarão saudade.
BIRUTNHAS
PAPEL - A Anac precisa se convencer de que aviação não é somente papel. Processos que demandavam um número adequado de manuais foram multiplicados por dois. Este ano já foram registrados 83 acidentes aéreos, quase atingindo a totalidade dos ocorridos em 2010. A aviação geral carece de fiscalização. Verificar apenas as empresas de transporte aéreo público é um procedimento enganoso, pois o que fica registrado é o número de acidentes aéreos. Estes precisam ser minimizados.
SANTOS DUMONT - Na quarta-feira foi comemorado o 138° aniversário de nascimento de Alberto Santos Dumont, natural de Palmira, hoje Santos Dumont. Dedicado ao estudo da navegação aérea e perseverante, realizou a volta ao redor da Torre Eiffel em 12 de outubro de 1901, com o seu dirigível n° 6. Em 23 de outubro de 1906 realizou o primeiro voo com avião propulsado por meios próprios e recebeu o título de “Pai da Aviação”.
CHINA - O disputadíssimo mercado chinês continua rendendo bons negócios para a Embraer. A empresa firmou um memorando de entendimento com a Minshing Financial Leasing Co, na terça-feira, para a comercialização de 20 aeronaves executivas de toda a sua linha. A expectativa é de que as intenções de compra se transformem em ordens firmes nos próximos cinco anos, sendo a primeira entregue ainda em 2011.
AZUL - A Azul solicitou à Anac autorização para abrir três frequências diárias entre o Aeroporto Internacional Tancredo Neves – Confins/MG e o Aeroporto Internacional Tom Jobim – Galeão/RJ. Se autorizada, os voos terão início em 10 de setembro. As partidas de Confins serão às 7h34, 15h38 e 19h24, e do Galeão, às 9h48, 17h39 e 21h05. O ideal para os usuários seria a Azul também ter frequências para o Aeroporto Santos Dumont/RJ. Deixar nessa ligação apenas as empresas do duopólio não é uma solução razoável.
MÃO DE OBRA - O crescimento assustador da demanda de transporte aéreo em todos os segmentos do transporte aéreo público implica em falta de mão de obra. Diferentes vezes os ajustes operacionais alegados pelas empresas são por falta de piloto. Para o segmento de aeronaves de asa fixa, a Anac já apresentou sistemática para agilizar a formação de tripulantes. Para os helicópteros, um estudo começa a ser iniciado.