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Nanotecnologia - A revolução dos tijolos

Assim como acontece em outros setores da sociedade, a ciência que estuda a construção de estruturas e novos materiais a partir dos átomos está transformando os automóveis

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O Mercedes-Benz CLS 63 AMG usa em sua carroceria a nanotinta, que dá mais brilho e durabilidade à cor

Falar sobre a presença da nanotecnologia no mundo atual é como descrever uma revolução invisível, pois as pesquisas nessa área estão provocando uma verdadeira transformação no mundo dos materiais, que vêm sendo modificados a partir dos átomos. Para ter uma ideia de como essa mudança é microscópica, é como se dividíssemos um fio de cabelo por mil. E, com a aplicação dessa tecnologia, os trabalhos de pesquisa vêm dando origem a uma série de novos materiais, mais leves, resistentes e eficientes, pois são desenvolvidos desde os átomos para tal finalidade.

Um bom exemplo são os nanotubos de carbono. “Eles aumentam a resistência mecânica e melhoram as condutividades térmica e elétrica dos plásticos”, explica o professor do Departamento de Física da UFMG Flávio Plentz Filho. Alguns modelos da Audi já usam peças do sistema de injeção com esse material. Outros materiais que também merecem destaque são as nanoargilas e os precipitados nanométricos, que reforçam e diminuem o peso das chapas metálicas usadas na estrutura do chassi e na carroceria dos automóveis. O professor cita outro exemplo interessante, como vidros que, com tratamentos superficiais à base de nanopartículas, evitam a aderência de água e sujeira. O gerente de assistência técnica aos fornecedores da Ford América do Sul Mauro Andreassa,destaca o amortecedor magneto-reológico, cujo fluido pode ter suas características alteradas com a aplicação de um campo magnético, se adaptando às condições do piso.

A Ferrari 599 GTB é equipada com amortecedor que usa a tecnologia magneto-reológica



Fruto de uma parceria entre a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o governo do estado, a Prefeitura de BH, o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae-MG) e a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), o futuro Parque Tecnológico de Belo Horizonte, cujas primeiras unidades devem estar prontas em 2012, na Região da Pampulha, vai possibilitar um incremento das pesquisas nessa área, com a criação do Centro para Microtecnologia e Nanotecnologia (Ceminas) e do Centro de Tecnologia de Nanotubos de Carbono e (CT Nanotubos). O primeiro vai servir de suporte tecnológico para o desenvolvimento de produtos industrializáveis, enquanto o segundo vai se dedicar à produção de nanotubos de carbono e materiais compósitos, com foco em plásticos e materiais estruturais.

 

Palavra de especialista

Flávio Campos
Diretor da regional de Sp da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE)

 

Aplicação em três níveis

A aplicação da nanotecnologia pode ser dividida em três grandes níveis. A primeira é aquela que melhora as propriedades físicas e químicas dos materiais, fazendo com que eles fiquem mais resistentes a variações de temperatura e a impactos. Dando mais fluidez aos plásticos injetáveis, fica mais fácil prensá-los contra as formas. Eles ficam mais resistentes e tornam o processo de fabricação mais fácil. De cada 10 novos materiais, de dois a três já têm nanocompostos em sua estrutura.  Os outros dois níveis são os materiais mais sofisticados e, portanto, mais caros e raros. No segundo, são as tintas. O carro é pintado na cor amarela, mas com uma tinta que, ao receber uma corrente elétrica, muda de cor. Nesse nível, também estão os vidros com nanocompostos. A Ferrari usa um vidro que, também por meio de eletricidade, muda de claro para escuro de acordo com a necessidade. O terceiro nível seria aquele que ainda está no campo das pesquisas mas que vai tornar possível em breve que um carro que pese 1.200 quilos sofra uma “dieta severa” incorporando materiais nanocompostos em sua estrutura, reduzindo o peso para apenas 200 quilos. 

O capô do conceito FCC II, da Fiat, foi injetado com compósitos de nanoargila


 

Saiba mais

Não é apenas um grão de areia

A nanotecnologia abrange muitas áreas de pesquisas (medicina, eletrônica ciência da computação, física, química, biologia e engenharia dos materiais) que tratam de objetos mensurados (medidos) em nanômetros. Para ter uma ideia de quão pequena é essa medida, um nanômetro (nm) é um bilionésimo de metro, ou um milionésimo de milímetro. Se tomarmos como base uma praia com 1 mil quilômetros de extensão e um grão de areia de 1mm, esse grão está para essa praia como um nanômetro está para um metro. O princípio básico dessa tecnologia é a construção de estruturas e novos materiais a partir dos átomos, considerados “os tijolos básicos da natureza”. Alguns cientistas costumam afirmar que a nanotecnologia surgiu no Japão. Apesar de essa tecnologia ser um componente recente na pesquisa científica, o desenvolvimento de seus conceitos centrais vem acontecendo durante um longo período de tempo. E ganhou impulso significativo na década de 1980 com a invenção do microscópio de varredura de tonelamento e da descoberta dos fullerenos (a terceira forma mais estável do carbono, depois do diamante e do grafite), que deram origem aos chamados nanotubos.