Le Castellet (França)
Foi um convite da Mercedes para dirigir alguns de seus carros endiabrados no circuito de Paul Ricard, no Sul da França. O primeiro, um Classe E 63 AMG S 4 Matic. O “63 AMG” quer dizer que o sedã foi preparado por sua divisão esportiva. O “S” significa mais brabeza um pouquinho: o V8 biturbo de 5.5 litros tem 593cv e 81,6kgfm de torque. O “4 Matic” diz que a tração se distribui entre as quatro rodas. É sedã para tornar qualquer família abonada uma das mais rápidas do mundo...
Logo depois, bota o capacete de novo para dirigir o SLS AMG Coupé Black Series. SLS AMG é a nova “Asa de Gaivota” projetada pela AMG. Black Series, segundo os engenheiros que acompanhavam os testes, é o máximo de veneno possível para que o carro ainda seja emplacado. O V8 aspirado de 6.3 litros desenvolve 640cv e acelera melhor ainda que o Classe E: até 100km/h em 3,6 segundos, contra 3,9 do sedã. Explicaram que, se for além, vira automóvel de corrida.
DESAPONTO Depois de tentar domar as duas feras na pista, o terceiro carro do dia seria um elétrico, a versão com baterias do SLS AMG. Minha primeira reação foi de desaponto. Dirigir uma “coisa” elétrica, de desempenho sofrível e sem escapamento para encher os ouvidos, deveria – pensei – ter sido o primeiro do dia, para não estragar a festa.
Mas, qual o quê! O SLS AMG Coupé Electric Drive é o mais potente carro elétrico produzido em série no mundo. São quatro motores, um em cada roda, desenvolvendo absurdos 750cv com torque de 102kgfm.
Na verdade, o SLS fechou o dia com estilo, pois é inacreditável seu desempenho. A aceleração até 100km/h empata com a do Classe E (3,9 segundos) por ser muito pesado: as 12 baterias (de íon-litio) de 400 volts acomodadas no túnel central pesam 550kg e o carro pesa um pouco mais de duas toneladas. Além disso, o motor elétrico tem torque desde as primeiras rotações e dispensa o câmbio, mas prejudica um pouco a arrancada...
PIÃO O engenheiro que cuida do SLS explica que o carro não precisa de nenhum dispositivo do tipo ABS, BAS, ESP, EBD e outros, pois o computador que controla os quatro motores elétricos evita qualquer desvio de “comportamento”. Até brincou comigo e disse que, se quiser, faz o SLS girar como um pião em volta dele mesmo: é só botar as rodas de um lado girando para frente e as do outro para trás. Cada um dos quatro motores pode ser acelerado ou freado independentemente pelo computador, o que dá ao carro uma extraordinária estabilidade em curvas e equilíbrio ao pisar no freio. O sistema elétrico é regenerativo e o motorista controla (pelas aletas no volante) qual a dose de freio regenerativo (Kers) ele deseja ao tirar o pé do acelerador.
SONORIDADES A carroceria em fibra de carbono é colada no chassis de alumínio, a suspensão é multilink na dianteira e traseira. Discos de freio são de cerâmica. E o motorista é quem decide a dose de diversão a bordo, entre confortável, esportivo e superesportivo. Nessa, ele anda como um kart, quase sem curso de suspensão e grudado no asfalto. A resposta dos quatro motores, quando se pisa fundo no acelerador, é simplesmente estúpida. Na curva, ele não sai da trajetória nem que você o provoque.
É elétrico, mas não é silencioso. A Mercedes desenvolveu “sonoridades” próprias para cada situação, emitidas pelos alto-falantes do sistema de som. O painel tem, no lugar do conta-giros, as indicações de nível de carga das baterias, a regeneração pelo “kers” e a potência exigida a cada momento.
TOMADA Autonomia? É um forte do SLS: 250 quilômetros, desde que não seja na pista. Recarga? Numa tomada de 360 volts (possível de se instalar na garagem), em apenas três horas. Nos 110 volts da sua casa, quase 20 horas.
Sua produção em série está sendo iniciada e as primeiras unidades serão entregues a partir de julho, na Europa, por 416,5 mil euros. Será um número reduzido de unidades, com dois propósitos: alegrar a vida de ricos apaixonados pelo automóvel e pela demonstração pública de preocupação ambiental; e provar para o mundo que é falsa a imagem de o carro elétrico ter desempenho de tartaruga, pouca autonomia e recarga demorada.
Mas... a Mercedes não precisava exagerar!
(*) O jornalista viajou a convite da Mercedes-Benz.