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Megarrecall - Toyota paga pela teimosia

Relatos levantados com exclusividade pelo Estado de Minas geraram ação do Procon Estadual, que obrigou o fabricante a fazer recall de 110 mil Corollas, mesmo depois de muita relutância

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Com a venda proibida no estado desde quinta-feira, motivado por uma ação do Procon Estadual, o sedã Corolla fabricado em Indaiatuba (SP) será mais um na imensa lista de recall da Toyota, que enfrenta a maior crise da história automobilística mundial, com cerca de 9 milhões unidades passíveis de defeito em todo o mundo. O Brasil entrou na lista mesmo depois da fabricante relutar bastante. Ontem, o Grupo de Estudos Permanentes de Acidentes de Consumo (Gepac) determinou que deve ser feito o recall de 110 mil unidades.

O Gepac é formado por integrantes do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) do Ministério da Justiça, do Ministério Público de São Paulo e do Distrito Federal, do Inmetro e do Idec. De acordo com o diretor da Fundação Procon de São Paulo, Roberto Pfeiffer, que participou da reunião do Gepac, a reunião foi motivada pela decisão do Procon Mineiro. Pfeiffer informa que ficou acertado que será feito o recall de todos as unidades da atual geração do Corolla, modelo 20008, calculada em aproximadamente 110 mil unidades. Pfeiffer afirma que a Toyota deverá cumprir as mesmas determinações previstas na decisão administrativa cautelar do Procon de Minas gerais. Ou seja: informar claramente sobre o uso do tapete e substituir os problemáticos.

Sustos e acidentes com o sedã Corolla no Brasil são relatados desde o ano passado, quando consumidores informaram o problema aos concessionários e também ao fabricante. A reclamação comum é a aceleração repentina, enquanto o motorista pressiona o pedal do freio, que não responde e o carro segue acelerado. Desde outubro do ano passado a Toyota passou a costurar nos tapetes uma etiqueta alertando para o riso da má colocação, que poderia gerar o enroscamento com o pedal. Porém, a informação sobre o risco já constava no manual do mesmo modelo. O Estado de Minas publica com exclusividade, desde janeiro, relatos de 10 casos de aceleração espontânea, que basearam a ação do Procon de Minas Gerais. (Veja quadro)

Porém, a decisão não foi simples. Para chegar ao acordo, Pfeiffer relata que uma das ameaças feitas pelo Gepac foi de acionar o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) para impedir o registro dos Corollas em todo o território nacional. Com essa condição imposta, conta Pfeiffer, a Toyota cedeu a pressão e decidiu fazer o recall. Nos próximos dias a montadora deve anunciar os detalhes. A reportagem tentou contato com a assessoria de imprensa do fabricante diversas vezes, mas não obteve retorno.

O promotor Amauri Artimos da Matta, autor da decisão administrativa cautelar do Procon de Minas Gerais, informa que tem uma reunião marcada para segunda-feira em Brasília, no Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) para discutir o assunto e melhores formas de colocação do tapete. O promotor diz, entretanto, que não se pode descartar investigação para outras coisas.

O motivo disso está no que acontece com os carros da Toyota fora do Brasil. Desde o ano passado a fábrica enfrenta a maior crise da história da marca, cujo principal pivô são acelerações repentinas. Nos EUA mais de 100 mortes são atribuídas a isso e ainda no ano passado foi feito um recall para o tapete. Porém, o problema não foi resolvido. Por isso, foi feito outro recall. Dessa vez acusando o pedal do acelerador como o responsável por agarrar no fundo. Nos modelos afetados o pedal é fabricado pela canadense CTO, enquanto os pedais dos Corollas brasileiros são feitos pela japonesa Denso.

Enquanto a solução para o pedal não foi encontrada a produção de oito modelos chegou a ser paralisada. Porém, mesmo depois de descoberta um reparo para o pedal, veículos que já passaram pela operação de recall voltaram a apresentar o problema da aceleração repentina. O NHTSA, órgão que fiscaliza o transporte nos EUA, convocou a NASA para tentar solucionar o problema. O NHTSA também aplicou uma multa de US$ 16,4 milhões na Toyota pela demora em reconhecer as falhas.

ENTENDA O CASO

NO RESTO DO MUNDO

Nos EUA aconteceram acidentes, inclusive vários com mortes, devido à aceleração involuntária.

Primeiramente, a Toyota afirmou que o problema era o tapete, que prendia o pedal do acelerador e fez o recall do tapete.

Depois, fez um recall alegando que o problema também poderia ser motivado por falha no acelerador.

As vendas de oito modelos chegaram a ser suspensas até ser encontrada uma solução.

O recall se estendeu para a Europa e China.

Outro problema, dessa vez no freio, atingiu os modelos híbridos da marca, também gerando um recall.

James Lentz, diretor de operações da Toyota nos EUA, admite que os recalls do pedal do acelerador não foram suficientes e que o problema pode ter origem eletrônica.

NHTSA (a Agência de Segurança nas Estradas dos EUA) informa que dezenas de carros que passaram pelo recall voltaram a apresentar problemas.

NHTSA solicita ajuda da Nasa para tentar resolver o problema.

NHTSA aplica multa de US$ 16,4 milhões pela demora em assumir o defeito.

NO BRASIL

A Toyota do Brasil nega a possibilidade de aceleração involuntária.

A empresa argumenta que o pedal utilizado aqui (Denso) é diferente dos problemáticos (CTS).

Atribui o problema em cinco dos 11 casos noticiados pelo Estado Minas a falhas de fixação no tapete.

Nos outros seis casos, não explicou a origem do problema, sendo que um desses o carro teve perda total.

CASOS NO BRASIL
1 ? Maria do Carmo
Barros de Melo, de Belo Horizonte

Situação: Carro desceu disparado e entrou na Avenida do Contorno em alta velocidade. Conseguiu parar colocando o câmbio na posição N e desligando na chave.
Posição da Toyota:
Tapete mal fixado.

O Corolla de Maria do Carmo disparou em umas das principais avenidas de Belo Horizonte



2 ? Niarley de Pinho Tavares, de Sabinopólis (MG)
Situação: Carro disparou na estrada, usou muita força para pisar no freio, mas só parou colocando na posição N.
Posição da Toyota:
Tapete mal fixado.

3- João Sena, de Belo Horizonte
Situação: Carro já disparou duas vezes com ele.
Posição da Toyota: Tapete mal fixado.


4- Daniela Moreira Lima, de Natal (RN)

Situação: Carro disparou e subiu em cima do canteiro central de uma avenida.
Posição da Toyota:
O tapete não era original e por isso provocou o problema.

5 ? Patrícia Correa, de Belo Horizonte
Situação: Carro disparou na entrada da garagem, bateu na pilastra, os airbags dispararam e teve perda total.
Posição da Toyota:
Não avaliou o carro

6 ? Joseli Lannes, do Rio de Janeiro

Situação: Carro disparou
duas vezes, sendo que na
segunda a consumidora já havia
retirado o tapete.
Posição da Toyota: Nenhuma.


7 ? Manuel Costa, de Camaçari (BA)

Situação: Carro disparou duas vezes.
Posição da Toyota:
Tapete mal fixado.

8 ? André Valente, de Cuiabá (Mt)

Situação: Carro disparou duas vezes.
>> Posição da Toyota: Não avaliou o carro.

9 ? Marlene Lochs, de Porto Alegre
Situação: Disparou duas vezes
Posição da Toyota:
Não se manifestou

10 ? Renata Kirkwood, de Belo Horizonte

Situação: Disparou
duas vezes
Posição da Toyota: Analisou o carro e não encontrou nenhum defeito.