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Megarrecall da Toyota - Cerco se fecha

São nove relatos de aceleração repentina no Brasil e a Toyota nega-se a dar explicações. Faltou à audiência na ALMG, mas será investigada pelo Ministério Público e pelo DPDC

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João Paulo Lopes de Senna foi outro proprietário presente na Assembléia

A Toyota recusou o convite da Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte da Assembleia Legislativa de Minas Gerais que realizou uma audiência, ontem, para discutir os casos de aceleração involuntária de Corollas fabricados no Brasil. A ausência do fabricante, que está envolvido no maior recall já feito na indústria automobilística (veja quadro), com quase 9 milhões de veículos convocados para reparo, não impediu a realização. O deputado estadual Délio Malheiros, que convocou a audiência, informou que vai levar, nesta semana, o relato dos depoimentos de três consumidores, que compareceram à audiência, para o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) do Ministério da Justiça.

Os consumidores são de Belo Horizonte e já haviam relatado seus casos ao Estado de Minas, assim como outras seis pessoas que também passaram pelo aperto de ter o carro partindo em disparada. O DPDC já abriu o processo, notificou a Toyota, e aguarda o relato dos casos para que possa atuar, inclusive forçando a fábrica a fazer o recall. O promotor do Ministério Público Estadual, Amauri da Matta participou da audiência e, ao final, colheu o depoimento dos três consumidores e abriu um procedimento investigativo para verificar se é caso de recall. O deputado Malheiros disse também que pretende solicitar uma perícia técnica independente nos carros dos consumidores. A Toyota alegou, via fax enviado à comissão, que estava fechando o balanço trimestral e que, por isso, o vice-presidente da Toyota Mercosul, Luiz Carlos Andrade Junior, não pôde comparecer e pediu que marcasse outra audiência para o início de abril.

"Enquanto estamos aqui conversando, a Toyota ganha tempo e vidas podem estar sendo perdidas", disse a médica Maria do Carmo Barros de Melo, que passou pelo problema da aceleração involuntária e entrou na Avenida do Contorno em alta velocidade e, depois de muito apuro, conseguiu parar o carro colocando o câmbio na posição "N" (neutro). Assim como Maria do Carmo, os outros dois consumidores presentes, João Sena e Patrícia Correa, também não acreditam que o problema seja provocado pelo tapete que prende o pedal do acelerador, como afirmaram as concessionárias após analisarem os carros. No caso de Patrícia, o carro não foi avaliado, pois foi acidentado e teve perda total, indo para o pátio da seguradora, sendo que a Toyota não analisou o veículo.

"O consumidor precisa ter certeza de que o carro dele não tem problema e, se tiver algo, ele deve ter o mesmo tratamento que os consumidores de outros mercados, como Europa e EUA. Quando a empresa nega, atrai para si o ônus da prova", afirma o deputado Délio Malheiros. Enquanto a Toyota não informa com clareza, os consumidores permanecem com medo. Maria do Carmo disse que já aconteceu de oferecer carona a colegas e eles recusarem.

Dúvida

Inicialmente, o NHTSA, órgão do governo americano para segurança no trânsito, divulgou que existiam 10 casos de pessoas que já haviam passado pelo recall, mas que a aceleração repentina voltou a se manifestar. Agora, o número de reclamações de proprietários que fizeram o reforço no pedal ou substituíram o tapete e voltaram a ter o problema subiu para 60, segundo o NHTSA. Some-se a isso o fato do presidente da Toyota nos Estados Unidos, James E. Lentz, ter afirmado que suspeita de que o recall feito não resolva, pois o problema pode ter outra origem. No dia seguinte a essa declaração, o presidente mundial da Toyota e neto do fundador da empresa, Akio Toyoda, pediu desculpas pelas falhas e atribuiu a culpa ao crescimento acelerado da empresa, que é líder mundial na venda de automóveis.

Mais um caso A empresária de Porto Alegre, Marlene Lochs, relata que o Toyota Corolla automático, ano 2008, também passou pelo problema da aceleração espontânea três vezes, sendo que na última chegou a bater o carro. Na última sexta-feira, Marlene aguardava no semáforo. Assim que surgiu a luz verde, acelerou o Corolla e o carro disparou por 200 metros. "Não conseguia mais controlá-lo e entrei em desespero consciente, pois, em fração de segundos, consegui pensar em tirar o carro da via pública puxando o freio de mão com muita força e me atirar junto com o carro de encontro a uma caçamba, que se encontrava a alguns metros à minha frente, em uma rua que era entrada de favela, conseguindo, finalmente, parar o carro", relata.

Maria do Carmo, proprietária de Corolla, reclama da falta de atitude do fabricante



Antes, porém, o carro já tinha passado por problemas semelhantes duas vezes. A primeira foi setembro do ano passado: "Estava na BR-116 e em uma ultrapassagem e precisei acelerar o carro. Quando terminei de fazer a manobra, percebi que o carro acelerava sozinho. Eu pisava no pedal freio e ele não obedecia meu comando. Fiquei muito nervosa e assustada, tentando parar desesperadamente e depois de alguns segundos, consegui dominar o carro e frear. Minha sorte é que naquele momento não tinha automóvel próximo". A outra foi com o filho dela, o médico Vinícius da Lima Silva, também em uma manobra de ultrapassagem, em que o pedal não retornou. "Para diminuir a velocidade e soltar o pedal preso, tive que pressioná-lo por meio de um leve chute, tendo a manobra funcionado", relata. Procurada pela reportagem a Toyota não se manifestou sobre o caso.

Entenda o caso

No resto do mundo

- Nos EUA aconteceram acidentes, inclusive vários com mortes, devido à aceleração involuntária.

- Primeiramente, a Toyota afirmou que o defeito era o tapete que prendia o pedal do acelerador e fez o recall do tapete.

- Depois, fez recall alegando que o problema também poderia ser motivado por defeito mecânico no acelerador.

- As vendas de oito modelos chegaram a ser suspensas até encontrar uma solução.

- O recall estendeu-se para a Europa e China. Outro problema, dessa vez no freio, atingiu os modelos híbridos da marca, também gerando recall.

- James Lentz, diretor de operações da Toyota nos EUA, admite que os recalls do pedal do acelerador podem não ter sido suficientes e que o problema pode ter origem eletrônica.

- NHTSA informa que cerca de 60 carros que passaram pelo recall voltaram a apresentar defeitos.

No Brasil

- A Toyota do Brasil nega a possibilidade de aceleração involuntária.

- A empresa argumenta que o pedal utilizado aqui (Denso) é diferente dos problemáticos (CTS).

- Atribui o defeito em cinco dos nove casos noticiados pelo Estado Minas a problemas de fixação no tapete.

- Nos outros quatro casos não explicou a origem do defeito, sendo que em um deles o carro teve perda total.

- A
Toyota também não convocou recall para o tapete que apresenta problema
de fixação, apesar de reconhecer o defeito com os consumidores.