Com o terceiro trânsito mais violento do mundo, o Brasil tem cerca de 40 mil mortes todos os anos em acidentes. Segundo dados do Ministério da Saúde, o número subiu de pouco mais de 38 mil em 1998 para quase 41 mil em 2010.
As tentativas de reverter esse quadro passam por construções de rodovias mais seguras e carros cada vez mais equipados com dispositivos de segurança. Mas nada disso adianta sem um condutor educado e preparado para assumir a direção. A formação ideal de um motorista consciente começa muito antes dos 18 anos, dizem os especialistas. Embora a educação para o trânsito esteja prevista na última reformulação do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que entrou em vigor em janeiro de 1998, poucas escolas exploram o assunto, mas essa situação pode mudar. Um projeto de lei insere a proposta da educação para o trânsito na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDBE) e está aguardando o parecer da Comissão de Educação e Cultura (CEC). Algumas escolas se anteciparam à aprovação do projeto e já passam lições de trânsito e cidadania aos pequenos.
NATURALIDADE
A escola infantil Lúcia Casa Santa, de Belo Horizonte, trata o assunto com naturalidade com os alunos. A ideia é educar as crianças usando elementos presentes no cotidiano deles. “Tudo começou com a organização do trânsito de alunos dentro da escola, respeitando a sinalização instalada para eles. Depois passamos a usar o velotrol, quando eles tiveram os primeiros contatos com as regras e sinalização de trânsito”, diz Coli Caiafa, diretora da instituição. Os alunos mais velhos têm aulas na porta da escola, com lições ainda desconhecidas por muitos adultos, como estacionamento proibido em portas de garagens e formação de fila dupla na entrada e saída de alunos. “Os filhos acabam fiscalizando os pais, e com isso, já percebemos uma diminuição de carros que param em fila dupla na porta da escola”, completa a educadora.
A psicopedagoga Márcia Zakur Ayres confirma que as crianças têm o poder de educar os pais. “Como pequenos 'agentes de trânsito', eles adquirem o hábito e cobram dos adultos posturas cidadãs como não atravessar fora da faixa, usar o cinto de segurança, não jogar objetos pela janela, respeitar a sinalização, etc, evitando imprudências e prevenindo acidentes”, explica.
PROTEÇÃO
Já na Escola Estadual Assis das Chagas, no Bairro Dom Cabral, o trânsito virou assunto escolar justamente para proteger os próprios estudantes. A escola está às margens do Anel Rodoviário e muitos alunos moram na região e convivem com uma rotina violenta de atropelamentos. “Por causa da localização da escola, em local de trânsito perigoso, os alunos passam por situações bem complicadas todos os dias e as experiências contadas em sala acabaram estimulando as aulas”, explica a supervisora de ensino Maria Márcia. Todo ano, a escola promove a Semana do Trânsito, uma programação integrada com outras escolas da rede estadual de ensino que leva aos alunos palestras de profissionais do trânsito e passeios aos projetos 'Transitando Legal', da BHTrans e Transitolândia, da Polícia Militar, além de apresentações de grupos artísticos, desenhos, redações e uma série de atividades pedagógicas lúdicas que desenvolvem a socialização, a construção de conhecimentos que levam a criança e o adolescente a estabelecer relações com o mundo, vivenciando os papéis de pedestre, passageiro e ciclista.
MELHORIA
A psicopedagoga acredita que, quanto mais cedo a criança tem acesso às leis de trânsito, mais chances tem de aprender como se comportar nele, sendo que elas já participam do trânsito como pedestres e passageiros. “A educação deve ser pensada como meio para promover a aprendizagem para a vida, e a escola tem uma função social de desenvolver e inserir o aluno no espaço público e a criança assimila o assunto quando o projeto é criativo e trabalha a educação para o trânsito, com uma abordagem lúdica, por meio de brincadeiras, jogos, histórias e aprendizagem mediadas, pelo professor, de forma integrada e interdisciplinar”, afirma.