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Isqueiro, cigarro e celular

Nada do que nos é informado ou exigido quando nos apresentamos para uma viagem aérea deixa de ter motivo

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Observar e seguir as instruções no embarque evita acidentes durante o voo

Logo que nos apresentamos no balcão de check-in de uma empresa aérea tomamos conhecimento das primeiras instruções para o embarque.

Normalmente, num painel de pequena dimensão sobre o balcão encontramos a listagem do material que não poderá ser incluído na bagagem de mão.

Sempre que leio aquelas instruções lembro do questionamento de um famoso artista. Ele desejava saber porque o isqueiro descartável era proibido a bordo. Para matar a sua curiosidade foi necessário se valer do fenômeno da variação da pressão atmosférica com a altitude. Foi preciso voltar aos tempos de escola e rememorar que os átomos e moléculas são atraídos para a superfície da Terra pela lei da gravidade. Quem não se lembra da lei “matéria atrai a matéria na razão direta das massas e na razão inversa do quadrado da distância”. À medida que nos afastamos da superfície terrestre a massa de ar vai se tornando mais rarefeita até atingir níveis não compatíveis com a vida humana. As aeronaves modernas voam no limite da troposfera, e a 12 quilômetros de altura a pressão atmosférica é bastante baixa. Para que existam condições de vida naquela altitude faz-se necessária a pressurização do ambiente. É o que ocorre no interior das aeronaves. O ar sangrado passa pelo sistema de condicionamento e é enviado para o interior das cabines. Ou seja, se vier a falhar o sistema de pressurização, somos instruídos a utilizar o sistema de oxigênio enquanto o piloto executa um procedimento de emergência para atingir rapidamente um nível de voo que permita a vida sem meios artificiais. O uso da máscara de oxigênio é mais uma instrução que recebemos.

Voltando aos isqueiros descartáveis, eles são carregados a uma pressão superior à pressão atmosférica no nível em que foi fabricado, para que o gás seja expelido e inicie a combustão, eis a razão da proibição. Se a aeronave vier a ter um problema de despressurização o isqueiro poderá explodir e ser um foco potencial de fogo.

Um outro aviso é quanto ao uso do telefone celular. É permitida a utilização do celular até o fechamento das portas das aeronaves. Há reporte de ocorrência de um iPhone que começou a emitir fumaça e se tornar rubro devido a um problema com sua bateria de lítio. O incidente foi de pequena proporção, pois a aeronave estava no fim de um procedimento de descida e a comissária de bordo teve a iniciativa de sugerir que o iPhone fosse jogado no corredor da aeronave. Valendo-se de um extintor de incêndio a fumaça e o calor foram debelados. Nesse caso a origem do problema foi um reparo mal executado no telefone do passageiro. De nada adiantou a alta tecnologia empregada na fabricação do celular, um reparo malfeito poderia ter originado um grave problema aérea.

Um aviso que permanece aceso durante todo o voo é o “Não fume”. A aviação brasileira tem em sua história um acidente gravíssimo ocorrido na década de 1970, com uma aeronave da Varig que procedia para o pouso no aeroporto de Orly, em Paris. Uma fonte de fogo criada no lavatório gerou uma quantidade tão grande de fumaça tóxica que levou a aeronave ao solo. Muitas vidas foram perdidas por causa do fumo a bordo. Eis a origem de um novo aviso: “Os lavatórios de nossa aeronave são equipados com detetores de fumaça”.

Incêndio causado por um cigarro causou um grave acidente com avião da Varig em Paris, nos anos de 1970


Um novo aviso é de fundamental importância para a segurança do passageiro. Depois da decolagem, quando a aeronave atinge uma determinada altitude, o aviso de atar o cinto é desligado. Quando voando em dia de céu claro temos a impressão de estarmos num voo seguro e o desatar o cinto poderá ser uma tendência. Com céu nublado e mesmo com o céu claro há o risco de descontinuidade na camada de ar onde a aeronave voa e poderá ocorrer perdas súbitas de altura. A perda pode ser tão ampla que sem os cintos o passageiro poderá ser arremessado para cima e machucar.

Em voos longos, é muito comum o passageiro tentar relaxar, saindo de sua poltrona. Há métodos de relaxamento mais seguros, ainda que sentado e com os cintos atados.

Muitos outros avisos estão no cartão existente no bolsão da poltrona da frente. Quem tem paciência de ler aquelas instruções? A maioria não, mas é prudente conhecer o seu conteúdo.

Enfim, os fabricantes e os operadores enfatizam os avisos de segurança e os devem atendê-los para que a viagem tenha o seu fim desejado: um bom pouso. Todos os avisos têm a sua razão de ser.