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Indústria - Troca-troca na fábrica

Fruto de antigas parcerias desfeitas ou de uniões para redução de custos, carros de diferentes fabricantes podem compartilhar motor e muitas vezes a mesma origem

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Filho bastardo da quase fusão entre GM e Fiat, motor 1.8 é usado no Palio R e no Corsa SS

O cientista francês Antoine Lavoisier elaborou no século 18 a Lei de Conservação das Massas, popularmente ensinada nas escolas como Lei de Lavoisier. A teoria pode ser filosoficamente traduzida na célebre frase: "Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma". O princípio por trás desse princípio da química também é muito usado pela indústria automobilística, que, por motivos variados, aproveita projetos, plataformas e motores já existentes numa forma de reduzir custos ou suprir deficiências nas próprias gamas de produtos.

O uso ou reaproveitamento de projetos não é novidade entre os fabricantes de veículos. No Brasil, por exemplo, o Ford Landau e o Galaxie eram basicamente o mesmo veículo, apenas com detalhes cosméticos e de acabamento diferentes. A mesma fábrica repetiu a receita com a dupla Corcel II/Del Rey, sem contar as diversas derivações surgidas do Fusca, como Variant, Zé do Caixão, Brasilia e SP2. Além dos inúmeros fabricantes de foras-de-série que usavam a plataforma e mecânica VW em seus modelos.

Até aí nada de surpresas, mas o que muitos ignoram é que marcas rivais podem se beneficiar de sinergias de projetos ou mecânicas. Por aqui, um dos exemplos mais famosos foi o da Autolatina, fusão da Ford e VW na América do Sul, que resultou em modelos como o VW Apollo (derivado do Escort), Ford Versailles (que tinha como base o Santana) e outros menos bem-sucedidos, como os Volkswagen Pointer e Logus.

Mas, mesmo hoje, ainda há muitas partes comuns entre os modelos produzidos e comercializados no exterior e no Brasil. O Mini, da BMW, usa motores de origem Peugeot. Ainda na Europa, Citroën C1, Peugeot 107 e Toyota Aygo são produzidos na mesma fábrica da República Tcheca, e o jipinho Sedici, da Fiat, é um projeto conjunto com a Suzuki, que chama seu modelo de SX-4.

Versailles, da Ford, nada mais era que do que um Volkswagen Santana maquiado


No Brasil, Fiat e GM são dois fabricantes que compartilham motores. No início da década, a matriz da GM comprou parte da Fiat com olhos em uma possível fusão. A união das duas não se concretizou, mas deixou como herança o uso dos antigos motores 1.8 da Chevrolet nos carros da Fiat. De concepção antiga e beberrona, a linha de propulsores da GM é, curiosamente, uma das mais usadas entre os modelos de maior cilindrada. Além do propulsor 1.8 das famílias Palio (Palio, Siena, Strada, Weekend e Idea) e Corsa (Corsa hatch, sedã, Montana e Meriva), ainda é aplicado como 2.0 no Astra, Zafira, Vectra e Vectra GT, e, como 2.4 na versão topo de linha Vectra Elite, além da picape S10 e do utilitário Blazer.

O Vectra é um arranjo em cima do Astra. A plataforma é basicamente a mesma, alongada, o que gera uma situação curiosa. O sedã é versão maquiada do Astra Sedan, enquanto o hatch GT usa a plataforma do Astra nacional, com estilo do Astra europeu mas, por uma questão de prestígio, é chamado de Vectra no Brasil.

Entre os motores menores, os famosos 'mil', muitos não se dão conta de que o bom 1.0 16V que a Renault usa no Clio, Logan e Sandero é o mesmo que equipava os 206 1.0, antes de a Peugeot parar de vender carros como motores de 1.000 cm³. Nesse caso, não houve acordo falido ou tentativa de fusão. Na falta de um motor 1.0 adequado, a Peugeot comprava o propulsor do concorrente.