O médico homeopata Giovano de Castro Iannotti começou a perceber que tinha dificuldade para distinguir algumas cores aos 5 anos, quando precisava da ajuda dos colegas para colorir os desenhos, de acordo com o que era pedido pelos professores. Como na família há vários casos de daltonismo, não foi difícil descobrir a origem da confusão com as cores, principalmente entre o azul escuro e o roxo. Hoje, ele convive naturalmente com a deficiência e até aponta vantagem. "A visão noturna do daltônico é melhor do que a de quem enxerga normalmente. Logo, tenho mais facilidade para dirigir à noite do que outras pessoas", afirma o médico, contando que tirou carteira normalmente e dizendo que há mecanismos que facilitam, por exemplo, a distinção entre o vermelho, o verde e o amarelo dos sinais de trânsito. "No meu caso, quando o sinal é mais claro, como os de Belo Horizonte, não há como confundir as cores vermelho, amarelo e verde. Mas, quando é um sinal mais antigo, como os de Santa Luzia, na região metropolitana, que têm tons mais pastéis, pode haver confusão. Então, é só olhar a posição das luzes, quando estão acesas", diz Iannotti. "A gente mesmo vai criando mecanismos", continua.
Tipos
O médico observa que há vários tipos de daltonismo. "A retina, que fica no fundo do olho, capta a luz e a transmite para o cérebro. Isso, por meio de dois tipos de células, os bastonetes, responsáveis pela luz em preto-e-branco e graduações de cinza; e os cones, responsáveis por três cores principais: verde, azul e vermelho (as outras cores são derivações dessas). No daltonismo mais comum, que é hereditário, vai haver deficiência ou ausência de um desses cones", explica. Logo, o tipo da doença dependerá de qual cone for deficiente ou ausente. "Há casos mais raros de ausência total de cones, em que a pessoa enxergaria em preto e branco. Mas isso é muito raro. Só vi em livros", acrescenta.
Exame
"O daltônico pode ter dificuldade de distinguir todas ou algumas cores. Para nós, se conseguir diferenciar o verde, o vermelho e o amarelo, que são as cores do trânsito, é o que interessa", afirma o chefe da Divisão Médico-Psicológica do Detran-MG, Marcelo Figueiredo Almeida. Ele explica que o candidato à habilitação faz um primeiro exame, que é o da tabela de Ishihara: "Todos os candidatos fazem. E, por essa tabela, conseguimos perceber se há algum tipo de daltonismo. São bolinhas coloridas com letras e números diferentes. O daltônico não vai ler direito", diz. Então, parte-se para um segundo exame, de projeção luminosa, com as cores vermelho, verde e amarelo, que vão aparecendo de forma aleatória. "Se acertar, passa no exame de qualquer categoria profissional", garante Almeida.
A doença é conhecida como discromatopsia e é bem mais comum nos homens, embora seja quase sempre transmitida da mãe para o filho. Mas, para entender a transmissão hereditária, é preciso compreender um pouco de genética. O daltonismo é transmitido pelo cromossomo x. O homem é yx e a mulher é xx. Como a doença está ligada ao x, se a mulher tiver esse gene recessivo, pode passá-lo para o filho. Como é o único x, será daltônico. A mulher, por outro lado, como é xx, precisaria ter recebido os dois cromossomos x (da mãe e do pai) com a deficiência para ter a doença. De acordo com especialistas, de 5% a 8% da população masculina mundial são daltônicos, contra apenas de 0,25% a 0,4% das mulheres.