Em junho do ano passado, a Ford distribuiu um boletim técnico às concessionárias. Razão: desgaste do solenoide de pressão da transmissão do Fusion V6. Em unidades 2009 e 2010 do modelo, ocorreram casos de trancos, vazamento e quebra da transmissão automática. O boletim orientava a assistência técnica dos distribuidores da marca a reparar o módulo de controle do câmbio e, em casos mais graves, substituir a transmissão. Um ano se passou, mas proprietários da versão topo de linha do sedã continuam reclamando do câmbio e, como se não bastasse, de informações sobre o serviço feito nas autorizadas. Foi o que ocorreu com Leila Fernal Ferreira.
Proprietária de um Fusion V6 adquirido em março de 2010, a advogada descobriu a existência dos relatos envolvendo o câmbio do modelo por acaso. “Soube que o Fusion 2011 tinha incorporado novos itens de tecnologia e segurança e, interessada, fui até uma concessionária. Numa conversa informal, um vendedor me revelou as falhas envolvendo o câmbio e inclusive me incentivou a trocar o carro por um zero quilômetro”, conta. Leila, que já teve um Fusion 2006, ficou então interessada em saber maiores detalhes sobre os defeitos no câmbio e pesquisou a respeito do assunto no site de buscas Google. Como resultado, a advogada encontrou um grande número de reclamações, razão que a fez procurar a autorizada Forlan. “De início, um consultor técnico negou a existência do reparo. Mas, com muita conversa, ele acabou assumindo o problema, que já tinha levado vários Fusion V6 à assistência técnica”. Ao solicitar o reparo do câmbio à oficina da Forlan, no entanto, Leila teve o pedido negado. “Perguntaram se o meu Fusion já estava dando trancos e patinando. Disse que não. Mas e se eu quiser fazer o serviço em caráter preventivo?”, questiona a consumidora.
Para a Forlan, não há nenhum pedido de reparo registrado em nome de Leila. O gerente de serviços da concessionária, Alexandre Nader, afirma que não há registro formal de problema com o câmbio do carro da cliente e a orientação dada pela Ford é de verificar apenas os casos nos quais a transmissão apresente falhas. “Não temos nenhuma orientação do fabricante que demande verificação em todos os modelos que deem entrada em nossa assistência técnica”, defende o gerente.
ELOGIOS E MÁGOA Por outro lado, não é difícil encontrar na web relatos de insatisfação com o câmbio do Fusion V6. Proprietário de um modelo 2009, Philipe Heineken (que falou ao Veículos utilizando nome fictício), que mora em Brasília (DF) não economiza elogios ao modelo, mas lamenta que a transmissão do carro tenha quebrado duas vezes, aos seis meses e 12 meses de uso. “Nas duas ocasiões, o Fusion começou a engasgar tanto na aceleração quanto na redução de velocidade. Senti que o problema era extremamente grave, pois durante uma ultrapassagem, o carro deixou de acelerar repentinamente”, relata. O Ford foi consertado por uma concessionária do Distrito Federal, mas em ambas as ocasiões um carro reserva foi negado. “Sobre o problema, a marca se limitou a dar respostas padronizadas”, lamenta o proprietário, que também pretende trocar de carro.
No mesmo site onde Heineken reclama do câmbio, Luis Fernando Nogueira comenta que também passou pelo problema e incentiva os proprietários de Fusion V6 a entrar na justiça. “É um defeito de fabricação que está acontecendo em vários carros no Brasil. A Ford não dá a mínima. Duvido que nos EUA a marca ofereça esse mesmo tipo de atendimento”, opina.
TEMPO DE ATUAÇÃO O supervisor de serviços técnicos automóveis da Ford, Reinaldo Nascimbeni, reconhece a existência do boletim e do reparo durante revisões ou a pedido do cliente, mas atribui o conserto no módulo de controle do câmbio apenas à situações de tranco. “A reprogramação está sendo realizada no Brasil, EUA e demais mercados onde o Fusion é vendido, mas se limita a alterar o tempo de atuação da válvula do solenoide. Como o câmbio do Fusion V6 é igual ao do Fusion quatro cilindros e os donos do modelo V6 costumam acelerar mais, eles sentiam mais o tranco durante as trocas de marchas e reclamavam”, atribui o executivo.
Nos casos em que a assistência técnica verifica que o óleo da transmissão está escuro, Nascimbemi afirma que o reparo da caixa também é realizado. “Abrimos o câmbio, trocamos o jogo, embreagens, óleo e só. Vazamento e quebra são situações que nada têm a ver com a reprogramação”, conclui Nascimbeni.