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Etiquetagem veicular - Novo método faz consumo aumentar

Outras condições adotadas em programa de medição resultam em maior gasto de combustível de modelos participantes, porém mais próximo da realidade. Segunda fase testa 67 carros

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Kia Picanto, o modelo mais econômico na primeira fase teve consumo maior agora

O Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBE) entra na segunda fase, com a adesão de seis fabricantes de veículos e 67 modelos testados, mais do dobro em relação à primeira fase, quando participaram 31 carros. Dos cinco fabricantes que haviam aderido à primeira fase, apenas a General Motors saiu do PBE, permanecendo Fiat, Honda, Kia e Volkswagen, às quais se juntaram Renault e Toyota. Entre as mudanças ocorridas da primeira para a segunda etapas, a mais significativa foi a troca de metodologia para a avaliação do consumo, agora levando-se em consideração não só condições ideais de laboratório, mas fatores importantes como estilo de direção mais agressivo, trânsito congestionado, maior velocidade nas estradas e uso intenso de ar-condicionado. O resultado foi o aumento significativo nos valores obtidos para o consumo de todos os modelos testados em relação à primeira fase, porém mais próximos da realidade. Além disso, embora a adesão da montadora seja voluntária, para participar da segunda etapa, o fabricante teve que submeter aos testes pelos menos 50% dos modelos comercializados.

O PBE é vinculado ao Ministério de Minas e Energia, com o apoio da pasta do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, e tem o objetivo de divulgar o consumo dos veículos, classificando-os de A a E, por meio de uma etiqueta, a exemplo do que ocorre com os eletrodomésticos. Regulamentado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), em parceria com o Programa Nacional de Racionalização do Uso dos Derivados do Petróleo e Gás Natural (Conpet), desenvolvido pela Petrobras, foi anunciado em novembro de 2008, com conclusão da primeira fase em abril do ano passado e, da segunda, em dezembro. Para a próxima etapa, os veículos deverão ser testados em outubro.

Mais alto

Os carros são divididos em categorias ? subcompacto, compacto, médio, grande, carga, comercial e fora de estrada ?, determinadas de acordo com a área do veículo projetada no solo. E a classificação, de A a E, é feita por comparação entre os modelos de cada categoria, o que significa que ter A ou E não necessariamente garante um consumo baixo ou alto, mas menor ou maior do que o concorrente. Também não é levada em consideração a motorização do veículo, ou seja, automóveis 1.0 são comparados com 1.4 e assim por diante.

Na primeira bateria de testes, divulgada em abril, o valor informado de quilometragem por litro considerou apenas ensaio obtido em laboratório. Mas, levando-se em consideração que, em condições ideais, o consumo obtido é bem distante do alcançado na prática, foi adotada, para a segunda fase, uma metodologia de ajuste, com base na Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos. Os fatores de ajuste da agência americana, que procuram levar em consideração condições reais de uso como estilo de direção mais agressivo e trânsito congestionado, entre outros, foram desenvolvidos, segundo a assessoria da Petrobras, a partir de milhares de dados reais, que indicam que 90% dos usuários conseguem resultados dentro de mais ou menos 20% dos consumos declarados.

Mais próxima da realidade, a mudança fez aumentar substancialmente o consumo nos resultados obtidos. A título de exemplo, o Kia Picanto (câmbio manual), o mais econômico dos modelos da primeira fase, teve o consumo aumentado de 16,2km/l, na cidade, e 21km/l, na estrada, para 12,4km/h (cidade) e 14,8km/l (estrada), depois de adotada a nova metodologia. A classificação A, entretanto, não se alterou.

Nota

Aliás, de 15 modelos testados na primeira fase e novamente participantes da segunda, apenas três tiveram a classificação alterada e, em todos os casos, para baixo: o Fiat Uno Way caiu de A para B, entre os subcompactos; o Honda Fit 1.4 automático foi de B para C, e o Fiat Punto ELX 1.4, de C para D, ambos entre os compactos, conforme classificação do programa. Já o Uno Economy, estreante na segunda fase, também obteve A, com números semelhantes aos do Picanto. Para o engenheiro Carlos Henrique Ferreira, da Fiat Automóveis, o fato de nem todos os modelos testados terem correspondido à expectativa se deve ao fato de que as notas de classificação são obtidas por comparação e, como nem todos os fabricantes aderiram ao programa ainda não existe uma referência completa. De qualquer maneira, ele ressalta que a iniciativa é válida.

Dessa opinião compartilha o diretor de regulamentação do produto, Gaspar Shoji, da Honda Automóveis. ?A Honda é uma empresa que adota a política de preservação do meio ambiente. E esse programa veio ao encontro?, diz. Para ele, o fato de a adesão dos fabricantes não ser obrigatória não será um empecilho, mas uma questão de tempo. Ele acrescenta que seria interessante serem revistos alguns critérios em relação à classificação, como o fato de não se considerar a motorização no momento de se comparar os modelos. ?O veículo de maior potência consome mais e é comparado com um de motorização menor. Além disso, não levam em conta o peso do carro?, pondera, lembrando que alguns modelos da marca ficaram prejudicados por estes motivos.

A GM informou que deixou de participar da segunda etapa, tendo em vista o programa ser voluntário. Mas não descarta a possibilidade de voltar a aderir em fases posteriores. As demais montadoras participantes não retornaram. Confira, no quadro, classificação e consumo de alguns modelos testados.