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Estilo - Tapa no visual

Reestilizações servem para manter um modelo competitivo. Mas as mudanças não são realizadas aleatoriamente: pesquisas e fidelização pesam na decisão do que fazer

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Fiat Siena teve a dianteira mudada para incrementar vendas

Os carros brasileiros já foram chamados de carroças pelo próprio presidente da República, no caso o malfadado Fernando Collor de Melo. Nos dias atuais, mesmo não se tratando de modelos de ponta, os veículos fabricados no país estão, em sua maioria (com notáveis exceções, como a Kombi), mais atualizados tecnologicamente.

É verdade que o ciclo de duração de um modelo nacional é maior do que o dos modelos da Europa ou outros mercados de primeiro mundo. A conseqüência é que, por aqui, as novas gerações dos modelos são muitas vezes apenas reestilizações. Nos últimos dois anos passaram pelo bisturi veículos como o VW Gol, Fiat Palio, Ford Fiesta, VW Polo, Ford EcoSport e Fiat Siena. Pode parecer um trabalho simples, mas dar uma cara nova a um modelo conhecido e bem estabelecido no mercado exige cuidado e pesquisa.

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O caso do Siena é significativo. Apresentado à imprensa há cerca de duas semanas, o sedã chegou com a frente diferente do irmão Palio, reestilizado alguns meses antes. A opinião geral foi a de que a intervenção no três volumes foi mais bem-sucedida do que a feita no hatch e comenta-se que a Fiat haveria feito alteração de última hora para evitar no Siena o erro estético cometido no Palio.

Plástica
Questionado sobre o assunto, o assessor técnico da Fiat, Carlos Henrique Ferreira, foi taxativo ao negar a plástica de emergência no Siena: "Quando lançamos a terceira geração do Palio, em 2003, já estávamos pensando na próxima geração, até porque temos atualizado o carro num espaço de tempo menor do que o normal, que é de cinco anos. Desde o início queríamos dar ao Siena uma identidade diferente agora na quarta geração. Até mesmo porque em oito meses (tempo passado entre a apresentação dos dois modelos) não seria possível fazer essa modificação," conclui.

Ford EcoSport com alteração significativa de estilo na grade frontal...


Mas o consultor técnico reconhece a dificuldade em modificar um modelo que vende bem. Ele explica que o estilo é um dos três fatores mais importantes na hora da compra e que, por isso, o centro de estilo segue uma série de instruções, definidas em grande parte pela área de desenvolvimento de produto, que, por sua vez, é guiada pela área de marketing da montadora.

Mesmo assim reconhece que é uma aposta, um risco. E acrescenta que, no caso do Palio, houve sim uma resposta positiva: "Estamos vendendo mais, e não só em números totais, pois todo o mercado está crescendo. Mas na categoria B, excluindo os 1.0, que ainda usam a carroceria da terceira geração, nossa faixa de mercado está em 27%, um crescimento de 5% de um ano para o outro," exemplifica.

Agitação
Já Oswaldo Ramos, gerente Nacional de Vendas da Ford, acredita que, antes de mais nada, a reestilização é necessária para manter o nível de vendas. O foco está sobretudo na fidelização da clientela e em gerar estímulo para a troca. "Na faixa de preço do EcoSport, quem compra o carro no lançamento, depois de uns quatro anos, já pensa em trocar o veículo. É claro que um carro renovado agita o mercado e traz público novo, mas buscamos oferecer a quem já tem o nosso produto a possibilidade de comprar o mesmo carro, com novidades."

Já no caso do Fiesta, que não por acaso ocupa o mesmo segmento do Palio, em que a competição é mais intensa, Ramos esclarece que há sim a preocupação de atrair novos clientes. "Mas estamos limitados pela capacidade de produção da fábrica de Camaçari."

Em alguns casos, os resultados podem ser surpreendentes. "O Polo, na soma das vendas do sedã e hatch, teve as vendas quase dobradas depois da reestilização", é o que atesta Fabricio Biond, gerente executivo de Planejamento de Marketing da Volkswagen. "Em segmentos de valor mais alto, os efeitos de uma renovação do carro são maiores, pois é uma compra menos racional. Quem paga mais de R$ 45 mil está menos preocupado com aspectos como desvalorização." Ele também acredita que haja momentos em que uma alteração é quase inevitável. "Quando lançamos um produto, geralmente a concorrência responde com promoções, mas ao longo do tempo só isso não mantém as vendas", conclui.