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Dirigindo acima dos 80

Não há limite de idade para dirigir, mas o motorista idoso deve ficar atento a sinais que podem identificar a hora de estacionar o carro de vez e assumir como passageiro

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A primeira carteira de habilitação e as outras que vieram com as consequentes renovações fazem parte de um acervo do aposentado


Perto de completar 80 anos em setembro e com 58 de carteira de habilitação, o aposentado José Egídio Sobrinho é um dos motoristas brasileiros que estão na terceira idade e ainda não abandonaram a direção do veículo. Nascido em 1931, em Jequeri, Região da Zona da Mata mineira, tirou sua carteira quando morava no Rio de Janeiro, então capital federal. "No tempo da Segunda Guerra Mundial a situação era muito difícil. Trabalhei no interior mineiro desde muito jovem no ramo do comércio até 1945 e depois mudei para o Rio, onde fui motorista de antigas jardineiras."

De volta a Minas Gerais, em meados dos anos 1950, José Egídio abriu um negócio na antiga Feira dos Produtores de Belo Horizonte. "Eu era dono de um mercado e foi quando comprei meu primeiro automóvel, uma camionete americana Studebaker 1951, com motor de oito cilindros. Naquela época, o trânsito da cidade era muito diferente de hoje. Era possível estacionar a qualquer hora e local por toda a extensão da Avenida Afonso Pena”, recorda. Atualmente, o aposentado tem um Toyota Corolla 2008 e, até o fim do ano passado, trabalhava ainda como vendedor, percorrendo as estradas de Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo.

Ele destaca que dirigir sempre foi um grande prazer e que não descuida da saúde para estar sempre apto para os exames de renovação do Detran. “Faço uso apenas de um medicamento para controle da pressão arterial e bebo uma cervejinha de vez em quando, mas sem abusos.” José Egídio coleciona todas as carteiras de motorista a cada vez que são renovadas e guarda com o maior zelo o documento expedido quando da primeira aprovação.

Levando em consideração que a audição e a visão, sentidos essenciais para uma condução segura, não são mais as mesmas de um jovem motorista, a renovação da carteira de habilitação para quem tem mais de 65 anos ocorre a cada três anos. Os motoristas abaixo dessa idade renovam o documento a cada cinco anos. Em cada renovação, os condutores idosos passam pelo mesmo exame médico ao qual são submetidos todos os motoristas, independentemente da idade. Esses exames indicam se o motorista está apto ou não a continuar dirigindo.

PENDURANDO AS CHUTEIRAS

Enquanto o motorista estiver se sentindo bem para dirigir, poderá continuar no trânsito, mas sua saúde deve ser sempre acompanhada, e, a qualquer alteração que comprometa a segurança do idoso, ele deverá pensar em estacionar o carro de vez. O médico Dirceu Rodrigues Alves Júnior, diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), diz que é importante a percepção dos familiares quando algo está errado. “Muitos idosos sem condições de guiar insistem em continuar no trânsito. É nessa hora que os familiares devem intervir”, explica.

José Egídio faz questão de preservar o hábito e o prazer de dirigir

O especialista diz que não há idade limite para dirigir e que os idosos se envolvem menos em acidentes porque são mais prudentes, percebem o perigo com facilidade e geralmente não consomem álcool nem drogas. Apesar de toda a cautela, o motorista idoso deve ficar atento ao seu estado de saúde. “Para continuar dirigindo, o motorista deve ter atenção, agilidade mental e raciocínio, além de coordenação motora e percepção sensorial”, diz o diretor da Abramet.

Mesmo cumprindo todos esses requisitos, a aposentada Lourdes Beloni decidiu deixar o volante aos 65 anos. Tentou voltar ao trânsito aos 70, mas ficou insegura. “Fiquei cinco anos sem carro e, quando voltei a dirigir, fiquei com medo do trânsito, principalmente por causa das motos. Aí decidi parar de vez, mesmo tendo sido aprovada nos exames de renovação no Detran”, comenta a aposentada, atualmente com 73 anos.

ESFORÇO

O diretor da Abramet revela que o carro de uma pessoa idosa, se possível, deverá ter direção hidráulica, vidros, travas e retrovisores elétricos e até mesmo câmbio automático. “Quanto menos esforço o idoso fizer, melhor é, pois ele já passa por um processo degenerativo natural de músculos, tendões e coluna vertebral”, comenta. Outro cuidado é com a visão e o especialista afirma que o idoso deve evitar ao máximo guiar durante a noite.

 

A repórter Ana Crsitina Pimenta mostra como funciona o sistema de distribuição de vagas específicas para os idodos, que devem ter uma credencial própria no interior do veículo:

 

Vagas específicas para idosos em vias públicas e em estabelecimentos comerciais incentivam os vovôs e vovós a continuarem dirigindo e, enquanto estiverem em condições, devem prosseguir ao volante, pois esse contato com o automóvel é benéfico à saúde mental, segundo o médico. “O carro é o meio de contato do motorista da terceira idade com o mundo e, se tiver condições físicas e mentais, deve continuar usando o automóvel para ir ao supermercado, ao encontro com os amigos, casa dos filhos, à igreja e a todo lugar”, completa. Ele diz ainda que, sem o carro, o idoso tende a ficar depressivo, agravando os problemas de saúde comuns na terceira idade.