A fascinação dos espectadores na frente da TV aos domingos, assistindo a provas de automobilismo, envolve perseguição, velocidade e habilidade. Mas não é um exagero dizer que parte da audiência queria estar atrás do volante, experimentando a sensação de acelerar sem medo de radares e poder fazer ultrapassagens sem se preocupar com faixa de direção e outras restrições impostas pelo Código de Trânsito Brasileiro. É bem verdade que no cotidiano há condutores que se acham verdadeiros pilotos e fazem das vias verdadeiras pistas, colocando em risco a segurança de pedestres, passageiros e motoristas.
Apesar da velocidade ser o principal ingrediente das disputas automobilísticas, há muito mais que separa o condutor de todos os dias dos pilotos de competição. Aliás, a velocidade final é mais uma conseqüência do que objetivo primário. Roberto Manzini, ex-piloto de marcas e diretor do centro de pilotagem que leva seu nome, é um especialista no assunto. A escola oferece, no autódromo de Interlagos, em São Paulo, os cursos de direção preventiva e de piloto de competição, ambos endereçados a condutores sem experiência prévia em condução especializada.
Manzini explica que o piloto profissional, mais do que qualquer outra coisa, conhece o carro que está conduzindo: “Ele sabe frear e usar a força motriz. Guiar sob condições adversas de aderência sem destruir o carro”. Além disso, Manzini afirma que o motorista tem maus hábitos, vícios de direção, se posiciona mal ao volante, não faz curva com movimento constante e não se dá conta, por exemplo, de que, em uma ultrapassagem, quanto mais tempo emparelhado com o outro veículo, maior o risco de acidentes.
Redução
O conhecimento do veículo é o principal tema abordado nos cursos. Uma das técnicas utilizadas é aumentar o grau de dificuldade das tarefas até que o aprendiz erre. Dessa forma toma consciência de que há um limite na condução. Temos convênio com seguradora e os condutores que passam pelo curso conseguem redução de 28% nos acidentes em que há perda total do veículo”, exemplifica Manzini.
Já no que diz respeito à forma específica de condução em pista, o ex-piloto elabora: A principal diferença é que no circuito você muda de faixa sem dar seta. No autódromo, o limite é fisico, é o do carro. Na via o motorista deve respeitar o limite legal”.
Experiência
Já Roberto Pupo Moreno, que correu na Fórmula 1 e atualmente está radicado nos Estados Unidos e participa de provas da Fórmula Indy, vê duas grandes distinções. “Na corrida a preocupação é em antecipar as próprias reações para poder, por exemplo, fazer a curva da melhor maneira possível. No trânsito devo tomar cuidado com os outros motoristas. Mesmo quando o sinal está verde, não dá para passar sem ter ao menos um pouco de cautela”, pondera.
Moreno também sente que a possibilidade de afundar o pé nas pistas não tira o prazer de conduzir esportivamente, é mais uma questão de circunstância. Ele lembra que, quando morava na Europa, gostava de acelerar nas estradas sinuosas da França e da Itália. Já nos Estados Unidos, a coisa é diferente. “Aqui, só tem reta, não tem graça. Acelerar assim, qualquer um faz. A graça para o piloto está em tirar o máximo da curva. Geralmente, fico a até cinco milhas por hora (8km/h) abaixo do limite”, reclama.
O piloto virá ao Brasil para a estréia da Fórmula GT3, no autodrómo de Tarumã, no Rio Grande do Sul, e aqui é ainda mais cauteloso. “Como em todo lugar há bons motoristas e maus motoristas, mas, além da condição das vias, no Brasil os motoristas não esperam que você dirija rápido. Aí o cuidado tem que ser redobrado”, conclui.