Muitos consumidores são surpreendidos ao chegar no posto de combustíveis e constatar que nem todo tipo de diesel é apropriado para os veículos fabricados este ano, seja leve ou pesado. O engano pode trazer amolação, pois os motores dos modelos 2012 estão na fase P7 do Proconve, que estabelece padrões mais baixos de emissões.
Saga de iniciante
O óleo diesel S-50 dura menos, custa mais e não está disponível em todos os postos. Saiba o que pode acontecer com o veículo ao abastecer com combustível inadequado.
Era uma sexta-feira 13 quando o farmacêutico José Alceu de Resende adquiriu em São João del-Rei, região Central de Minas Gerais, uma picape VW Amarok. Ele foi informado que o veículo só deveria ser abastecido com o diesel S-50, com baixo teor de enxofre. O funcionário da concessionária Cacel advertiu o comprador que naquela cidade nenhum posto comercializava o combustível, indicando um a aproximadamente 20 quilômetros, na estrada para Lavras. Como havia muito pouco combustível na picape, o farmacêutico resolveu abastecê-la de uma vez. Chegando ao posto, o frentista disse que eles realmente comercializavam o diesel S-50, porém o reservatório estava vazio.
Com o tanque ainda mais sedento, José Alceu arriscou a volta até Lagoa Dourada, onde reside. Ele conseguiu chegar em casa quando o computador de bordo marcava a “emocionante” autonomia de zero quilômetro. Imediatamente ele foi até o posto de combustível da cidade. A boa surpresa foi que o estabelecimento, na cidade de apenas 12 mil habitantes, já vendia o diesel com baixo teor de enxofre. Mesmo tendo o combustível por perto, José Alceu teme “ficar na mão” durante uma viagem mais longa e se espanta de uma cidade como São João del-Rei, com cerca de 85 mil habitantes, não tê-lo disponível.
DE 100 EM 100 Responsável pelo planejamento da distribuição, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) informou que existem postos de revenda do S-50, pelo menos, a cada 100 quilômetros. O universo abrange os postos em que o número de bicos para abastecer motores a diesel é superior ao de bicos para veículos com motores do ciclo Otto. De acordo com a ANP, a perspectiva é de que mais postos passem a fornecer espontaneamente o S-50, já que os veículos fabricados em 2012 movidos a diesel só podem rodar com óleo desse tipo.
BATATA QUENTE Mas, se depender dos proprietário de postos, a comercialização espontânea do S-50 está comprometida. Segundo Paulo Miranda Soares, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo no Estado de Minas Gerais (Minaspetro), os postos foram obrigados a vender o combustível. “Além de cada litro ser 15 centavos mais caro que o diesel convencional, o S-50 é um combustível muito sensível, obrigando o vendedor a drenar o tanque toda semana e a trocar os filtros com o dobro da frequência anterior”, afirmou. Além disso, de acordo com o presidente da Minaspetro, não há demanda. “Até 31 de dezembro os fabricantes de caminhões trabalharam em três turnos e encheram os pátios de veículos com tecnologia Euro 3. Como os veículos a diesel com tecnologia Euro 5 são de 10 a 15% mais caros, os frotistas dão preferência aos Euro 3.”
E SE EU USAR O COMUM? De acordo com Luso Ventura, da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil) o uso do diesel comum deve ser evitado ao máximo nos veículos equipados com a tecnologia P7. “Mas em último caso, se for o único combustível disponível, pode-se usar outro tipo de diesel”, afirmou o engenheiro. Porém, o uso frequente do diesel comum provoca danos: na tecnologia SCR, a durabilidade do catalisador fica seriamente comprometida; já na tecnologia EGR, o diesel inadequado provoca o entupimento do filtro particulado e a corrosão das válvulas e do sistema responsável pela recirculação dos gases de escapamento.
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O que mudou
A partir de 2012 os veículos pesados entraram na fase P7 do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), que estabelece novos padrões de emissões de poluentes. Segundo o engenheiro mecânico Luso Ventura, da SAE Brasil, como a emissão de monóxido de carbono dos motores a diesel atuais está abaixo dos limites legais, todo o trabalho para atender o P7 foi feito para reduzir a emissão dos óxidos de nitrogênio e do material particulado. Para isso, além do uso obrigatório do S-50, existem duas tecnologias.
A tecnologia SCR (sigla em inglês para redução catalítica seletiva) é mais indicada para o uso em caminhões pesados. A redução de materiais particulados é feita pela regulagem da injeção de combustível. Já o óxido de nitrogênio, gás que gera efeito estufa, é tratado depois da queima, pela injeção do agente redutor líquido de NOx automotivo (Arla 32). Essa solução provoca uma reação química que transforma o óxido de nitrogênio em nitrogênio e vapor d’água. O Arla 32 é armazenado num tanque próprio e seu consumo é, em média, 5% do consumo de combustível.
Já o EGR (sigla em inglês para recirculação dos gases de exaustão ) é mais usado em veículos leves e médios a diesel. Neste sistema, parte do gás do escapamento é resfriado e volta para a câmara de combustão. Isso e o fato de se tratar de um gás inerte promovem a diminuição da temperatura de combustão, o que reduz a emissão dos óxidos de nitrogênio. Já o material particulado é submetido a um pós-tratamento num filtro.