No Brasil, de automóvel e futebol todo mundo entende um pouco. E quando o assunto é manutenção do carro ou a maneira certa de usá-lo, existem várias crendices populares, algumas verdadeiras e outras nem tanto. O motorista muitas vezes é induzido ao erro por frentistas de postos de combustíveis ou mecânicos despreparados e se não prestar atenção pode ficar no prejuízo. Para esclarecer algumas dúvidas, Veículos ouviu Reinaldo Nascimbeni, supervisor de serviços técnicos do setor de automóveis da Ford do Brasil, que mostra as verdades e mentiras sobre alguns procedimentos.
Existe algum problema em encher o tanque de combustível até o bocal?
De acordo com um consenso popular e manuais de proprietários de alguns fabricantes, o ideal é deixar o abastecimento prosseguir até o primeiro click automático da bomba, pois além disso pode danificar o cânister, elemento antipoluente que elimina os hidrocarbonetos que evaporam dos tanques de combustível. Mas Nascimbeni revela que o abastecimento pode ser feito até o segundo click automático da bomba, sem correr o risco de afetar o cânister. Ele afirma que o procedimento que pode danificar o carvão ativado do componente é a prática de balançar o carro para acomodar mais combustível no tanque.
Tanque com pouco combustível é sinônimo de problemas?
Para Nascimbeni, o único risco de se trafegar com pouco combustível é o de ficar no meio do caminho. Fora isso, ele não vê necessidade de se ter o tanque sempre cheio, principalmente para quem roda pouco. A gasolina tem prazo médio de validade de cerca de 90 dias depois do refino e depois disso corre-se o risco da formação de goma, que pode prejudicar o sistema de alimentação do motor. Para o supervisor de serviços técnicos da Ford, todas as gasolinas, inclusive as de alta octanagem, têm o mesmo prazo de validade. Mas a BR Distribuidora, empresa do grupo Petrobras, informa que a gasolina Podium tem durabilidade maior do que as outras, embora não revele qual o prazo. Já a Petrobras esclarece que não existe estudo que comprove a validade maior da gasolina Podium. Nascimbeni lembra que o álcool também tem validade um pouco maior do que a da gasolina.
E nos carros flex, é realmente necessário abastecer somente com gasolina nos primeiros dias de uso?
Pura bobagem, pois os motores flex foram projetados para trabalhar com álcool, gasolina ou a mistura de ambos em qualquer proporção e já saem de fábrica prontos para receber qualquer combinação desses combustíveis. Não há necessidade de usar somente gasolina nos primeiros quilômetros rodados.
É melhor abastecer o reservatório de partida a frio com gasolina Podium?
Nascimbeni reafirma que as gasolinas em geral têm durabilidade de 90 dias e como o sistema de partida a frio pode ficar muito tempo sem ser acionado, principalmente nas regiões quentes, a possibilidade de formação de goma aumenta. Nos motores flex, o tanquinho só é solicitado em temperaturas inferiores a 20 graus. “Por isso, não adianta nada colocar gasolina com maior octanagem, pois o que importa é a qualidade do combustível”, afirma. Ele revela ainda que em algumas regiões do país, como o Norte e Nordeste, não é preciso abastecer o reservatório de partida a frio e acrescenta que não há risco de ressecamento do compartimento ou de suas conexões. Nos locais em que o sistema é mais solicitado, o ideal é abastecer em quantidades menores para não correr o risco de a gasolina ficar velha.
Quando o frentista do posto completa o líquido do sistema de arrefecimento somente com água pode dar problema?
O sistema de arrefecimento deve ser abastecido com a mistura certa de água e etileno glicol, indicada pelo fabricante. De acordo com Reginaldo Nascimbeni, é comum que a água evapore, exigindo um reabastecimento a cada três meses. “Basta colocar meio litro de água filtrada, pois o etileno glicol continua lá no sistema”, diz o supervisor da Ford. Mas ele faz um alerta: se o carro exige a reposição de água semanalmente, é provável que haja vazamento. E nesse caso é preciso fazer o reparo e reabastecer o sistema com a mistura de água com etileno glicol.
Descansar a mão sobre o câmbio causa desgaste prematuro de componentes, como o trambulador?
O especialista da Ford afirma que o simples fato de descansar a mão sobre o câmbio não causa desgaste do trambulador, que faz a ligação entre a alavanca e as engrenagens. Ele revela que o problema é ficar movimentando a alavanca para a frente e para trás, com a marcha engatada, pois tal atitude pode danificar o sincronizador ou o seletor de engate.
Dirigir com o pé na embreagem realmente causa desgaste prematuro do sistema?
Sim. O simples ato de descansar o pé sobre o pedal, com o peso da perna, aciona o sistema e causa o desgaste do rolamento. Em casos mais extremos chega a danificar outros componentes da embreagem.
Existe algum problema em forçar os comandos elétricos dos vidros quando os mesmos chegam no final do curso?
Nascimbeni chama a atenção daqueles motoristas que têm o hábito de dirigir descansando o braço esquerdo sobre os comandos elétricos dos vidros, apertando insistentemente as teclas. O tique nervoso pode custar caro, pois ao forçar o sistema no fim do curso, seja com o vidro aberto ou fechado, o cidadão exige um esforço maior do motor, que pode aquecer. Normalmente, esses motores elétricos contam com uma proteção térmica e ao detectar o superaquecimento, param de funcionar. Mas Reginaldo Nascimbeni revela que, depois que resfria, o motor volta a funcionar, só que em alguns casos desprogramado.
Forçar a direção hidráulica insistentemente até o fim do curso pode causar danos ao sistema?
Virar o volante até o fim do curso, ao ponto de se ouvir um chiado, é certeza de problema. Nascimbeni explica que nessa situação o fluido do sistema aquece e pode afetar a durabilidade da bomba, chegando a comprometer o retentor e causar vazamento. Nas manobras mais complicadas, ele recomenda aliviar a direção quando começar a chiar.
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