Carro é mesmo um objeto de sonho, que pode vir muitas vezes na forma de um usado, encontrado em anúncios de jornal, feiras, agências ou concessionárias. E a compra é sempre carregada de emoção, pois, em muitos casos, trata-se de uma verdadeira "paixão à primeira vista". Mas, para evitar que se transforme em um pesadelo ou um casamento forçado, sem direito a divórcio, é preciso tomar alguns cuidados básicos antes de fechar o negócio e assinar o cheque.

LATARIA
É fundamental levar em consideração que um carro usado vale mais pela conservação da lataria e da pintura do que qualquer outra coisa. Portanto, peça a um lanterneiro para examinar o carro. Esse profissional, com certeza, poderá identificar se o veículo não se envolveu em acidente grave. Ele também pode detectar se foi realizado um serviço de reparo de qualidade. Se não for possível levar um lanterneiro, observe se as portas, capô, para-choque e tampa traseira estão alinhados ou se existem diferentes tons na pintura ou ondulações e pequenos amassados, que são sintomas de que o carro foi batido. Bolhas são sinais de ferrugem. Sempre examine o carro em locais claros e com a lataria seca, pois a aparência do veículo molhado pode enganar.

MECÂNICA
É sempre bom levar o mecânico de confiança para uma análise geral do carro. Ele pode identificar problemas mais sérios. Se não for possível, o comprador deve fazer um test-drive, observando se sai fumaça azulada do escapamento, sintoma de que o motor está queimando óleo e, em breve, precisará de retífica; se a caixa de marchas está com todos os engates perfeitos e se emite barulhos diferentes, como um ronco, por exemplo, que é sinal de problemas; se a suspensão range, ou permite que a carroceria balance muito ao passar por lombadas, o que significa que os amortecedores precisam ser trocados; se o volante está alinhado, pois, quando entorta em cima, é sinal de que algo também entortou embaixo; e se os freios estão funcionando perfeitamente (pedal não pode estar esponjoso, distância de parada não pode ser muito longa, entre outros).

SAPATOS
Observe bem o estado dos pneus, pois custam caro. Um pneu 175/70 (medida mais comum) custa em torno de R$ 250. Se o comprador tiver que trocar os quatro, vai gastar cerca de R$ 1 mil. Existem algumas malandragens de vendedores inescrupulosos, como virar o dano (rasgo, ovo etc.) para o lado de dentro do carro, dificultando a visualização por parte do comprador.

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QUILOMETRAGEM
Observar a quilometragem que aparece no hodômetro do veículo é importante, mas ela não é garantia de nada, pois atualmente existem fraudadores capazes de adulterar qualquer equipamento, seja digital ou analógico. Por isso, é fundamental que a quilometragem registrada no hodômetro seja compatível com o estado geral do veículo. Marcelo de Souza, da ADM Automóveis, explica que muitas vezes o veículo acusa uma quilometragem baixa, que não condiz com o desgaste avançado de pedais, volante, alavanca do câmbio e até revestimento de bancos. Nesses casos, provavelmente o hodômetro foi adulterado.

ABACAXI TROCADO
O comprador tem que ficar atento ao comprar um veículo que teve o motor trocado, para não levar um verdadeiro "abacaxi" para casa. O Detran passou a exigir o número do motor no ato da transferência. Existem muitos carros rodando por aí que tiveram o propulsor trocado, mas o antigo proprietário não providenciou a regularização junto ao Detran. Nesses casos, o comprador não consegue a transferência porque o número do motor não coincide com o que está registrado no órgão de trânsito.

Algumas agências recorrem a um serviço privado de pesquisa, que informa se o número do motor é o mesmo registrado no Detran. Outro problema gerado por essa exigência é que, em alguns veículos (como Fiat Marea, Ford Ranger, entre outros), o número do motor fica tão escondido que o comprador tem que levar o carro a uma concessionária, para que sejam retiradas algumas peças (o serviço é cobrado e não fica barato) e emitido um laudo informando o número do motor. Portanto, carro com motor trocado tem que ter nota fiscal do novo propulsor.

PARTICULAR OU AGÊNCIA?
Ao comprar um carro de particular, os cuidados devem ser maiores, principalmente com a documentação. Também é preciso cautela com algumas pessoas que se apresentam como particulares, mas que, na verdade, são vendedores profissionais não credenciados. Essas pessoas podem, inclusive, comercializar veículos salvados de seguradoras (os chamados Perda total), sem informar o cliente sobre isso. Se for comprar um carro em agências, prefira aquelas que já estão há mais tempo estabelecidas no mercado. Procure também informações sobre a idoneidade do estabelecimento, perguntando, por exemplo, a quem já fez negócio com a empresa.

FEIRAS
O cuidado deve ser dobrado nesses locais e o negócio somente deve ser fechado na segunda-feira (as feiras são geralmente nos fins de semana), depois de ampla consulta aos órgãos de trânsito sobre multas, queixas de furto, impedimentos etc.

CARROS PT
Outros "abacaxis" que circulam por ai são os carros batidos que são dados como "Perda Total" pelas seguradoras e acabam vendidos em leilões. Tem muita gente recuperando esses carros e vendendo como se não tivessem sofrido acidente grave. Além do problema da insegurança, o comprador desse tipo de veículo ainda tem o desgosto de não conseguir fazer seguro do veículo, pois as próprias seguradoras não aceitam (elas têm uma lista com os números de chassis desses carros), e não informam aos Detrans e ao público de uma forma geral (por meio de sites, por exemplo) quais veículos foram dados como Perda total. O que pode ser feito para evitar a compra de um carro PT é pesquisar junto às seguradoras para saber se elas fariam seguro desse veículo.

MICOS
Não custa nada fazer uma pesquisa de mercado para saber se o veículo que você está comprando não é daqueles carros que acabam em "casamento" longo e duradouro, em vez de um bom negócio.