Ao retornar de uma viagem pela Itália em 2006, a decoradora de festas Maria Lúcia Cançado trouxe na bagagem a paixão pelo pequeno Smart fortwo. “Vi ele em Florença e fiquei impressionada com o desenho e a praticidade no trânsito”, disse. Naquela época os brasileiros desconheciam os modelos supercompactos, muito comuns na Europa.
Veja fotos de alguns exemplos de compactos de nicho!
Focando no público mais jovem e disposto a gastar mais, a Audi trouxe ao Brasil o A1, apostando no sucesso do segmento. “Nosso modelo mais barato era o A3 Sport, comercializado por R$ 110 mil e o A1 veio para atender as vontades de um novo público que queria o primeiro carro de luxo”, explica o diretor de marketing e vendas da Audi do Brasil, Leandro Radomile. Apesar de mirar os jovens, o A1 acabou agradando também os homens com mais de 40 anos. O mesmo perfil foi percebido por Andréa Brasil, diretora da concessionária Mini de Belo Horizonte. “O desenho do Mini Cooper agrada aos jovens, mas a maior parte de nossos clientes são pessoas com mais de 35 anos, que se identificam com o carro e querem um modelo de design diferente e ao mesmo tempo prático e confortável”, diz.
Nicho mais popular
No final de 2009, a categoria de supercompactos no Brasil se resumia ao Fiat 500, Smart fortwo e Mini Cooper. Antes disso, somente o Volkswagen New Beetle representava a classe no Brasil, vendido em nosso mercado desde o início da década. Houve crescimento nas vendas de todos os modelos 'supercompactos' no Brasil. O Mini Cooper comercializou 1.635 unidades em 2010, um crescimento de 68,4% em relação ao ano anterior. O Smart fortwo vendeu mais 38,8% no mesmo período e o Fiat 500, 106,7%, considerando que o modelo foi lançado em outubro de 2010. No mês passado, a Fiat lançou a versão mexicana do 500, vendida no Brasil por a partir de R$ 39,9 mil. É o supercompacto mais barato a venda por aqui.
Já o Audi A1, que teve suas vendas iniciadas em 2011 para atingir um outro público, mas que também prefere os supercompactos, conseguiu a marca de 450 unidades vendidas em 60 dias. A meta, segundo o fabricante, é de fechar o ano com 2,5 mil unidades vendidas. Custando R$ 90 mil, o modelo de entrada da Audi no Brasil não passa despercebido pelas ruas, características de carros diferenciados. Mas os números da marca alemã mostra que este nicho está em expansão.
Veja as fotos detalhadas do Audi A1!
Quando chegou oficialmente ao Brasil, em 2008, a Mini oferecia a versão de entrada por R$ 92 mil. Há dois meses, as concessionárias da marca no Brasil vendem o Mini One, versão com uma lista mais magra de itens, mas o preço também emagreceu cerca de R$ 22 mil, mas o desenho, que leva o DNA da Mini - o mais importante para muitos consumidores da marca - é o mesmo. Para ser vendido por R$ 69.950, o Mini passou a ter ar condicionado manual, no lugar do digital, e o acabamento requintado deu lugar aos materiais mais simples, porém ainda manteve equipamentos importantes para a segurança, como os seis airbags, freios ABS e controle de estabilidade. “Com o Mini One, muita gente está migrando de carros tradicionais, como os sedãs e hatches para um Mini Cooper”, diz a diretora da concessionária autorizada da marca em BH.
Para ficar mais competitivo, sem deixar a identidade visual de lado, o Smart fortwo agora tem uma versão de entrada que custa R$ 49,9 mil. Se você pensa em luxo, esqueça, pois o carrinho tem acabamento mais simples para justificar o preço. O maior diferencial do fortwo é o sistema que desliga o motor automaticamente assim que o veículo para. O start/stop dessa versão, chamada de
micro hybrid drive (mhd), faz o carro consumir até 19% menos combustível, segundo a marca. O gerente da Minasmáquinas, autorizada Smart em Belo Horizonte, diz que as vendas do fortwo cresceram 30% em 2010 e que em 2011, por causa da versão mais barata, deverá aumentar mais 20%.
O Fiat 500 deixou de ser importado da Polônia e os novos modelos vindos do México ficaram com preços equivalentes aos de modelos já conhecidos, como Punto, Fox e até mesmo o Palio, que pode custar até R$ 50 mil se equipado com todos os opcionais disponíveis.
De fato herdamos mais a cultura consumista norte-americana, do que a praticidade dos europeus, talvez por isso, os micro-carros por aqui ficaram conhecidos como veículos 'cult', mas os últimos lançamentos mostram que e o Brasil está mudando essa tendência e absorve cada vez mais esse novo nicho.
Moda ou consciência?
Andréa Brasil diz que a compra de carros compactos é mais questão de consciência social do que modismo. “Esse nicho é uma tendência mundial, questão de reeducação e necessidade e não de modismo”, diz a diretora da Mini BH.
Se a metade da frota da cidade de São Paulo, por exemplo, fosse formada por micro-carros, como o Smart, os congestionamentos na cidade estariam extintos. O fortwo possui cerca de um metro a menos do que um carro convencional.
A decoradora Maria Lúcia Cançado, que conheceu o Smart na Itália, afirma que em nenhum momento se interessou pelo carrinho por modismo. “Foi paixão de verdade, independente de moda”, diz. Antes do Smart, Maria Lúcia, de 69 anos, tinha um Gol e a troca pelo fortwo foi um presente do marido. A exemplo do que ocorre em países europeus, com aval da legislação nessas localidades, Maria Lúcia costuma estacionar seu Smart em posição 90 graus, como as motocicletas. “As vezes é difícil achar lugar para estacionar, então encaixo o carro como se fosse uma moto, mas não é em todo lugar que faço isso, pois posso ser multada, por isso só estaciono dessa forma em ocasiões muito específicas e em lugares que eu já conheço”, explica.
Segundo ela, para suas necessidades semanais, como fazer compras e outros deslocamentos, o pequeno carro para duas pessoas não deve em nada em relação aos outros veículos. “Acho triste ver uma caminhonete enorme, um SUV gigante ocupando espaço no trânsito e transportando apenas uma pessoa, é até falta de consciência, além de dar muito trabalho em vias urbanas”, diz a decoradora, que também possui uma picape Fiat Strada Adventure para transportar seu material de trabalho.