Pensar em maneiras de parar um carro com o pedal do acelerador agarrado pode parecer uma situação nonsense, principalmente no século 21, quando a discussão sobre as tecnologias automotivas apontam para caminhos de vanguarda. Entretanto, a realidade exige que o motorista tenha esse conhecimento para se safar dos erros de projeto. Vide o caso Toyota, que se depara com a maior crise de sua história e em meio a uma série de recalls, paralisação de produção, pedidos de desculpas, erros assumidos e vê sua imagem profundamente arranhada (leia quadro abaixo) e faz as contas de um imenso prejuízo financeiro.
Como no Brasil a fábrica não tomou nenhuma atitude, mesmo com os relatos de casos graves (cinco foram publicados no Estado de Minas/Vrum), sendo que um chegou a provocar a perda total do veículo, a melhor forma é saber como parar o carro caso ele saia acelerado. A orientação da Toyota norte-americana é a seguinte:
- Manter o pedal do freio acionado com ambos os pés. Não bombear o pedal do freio, pois isso reduz o vácuo utilizado na frenagem.
- Se o veículo for automático (como ocorreu em todos os relatos dos Corollas brasileiros), mudar o câmbio para a posição neutro (N), parar o carro e desligar o motor.
- Caso não consiga mudar para o neutro, desligue o carro, isso não faz perder a direção e o freio, embora deixe ambos mais duros.
- Ao desligar o veículo, não retire a chave, apenas vire, para evitar o travamento da direção.
O professor de engenharia mecânica e um dos coordenadores do Centro de Tecnologia da Mobilidade da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Fabrício Pujatti, explica que, caso o veículo não seja automático, o motorista deve pisar nos pedais de embreagem e de freio. Pujatti entende as orientações da Toyota como uma forma de evitar o pânico (e também acidentes). Porém, ele ressalta que a central eletrônica do modelo é programada para cortar o giro do motor e que desligar o carro deve ser uma última alternativa.
Isso porque, quando o câmbio está na posição neutro e com a aceleração disparada, a central eletrônica corta a injeção de combustível a um determinado patamar – 7.000rpm, no caso do Corolla, segundo informação da Toyota. Caso o motorista desligue o carro, o freio perde a servo-assistência e fica mais pesado, o que pode tornar mais penosa a tarefa de parar.
É importante ressaltar que o problema somente ocorre nos modelos equipados com acelerador eletrônico. A Toyota passou a equipar o Corolla brasileiro com essa tecnologia, chamada de drive-by-wire, em março de 2008, que já foi lançado como modelo 2009.
Prejuízo
Desde que anunciou o recall do pedal do acelerador, a Toyota já perdeu cerca de US$ 30 bilhões, que corresponde a 20% do valor da montadora. O custo do recall é estimado em R$ 2 bilhões. Sobre os casos relatados com o Corolla brasileiro, a Toyota, via assessoria de imprensa, afirma que os carros passaram por um equipamento de diagnose, nas concessionárias, e que não foi detectada nenhuma anomalia e reafirma que o problema de todos ocorreu porque o tapete não estava fixado corretamente.
Freio
Além dos problemas com o acelerador, a montadora japonesa admitiu nessa semana problemas com o sistema de freio do Prius 2010. O modelo não é comercializado no Brasil, mas é tratado como uma das joias tecnológicas da marca, por ser o híbrido mais vendido do mundo. O problema do freio é no software, que se manifesta em terrenos acidentados.
Entenda o caso
Agosto de 2009
Quatro pessoas morrem quando um Lexus (marca de luxo da Toyota) perde o controle nos EUA.
Setembro de 2009
Toyota convoca 3,8 milhões de veículos para substituir o tapete, apontado como responsável por prender o acelerador no fundo em diversos modelos da marca.
21 de janeiro
Mais quatro morrem num Toyota que já estava sem os tapetes. A empresa convoca então 2,3 milhões de veículos, dizendo que a causa do acelerador preso no fundo pode ser também do mecanismo do pedal.
26 de janeiro
Toyota suspende a venda de oito modelos até encontrar a solução. São eles: Corolla, RAV4, Camry, Matrix, Avalon, Highlander, Tundra e Sequoia.
28 de janeiro
Mais 1,1 milhão de veículos no recall do tapete que agarra.
29 de janeiro
Recall anunciado para 1,8 milhão de veículos na Europa por causa do acelerador que prende.
31 de janeiro
Toyota apresenta solução para o pedal problemático.
31 de janeiro
Toyota faz recall de veículos da América Latina e África, que são importados dos EUA e Europa.
2 de fevereiro
Toyota admite problema no freio do Prius.
Veja mais sobre o caso dos recalls, incluindo os acidentes no Brasil
Executivo-chefe da Toyota pede desculpas por recall.
Megarecall: donos de Corolla assustados.
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Toyota terá gasto de US$ 2 bi no recall.