"Calibro toda vez que abasteço", diz, com firmeza, a técnica em telecomunicações Conceição Fonseca, enquanto espera na fila, com seu VW Fox, para colocar combustível. Alguns minutos depois, está Conceição enfrentando com paciência nova fila, até que chegue sua vez junto ao calibrador, confirmando a frase dita à reportagem. Lá, o frentista Gilberto da Silva já aguarda para ajudá-la na tarefa, incômoda para a maior parte dos motoristas. Conceição abre o porta-malas e faz menção de calibrar também o pneu sobressalente, mas o compartimento está cheio de objetos que dificultam a retirada do estepe, que acaba ficando para a próxima parada no posto.
À sua frente, o técnico de planejamento hidroenergético, Moretson Vasconcelos de Menezes, também num VW Fox, faz a verificação dos pneus, dizendo calibrá-los sempre que vai viajar, o que, no seu caso, significa todo fim de semana. Moretson garante que o estepe não fica esquecido.
BOM SENSO
Enquanto a atitude de Moretson é rara, apesar de correta, é como Conceição Fonseca que age a maior parte dos motoristas, lembrando de calibrar os pneus com certa frequência - muitas vezes ligada ao número de abastecimentos ou a antecipação de uma viagem - e deixando o sobressalente para "de vez em quando".
De acordo com o auditor do Instituto da Qualidade Automotiva (IQA), José Palácio, antes da preocupação com a calibragem toda semana (o que é o ideal) ou em, no máximo, a cada 15 dias, é importante que o motorista conheça o veículo. "Deve-se observar sempre o marcador, para ver se o número de libras não caiu muito entre uma calibragem e outra, o que evita uma série de aborrecimentos", orienta. Palácio ressalta que se a pressão costuma ser constante a cada semana e, de repente, constata-se que um dos pneus está com cinco libras a menos, pode ser sinal de problema, um prego, por exemplo. Por outro lado, se a calibragem é feita toda semana, sem perda de libras e, de repente, todos os pneus estão mais vazios, pode ser defeito no próprio calibrador do posto.
O mesmo vale para o pneu sobressalente. O especialista explica que não é errado conferir o estepe uma vez por mês, por exemplo, desde que o motorista observe, a cada calibragem, se não houve perda de libras. "Se baixar muito em um mês é recomendado que a calibragem seja feita em intervalos menores; mas, se é mantida, é possível esperar um mês, ou um mês e meio", pondera. "O importante é observar, conhecer o carro", enfatiza. Também não é errado calibrar o estepe com três ou quatro libras a mais, desde que especificado no manual do proprietário.
MOTIVOS
José Palácio acrescenta que é importante que se saiba o porquê da necessidade de se estar sempre conferindo os pneus. "O primeiro motivo é a segurança; o segundo, a economia e o desgaste", ressalta. Palácio explica que a calibragem fora dos padrões ? o que é estabelecido pelo fabricante do veículo e deve ser conferido no manual ou, muitas vezes, na tampa do bocal de abastecimento ? propicia um desgaste maior do pneu: "Se estiver além do normal, quando o veículo estiver rodando, estará atingindo a parte central do pneu. Além de um desgaste excessivo, o atrito com o solo fica reduzido a mais de 50%, o que acarreta problemas na segurança. Numa frenagem de emergência, o carro pode não frear no tempo esperado. Já, se estiver abaixo do especificado, vai forçar o talão, desgastando a lateral e na banda de rodagem, aumentando também o consumo de combustível".
Apesar de aparentemente óbvio, ele lembra que é importante ter certeza do número de libras especificado para cada carro: "Mesmo os pneus sendo os mesmos, o número de libras muda em função do veículo e da tecnologia aplicada". Logo, não dá para adivinhar, é preciso saber exatamente o que determina o fabricante de cada modelo.
Também é preciso estar atento à especificação determinada para carga máxima (automóvel com cinco pessoas e bagagem), quando é especificado o uso de três ou quatro libras a mais. Já, com relação à necessidade de se adotar uma carga média, por exemplo, no caso de uma viagem em que o veículo não esteja tão carregado, o especialista atenta para o fato de que, muitas vezes, a distância também influenciará. "Se for um percurso longo, acima de 100 quilômetros, por exemplo, deve-se colocar uma ou duas libras a mais; mas se for dentro da cidade, uma situação em que se dará carona para mais pessoas, não é preciso", diz.