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BR-040 apresenta aberrações de segurança que provocam acidentes graves

Trecho entre Belo Horizonte e Rio de Janeiro é mais uma que exemplifica o descaso do poder público, por manter pontos muito perigosos e fora de qualquer padrão técnico em termos da segurança nas estradas

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Foto:

FERIMENTOS AGRAVADOS - Outo crime. Motorista que cair na vala está perdido. Pode capotar ou ir para o outro lado da pista e os ocupantes do veículo sofrerão maior impacto consequentemente, os ferimentos serão agravados


A maioria dos motoristas nem percebe, mas enquanto trafega pelas principais rodovias que cortam Belo Horizonte, está sujeita a riscos que vão além da sua destreza (e prudência) ao volante ou das condições de manutenção de seu carro. Para a quarta reportagem da série, que mostra os perigos próximos às muretas de concreto que dividem as vias e outros pontos considerados armadilhas, o caderno Vrum percorreu parte da BR-040, sentido Belo Horizonte/Rio de Janeiro, e encontrou aberrações tidas como criminosas por especialistas em segurança nas estradas.

A série partiu de denúncias do instrutor de direção defensiva Rogério Mateus, da ALC Treinamento, preocupado com a ineficiência dos muros de proteção do Anel Rodoviário e rodovias que dão acesso à capital mineira. O instrutor percorreu diversos trechos com a reportagem, que também ouviu outros especialistas em diferentes áreas ligadas à segurança nas estradas, apontando graves problemas no anel, na BR-381 e na BR-262 (edições dos dias 26 e 30 de novembro e 3 de dezembro).

Buraco, sem nenhuma proteção, é crime. Trata-se de uma aberração. Além disso, não foram retiradas peças de acidente anterior, o que deve ser feito imediatamente para que não venham a causar outros. A situação ainda é agravada pelo mato alto, que dificulta a visibilidade do perigo à frente



Nesta quarta reportagem (veja as outras nos links ao lado), a equipe do Vrum voltou a campo e ampliou os pontos levantados por Rogério, questionando trechos apontados por ele e outros pontos da BR-040. Além do próprio instrutor, comentam as fotos a seguir o engenheiro mecânico pós-graduado em engenharia de segurança do trabalho Décio Luiz Assaf, membro do Comitê de Segurança Veicular da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil); o engenheiro civil e de segurança e professor do Cefet-MG Santelmo Xavier Filho; e o professor da UFMG e especialista em engenharia de transportes Ronaldo Guimarães Gouvêa.

Já o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), responsável pelo trecho, não respondeu até o fechamento desta edição.

TRIO ASSASSINO - O meio=fio, o poste e a canaleta causarão graves acidentes, caso sejam atingidos, impossibilitando a ação preventiva doas muretas. O tampão deveria estar no nível da pista. Aliás, seguindo a faixa branca deveria haver outro muro de proteção, livrando o carro de todos esses obstáculos. Aqui é como se não existisse a mureta de proteção



Palavra de especialista
Santelmo Xavier Filho,  engenheiro civil e de segurança


Armadilhas fatais


Em algumas situações, as defensas ou barreiras apresentam discrepâncias do seu real objetivo, que é o de redirecionar veículos para a pista de rolamento, sem causar grandes acidentes, proporcionando eficácia para pequenos ângulos de incidência e velocidades de até 96km/h. Podem ser de aço ou concreto. Em algumas situações, inclusive, o contato com as barreiras é dificultado por canaletas e saídas de água. As defensas somente funcionam quando construídas subsequentemente, mas são às vezes seccionadas para conter postes de iluminação, inclusive com base saliente para a rodovia, o que constitui um risco adicional. Um choque nesse ponto significa um acidente muito grave, como se a colisão fosse contra um obstáculo rígido fixo, com potencial para uma desaceleração violenta e a consequente geração de muita energia de deformação do veículo. Aa rodovias nacionais apresentam armadilhas para os incautos motoristas. Ruim de dia, pior à noite, quando a visibilidade diminui. Péssimo com chuva, neblina, fumaça, e impraticável se a elas se sobrepuser a diminuição de visibilidade noturna.

ABISMO ABERTO - Motorista que buscava socorro já morreu no local, por não perceber, à noite, existência de abismo entre as muretas. Existe a necessidade de uma tela protetora usada entre viadutos. Também nesta situação seriam indicados muros mais altos, além de se resolver o problema dos postes


MURETA ALTERADA - A barreira modificada na base não garante a eficácia de seu objetivo de projeto. Caso a roda do veículo atinja o vão, o estrago poderá ser enorme, ocasionando problemas de perda do pneu, da roda e da suspensão. Isso se não ocorrer capotamento e envolvimento com demais veículos que o estiverem seguindo


CANTO DE SEREIA - As árvores enfeitam, mas deveriam estar protegidas por guard-rail nos dois lados. A existência de canaleta exatamente do lado onde não há proteção, inclusive, pode colaborar para uma perda de controle do veículo, que pode capotar ou atingir as árvores. Além disso, a curava tende a jogar os carros para a tangente ao seu traçado, o que reforça a necessidade da estrutura metálica de proteção também do outro lado


PONTA PERIGOSA - Lâmina solta representa grande perigo. Situação deveria ter sido corrigida logo depois do acidente que danificou a estrutura. E o mato alto prejudica a visibilidade


ILUMINAÇÃO CEGA - As situações são incorretas. O poste deve ser todo envolvido pela barreira de concreto, como se ficasse dentro dela, sem quinas ou protuberâncias. No primeiro exemplo, a base o próprio poste podem casuar sérios acidentes com perigo de capotamento, muito antes que a barreira exerça sua função de proteção...


... O poste inclinado devido acidente ocorrido excede a largura da barreira, invadindo a pista de rolamento. O chumbamento da base foi afetado pelo choque anterior, o que compromete sua fixação. Para amenizar, como os postes estão assim fixados por um logo trecho, deveriam ser protegidos por lâmina de guardrail