Foram construídas armadilhas ao longo de nossas estradas. O instrutor de direção defensiva Rogério Mateus é enfático, quando aponta obstáculos aparentemente inocentes ao longo das rodovias que chegam a Belo Horizonte. Obstáculos que são nada menos do que pontos perigosos à espera de muitas vítimas. “Imagine um aeroporto. A pista é limpa. O avião toca o solo, não tem mais nada. Com as estradas acontece o contrário. Põem tanta coisa que até os muros de proteção viram perigo”, afirma Rogério Mateus, mostrando como as muretas de concreto, que dividem as pistas, passam de protetoras a assassinas.
Leia a primeira matéria da série:
Muros que dividem pistas do Anel Rodoviário de BH viram armadilhas para motoristas
Funcionário da empresa de treinamento ALC, Rogério Mateus viaja cerca de 300 quilômetros por dia e observa trecho a trecho de cada rodovia com olhos de quem foi piloto de teste de montadora por 21 anos e sabe o que pode ser fatal em um acidente. E o perigo não está somente na construção antiga do Anel Rodoviário, reportagem do último sábado. Na segunda matéria da série que mostra as mazelas escondidas nas muretas de proteção e em outros pontos das rodovias, o caderno Vrum aponta fragilidades da Fernão Dias, ou BR-381 (sentido São Paulo). Os pontos foram levantados por Rogério e comentados por três especialistas com formações distintas – Geni Bahar, consultora de segurança de tráfego em estradas; Eduardo Tondato, engenheiro de segurança rodoviária; e Décio Luiz Assaf, membro do Comitê de Segurança Veicular da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil) –, que apontaram os erros e suas consequências.
Em nota enviada à reportagem, a Autopista Fernão Dias, responsável pela administração da BR 381 de São Paulo a Belo Horizonte, informou que está levantando os pontos críticos da via e estudando, junto à Agência Nacional de Transportes Terrestres, como corrigi-los.
Palavra de especialista
Morte quase certa
Eduardo Tondato
engenheiro de segurança rodoviária
A primeira coisa é que a barreira de concreto tem que ser contínua (sem poste com base de concreto no meio, sem abertura). A base de um poste, por exemplo, vira obstáculo ao veículo. Outra coisa totalmente errada é a canaleta antes da barreira, pois a mureta perde totalmente a função de proteção. A sarjeta vira obstáculo e a barreira não tem mais como reconduzir o veículo à pista. Se o carro cair na sarjeta, pode tombar, a porta do motorista pegar na barreira e a tendência é capotar, tornando o acidente muito mais grave. Já a tela antiofuscante ajuda muito, pois evita o contato com o farol do lado oposto. Mas também não pode haver sarjeta nem degrau, pois o muro perde o sentido. E essa sarjeta enorme é assassina. Se bater, sem chances. Além disso, o meio-fio inutiliza a barreira de concreto, da mesma forma que os outros obstáculos. Não vejo sentido no passeio antes da mureta. Deveria ser eliminado. E a descida de água também está incorreta. Criou-se um dente e a tendência do carro que bater ali é capotar. Conforme a velocidade, os ocupantes morrem.