Grupos mais fortes e unidos, carros reforçados e ideias ecologicamente corretas. Tudo isso faz parte do cardápio mineiro apresentado na 17ª edição nacional da Competição Baja SAE Brasil-Petrobras, cujas provas começaram na quinta-feira e terminam amanhã, em Piracicaba (SP). O evento, realizado todos os anos em âmbito regional, nacional e internacional, é promovido pela Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE), com o objetivo de estimular a criatividade e o espírito de equipe entre estudantes de engenharia que constróem o próprio carro, avaliado desde o projeto até um enduro de resistência, passando por provas estáticas e de segurança. Este ano, Minas Gerais é representado por quatro equipes, dentre as 67 inscritas na competição.
VOLTA POR CIMA Depois de "abortar" a participação no ano passado, como relatam os próprios integrantes, a equipe da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) retorna com expectativa alta. O grupo renovou todo o projeto do baja, que, segundo os estudantes, já estava ultrapassado, e privilegiou a organização da equipe, ponto fundamental para alcançar bons resultados. A principal mudança é estrutural. "Vínhamos desenvolvendo um veículo com perfil cada vez mais leve, que é uma tendência na competição, mas resolvemos investir no aumento da confiabilidade, apesar de um acréscimo de massa, que ficou dentro do esperado", conta o piloto Diego Correia Martins.
Outra novidade é um sistema termoelétrico capaz de converter parte da energia térmica perdida com o funcionamento do motor (que é padrão de 10cv) em energia elétrica, suficiente para fazer funcionar a parte eletrônica do veículo. "Esse tipo de sistema nunca foi apresentado em minibajas. A potência que gera é capaz de manter toda a eletrônica do carro, mas temos uma bateria como resguardo", explica Diego. Entre os componentes eletrônicos, além dos sistemas de informação em tempo real sobre velocidade, nível de combustível etc., a equipe desenvolveu um afogador eletrônico. "Evita ter que sair do carro, durante o enduro, para ligá-lo de novo", acrescenta a capitã da equipe, Bruna Luíza Nolli. Visando a ergonomia e conforto, outra inovação foi a coxinização do motor, buscando atenuar as vibrações sentidas pelo piloto durante o enduro, que dura quatro horas em terreno bastante acidentado.
BUSCANDO SALTOS Representante do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG), a equipe Cefast também chega com muita expectativa. "Na última competição regional vencemos o enduro e ficamos em quarto lugar geral, duas posições acima do alcançado no nacional do ano passado. E estamos batalhando para subir mais posições", garante o capitão, Felipe Santos. A inovação está na transmissão, com caixa de redução e carcaça usinada em alumínio. "Conseguimos mais redução, levando a mais torque e também velocidade final", explica Felipe, acrescentando que também a suspensão ganhou duas molas em série, resultando em mais conforto e melhor dinâmica do veículo. Sem deixar o espírito ecológico de lado, a carenagem é feita de garrafas pet e, seguindo o já praticado ano passado, óleo e resíduos de componentes são doados para setores específicos que fazem o reaproveitamento.
ESTREANTES CONTRA O TEMPO Fechando a lista das representantes da capital, estreia na competição o Centro Universitário Una campus Raja, cuja primeira turma de engenharia mecânica cursa o 6º período. "Decidimos fazer um projeto em julho e começamos efetivamente em outubro. O carro foi construído em seis meses", afirma o capitão Thiago Henrique Vieira. Por ser iniciante, o grupo decidiu por um projeto básico, buscando fazer um veículo leve – em torno de 160kg –, sem deixar de dar atenção à resistência. "Primeiro estamos aprendendo a fazer o carro. Eu e outros integrantes estivemos no regional do ano passado, que foi aqui em Minas, para observar os recursos usados pelas equipes. Foi um grande aprendizado e estamos confiantes", diz.
BORRACHA RECICLADA Um degrau acima (ano passado a equipe participou pela primeira vez e foi considerada a melhor entre as estreantes), a equipe Komiketo, da Universidade Federal de São João del Rei, aposta no desenvolvimento de materiais ecologicamente corretos. O grupo fez o reaproveitamento de borracha de pneus, que foi triturada e misturada a uma resina, resultando numa espécie de plástico, usado em componentes como a caixa de direção e os mancais. "Também usamos ligas de aço e alumínio, desenvolvendo um carro mais leve e ao mesmo tempo robusto", afirma o capitão Josimar da Silva Duque, lembrando que o peso do veículo, agora com 155kg, foi reduzido em 50kg em relação ao ano passado.
DESISTÊNCIA Aprimorando o projeto iniciado há dois anos, a UFV Baja, da Universidade Federal de Viçosa, buscou melhorar o que já estava pronto, dando atenção especial a suspensão, frenagem e direção. Às vésperas da competição, no entanto, a equipe optou por não participar, tendo em vista não ter conseguido terminar o carrinho como desejava.