Até 2014 todos os carros produzidos no Brasil serão equipados com airbag e ABS, por força de lei, já aprovada pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran). Entretanto, caso os dispositivos de segurança se tornem realidade, o país poderá produzir uma frota de carros anacrônicos, equipados com itens modernos, mas sem exigência para necessidades básicas como cintos de três pontos retráteis e encosto de cabeça para todos os ocupantes. A médica neurocirurgiã do Hospital de Pronto-Socorro João XXIII e da Polícia Militar Denise Marques faz parte da Liga Mineira do Trauma e afirma que o item mais importante para a segurança é o cinto de segurança de três pontos, seguido pelo encosto de cabeça. Na opinião da médica, equipamentos como airbag e ABS são acessórios ao cinto e os motoristas precisam de educação para utilizá-los corretamente.
De acordo com informações da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, o cinto é eficaz em impedir a ejeção do ocupante e em diminuir a ocorrência de lesões no tórax e na cabeça. Mas os membros inferiores e superiores e, principalmente, o pescoço não são protegidos. O que o cinto não pode prevenir e até contribui para que aconteça é o ?efeito chicote? ? o movimento brusco para frente e para trás da cabeça, capaz de provocar fraturas na coluna cervical e até lesão medular ?, principalmente quando o apoio de cabeça não está posicionado corretamente.
Para Denise, a conscientização do uso do encosto de cabeça começa pelo passageiro da frente, que deve posicioná-lo de forma que englobe toda a cabeça, ?como se abraçasse com a mão?. Caso o encosto não esteja bem posicionado, em caso de acidente pode acontecer uma lesão. Entretanto, ela lamenta que grande parte dos carros vendidos no país não tenha como item de série e, muitas vezes nem como opcional, o encosto de cabeça para passageiro central traseiro.
Cifras
Se o airbag e ABS não são prioritários na opinião da médica, movimentam muito dinheiro. A TRW investiu R$ 15 milhões para iniciar a fabricação do airbag no país. O gerente de desenvolvimento de negócios da TRW, Nivaldo Siqueira, entende diferente e não considera que um componente de segurança seja prioritário em relação ao outro. ?Não classifico uma ou outra como a mais ou menos eficiente. Existem algumas tecnologias complementares, que atuam em momentos diferentes. O cinto tem atuação antes, durante e depois do acidente. O airbag atua quando ocorre o acidente e o ABS proporciona maior dirigibilidade e pode evitar o acidente?, avalia Siqueira.
Além do airbag, TRW também produz airbag e cinto de segurança. Porém, os dois itens recém-enquadrados pela lei têm preço elevado em relação aos carros mais comercializados no mercado nacional. Geralmente vendidos em pacotes, airbag e ABS custam cerca de R$ 2,5 mil.
Anacronismo - Pulando etapas
Lei exige uso de airbag e dos freios ABS, mas ainda faltam equipamentos básicos de segurança como apoio de cabeça e cinto de três pontos retrátil para todos os ocupantes