Nenhum modelo representa melhor a Chrysler do que o 300C, que recupera a linhagem do clássico C-300, de 1955. O lançamento do 300C em 2004 marcou o renascimento do prestígio da marca, que voltou a contar com um modelo topo de linha com tração traseira e jeito de carro mais caro, amparado na plataforma derivada do Mercedes-Benz Classe E da época (fruto da aliança Daimler-Chrysler). Era mais ou menos como um hambúrguer: um prato com raízes na Alemanha e bem preparado pelos americanos. Quando mudou no ano passado, nada mais esperado do que a decisão de aparar as arestas do modelo original, deixando a base e suavizando a personalidade ianque, para vender bem em outros cantos do mundo. Trata-se de uma exigência da controladora Fiat, que vende o 300C como Lancia Thema na Europa. Depois de dois anos, chega a vez de o 300C retornar ao Brasil vindo do Canadá em uma única versão de seis cilindros, por R$ 179.900. O preço fica entre os dos sedãs alemães médios e os dos médios-grandes.
Aquele visual algo malévolo, que serviu para conquistar rappers, preparadores e mais de 430 mil consumidores, foi em parte suavizado. Os faróis ganharam contornos espichados, demarcados pelas luzes de rodagem diurnas em LEDs e pelos fachos em xênon. As laterais ostentam vincos, que são quebrados pelos para-lamas largos. A agressividade é intensificada pela linha de cintura alta e pela pequena área envidraçada. A traseira manteve as lanternas verticais, agora divididas por friso, um recurso estilo art déco, cujo maior símbolo é o próprio edifício Chrysler, em Nova York.
NOVO SEIS O modelo chega com motor V6 3.6 Pentastar, que desenvolve 286cv de potência (a 6.350rpm) e 34,7 kgfm de torque (a 4.650rpm) e câmbio automático ZF de oito marchas. A dupla dá fôlego aos 1.814 quilos do grandalhão, possibilitando acelerar até os 100km/h em pouco menos de 8 segundos e conseguir um consumo médio de 9,5km/l (cidade e estrada). O V8 5.7 Hemi, de 363cv, está sendo homologado, enquanto o 6.4 Hemi, de 471cv, do SRT-8, está passando por mudanças, o que atrasará a chegada do 300 mais bravo. O sedã não nega a forma, com acelerações vigorosas auxiliadas pelo câmbio de passagens suaves, porém sem trocas sequenciais. A direção é leve em baixas, ajudando nas manobras, porém ganha peso em alta. Os freios são capazes de estacar o entusiasmo, enquanto a suspensão independente se escora nas rodas aro 18 em pneus 225/60. Mesmo sendo mais confortáveis do que as rodas aro 20, dispensadas na versão importada, o conjunto repassa imperfeições em pisos degradados, quebrando o encanto da cabine bem isolada.
A despeito dos 5,04metros de comprimento, 1,90m de largura, 1,48m de altura e compridos 3,05m de entre-eixos, o espaço é ideal para quatro. Embora conte com cinto de três pontos e encosto, o passageiro central traseiro é incomodado pelo console e túnel de transmissão. O porta-malas acomoda 462 litros. O acabamento de bom nível conta com superfícies macias e couro nos bancos, volante, painéis de porta e parte superior do quadro de instrumentos, com opção de tom bicolor preto e bege. O menu inclui preferências americanas: pedais ajustáveis eletricamente, tal como o volante e os bancos dianteiros (o do motorista com duas memórias e ambos com aquecimento e ventilação), tela sensível ao toque de 8,4 polegadas e até porta-copos aquecidos ou refrigerados, fora itens previsíveis, como ar-condicionado com duas zonas, direção eletro-hidráulica, som com DVD e conexões auxiliares, ABS com EDB, controles eletrônicos de tração e estabilidade e seis airbags (frontais, laterais e cortina). Mas tudo é controlado na central, que arrisca no máximo um espanhol. A garantia é de três anos e a Chrysler quer vender 1 mil carros este ano.