Com o preço do combustível nas alturas, ter um veículo flex já não garante a economia na hora de abastecer. Nesse cenário, o gás natural veicular (GNV) volta a figurar como alternativa atraente, já que o custo do quilômetro rodado costuma compensar os gastos com a adaptação do veículo. Porém, se por um lado o combustível alternativo é mais barato, a notícia que corre por aí é que após a conversão para o GNV o veículo passa a visitar a oficina com maior frequência.
De acordo com o engenheiro mecânico Sílvio Sumioshi, professor da Fundação Educacional Inaciana (FEI), o uso do GNV provoca o desgaste prematuro das válvulas dos cilindros e das velas. “Normalmente, esses componentes são refrigerados pelos combustíveis líquidos. Como o GNV é um gás, não cumpre essa tarefa, acarretando desgaste”, explica. Para minimizar o problema, Sumioshi recomenda o uso do combustível líquido nos últimos quilômetros rodados. “Assim, quando o veículo for desligado, esses componentes estarão refrigerados”, afirma.
Quanto às velas, o engenheiro recomenda adotar modelos de grau térmico mais frio, que permitem uma rápida dissipação do calor. Mas para o motorista que faz uso misto de combustível essa dica já não é interessante. Por outro lado, nos veículos movidos a GNV o óleo tende a durar mais, já que o gás não o contamina. “Quando o motor está frio, os pistãos ainda não estão dilatados. Nesse momento, uma pequena quantidade de combustível entra em contato com o lubrificante, contaminando-o”, revela o engenheiro.
PESADO Mas os prós e contras do uso do GNV extrapolam a parte mecânica, tanto que o mercado de usados torce o nariz para esses veículos, que podem ser desvalorizados. Um dos primeiros problemas é o ganho de peso, cerca de 70 kg. “Para não sobrecarregar os pneus e a suspensão, é preciso retirar esse peso da capacidade de carga do veículo, já que corresponde a mais uma pessoa dentro do veículo”, explica Sumioshi. Outro problema é a perda de espaço no porta-malas, devido à instalação do cilindro, já que a maioria dos modelos não oferece sequer a opção de fixar o componente na parte inferior do veículo.
A característica mais marcante dos veículos abastecidos com GNV é a perda de potência. Sumioshi explica que como se trata de um gás (que tende a se expandir), a admissão de ar dentro do cilindro é menor, resultando numa queima mais pobre do que nos carros abastecidos com combustíveis líquidos. O engenheiro conta que na Europa existem testes de injeção direta de GNV dentro dos cilindros, fazendo com que o carro não perca e sim ganhe potência. Segundo Sumioshi, os veículos com taxa de compressão maior terão melhor desempenho com GNV.
TRAUMA O GNV é normalmente usado em veículos que rodam muitos quilômetros por dia, como os de frotistas e taxistas, porém a falta de uma política que promova uma estabilidade no mercado de combustíveis provocou o trauma de quem já investiu no uso do gás e viu o preço do combustível aumentar até o ponto de já não ser mais interessante usá-lo. Segundo o taxista Aguimar Pinheiro, por esse motivo muitos de seus colegas têm receio de investir de novo no GNV.
Em uma pesquisa feita em cinco oficinas da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), credenciadas pelo Inmetro, o preço da conversão de GNV para um Palio variava entre R$ 1.400 e R$ 2.750. Além da diferença de preço habitual de qualquer produto ou serviço, esse valor pode variar de acordo com a geração do kit de conversão e a presença de equipamentos e acessórios, como uma válvula de abastecimento externa para que não seja necessário abrir o capô.
AVALIE VOCÊ MESMO
Confira esse resumo e decida se vale a pena usar o GNV.
PRÓS
Preço do combustível (instável)
Menos poluente
Óleo lubrificante dura mais
CONTRAS
Preço do combustível (instável)
Desgaste prematuro das válvulas e das velas
Perda de potência
Mais peso
Perda de espaço no porta-malas
Desvalorização
PARA CONVERTER
Saiba o passo a passo necessário para converter seu veículo para GNV
1. Solicitar autorização prévia no Detran
2. Procurar oficina instaladora registrada no Inmetro
3. Inspeção em organismo credenciado pelo Inmetro e licenciado pelo Denatran, que emite o Certificado de Segurança Veicular (CSV)
4. De posse do CSV, solicitar o novo licenciamento no Detran