Os petistas ortodoxos devem estar envergonhados com o resultado dos leilões na Bolsa de Valores de São Paulo em 6 de fevereiro.
O ágio auferido, apesar de contar com o peso dos fundos de pensão do Banco do Brasil (Previ), da Caixa Econômica Federal (Funcef) e da Petrobras (Petros), dá uma demonstração de quanto foi relapso o governo do ex-presidente Lula na solução dos problemas da infraestrutura aeroportuária brasileira.
O seu governo se vangloriou por trazer a Copa do Mundo de futebol de 2014 e as Olimpíadas de 2016 para o nosso país, mas não se preocupou com os encargos decorrentes. Nada podia fazer, pois pretendia usar as privatizações como motivação para manter o seu partido no poder. Agora a máscara caiu e os fatos evidenciaram o quanto estavam equivocados.
A outorga de rodovias no governo do ex-presidente Lula, tendo a menor tarifa de pedágio como critério de seleção, não seria a solução para o brutal investimento necessário na infraestrutura dos aeroportos. Os R$ 5 bilhões incluídos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para revitalização dos aeroportos são um exemplo da falta de seriedade para enfrentar o problema. Entre as exigências constantes nos editais constava a necessidade de um investimento na ordem de R$ 16,3 bilhões. Um analista do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA), em seminário realizado na capital, já citava que os R$ 5 bilhões seriam insuficientes.
Depois de um ensaio tímido em São Gonçalo do Amarante (RN), os leilões dos aeroportos de Guarulhos (SP), Viracopos/Campinas e Brasília(DF) foram substanciosos, gerando ágio médio de 347%. A quantia de R$ 24,5 bilhões superou em muito os R$ 5,482 bilhões do lance mínimo e guardadas as devidas proporções estava à disposição do governo desde 2003, quando o governo Lula optou por politizar a direção da Infraero, e, desde 2006, quando a demanda passou a emitir sinais inequívocos de crescimento forte.
O consórcio Invepar, vencedor do leilão do aeroporto de Guarulhos, formado pela empresa baiana OAS, pelos fundos de pensão e pela empresa administradora de aeroportos da África do Sul (ACSA), começa a esboçar as suas linhas de atuação, que entrarão em vigor a partir de maio. A construção de um terceiro terminal de passageiros para a Copa do Mundo preocupa a sua administração.
O consórcio vencedor do leilão do aeroporto de Brasília, formado pela Infravix (empresa do grupo Engevix) e pela argentina Corporation América, é o que menos investimento necessitará fazer, mas terá um retorno significativo com a nova tarifa de transbordo. Dos R$ 16,3 bilhões, investirá apenas R$ 2,8 bilhões. Coincidentemente a Engevix já tinha vencido o leilão do aeroporto de São Gonçalo do Amarante (RN).
Investimento pesado ocorrerá no aeroporto de Viracopos, R$ 8,7 bilhões. A disposição do executivo do consórcio vencedor de participar na construção de uma ligação ferroviária entre ele e a cidade de São Paulo é uma medida acertada. A área de Viracopos foi doada ao governo para a construção do principal aeroporto de São Paulo. A decisão do ministro da Aeronáutica, Délio Jardim de Matos, do governo do presidente João Figueiredo, de ceder parte da Base Aérea de Cumbica para a implantação do aeroporto de Guarulhos, contrariou os doadores.
Está sendo muito interessante ler os discursos de políticos petistas, que se envergonham de ter buscado nas privatizações os recursos necessários para a modernização de uma infraestrutura de décadas passadas. Alegam que o PT não privatizou, apenas cedeu em concessão a exploração de bens da União. Discussão infantil, pois cada governo adota uma estratégia para fazer frente aos problemas conjunturais. Agora, transferir o controle a um grupo privado só tem um nome: privatização.
O que deduzimos é que os petistas esclarecidos foram obrigados a buscar recursos para fazer frente a um problema emergente e se curvaram ao óbvio. As privatizações, além de alavancar recursos, servem para otimizar as estruturas administrativas, técnicas e operacionais. Muitas baixas ocorrerão nos quadros da Infraero e apenas os bons serão aproveitados por administrações de resultados.
Os petistas ortodoxos devem estar envergonhados com os resultados dos leilões, pois não souberam aproveitar o potencial do patrimônio da União nos oito anos de governo do ex-presidente Lula.
Público X Privado
Se alguém tem dúvida de que a privatização dos aeroportos só traz vantagens (com exceção dos corruptos, que se beneficiam com seus opacos contratos com terceiros), basta comparar os estacionamentos do aeroporto de Confins. Existem os localizados no próprio, administrados pela Infraero (ou por ela terceirizados) e outros – da iniciativa privada – a alguns quilômetros de distância. Quem para no do Infraero tem o carro castigado pelo sol e chuva (exceção do construído recentemente) e anda centenas de metros até o prédio principal do aeroporto. Quem para no administrado pela Minaspark tem o carro protegido, conta com serviço de lavagem e polimento, oficina para pequenos serviços mecânicos e vans gratuitas que levam os passageiros até o ponto de embarque. A única preocupação já demonstrada pelo estacionamento do Infraero foi colocar uma cínica placa alertando os usuários que não se responsabiliza por danos provocados por chuva de granizo. Apesar dos pesares, quem cobra mais? O do aeroporto, é claro. Alguem ainda acha que o governo tem competência para administrar seja lá o que for?