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75 anos do Morgan 4/4: Tradição pouca é bobagem

Roadster britânico é produzido desde 1936 com métodos bem antigos que envolvem construção artesanal e estrutura feita em madeira. Motor é o Ford Duratec 2.0

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O estilo é basicamente o mesmo desde 1955, mas na época já estava desatualizado diante dos concorrentes


O Porsche 911 é citado como o máximo da tradição pelo fato de manter a mesma silhueta básica desde 1963. Mas se depender do Morgan 4/4, o esportivo da marca de Stuttgart faz apenas mímica do antigo. O roadster britânico acaba de ganhar a série 75th Anniversary Edition. Sim, são 75 anos de lançamento, o que o tornaria o mais antigo automóvel produzido em série. Claro que o período entre 1939 e 1946 marcou um intervalo provocado pela Segunda Guerra Mundial. E o projeto foi atualizado, sendo diferente da base e motorização do original. Até o nome “mudou” um pouco, do original 4-4 para 4/4, adotado no lançamento da Série II em 1955, quando o carro se tornou o que hoje conhecemos.

Ou seja, trata-se de um setentão com corpinho de 56 anos. Curiosamente, quando o Morgan 4-4 original surgiu, em 1936, foi considerado um belo avanço para a companhia, que até então só fazia carros de três rodas e motor de dois cilindros em V. Até o nome marca esse avanço na numeração, escolhida por ser o primeiro modelo com quatro rodas e quatro cilindros, outra inovação para a empresa familiar, fundada em 1909.

MIGNON Como bom roadster, o Morgan é pequeno: são 3,89 metros de comprimento e 2,44m de distância entre-eixos. Para os que precisam levar mais pessoas, ainda há a versão Plus 4, com maior balanço traseiro e banco extra para dois. Se o desenho entrega as décadas de idade, o método de produção não evolui muito. As chapas de carroceria são em metal, só que são moldadas artesanalmente. Achou antiquado? Espere para ver a estrutura feita em madeira de freixo, que se une ao chassi de alumínio.

É um processo tão antigo que Jeremy Clarkson, apresentador do programa inglês Top gear, certa vez disse que os Morgans era feitos com “lama e folhas” em “uma fábrica tão antiga em Malvern que quando os trabalhadores de lá ouvem um avião turbo-hélice passar, ainda correm para se esconder” – referindo-se aos raids aéreos da Luftwaffe ao longo da Segunda Guerra. E olha que ele se referia ao Aero 8, que conta com motor V8 e construção mais avançada.

O fato é que a construção consegue economizar uns bons quilos na balança. Essa versão pesa 920kg contra 795kg do 1.6, mas ainda assim o peso é contido o suficiente para um bom desempenho do modelo com motor Ford Duratec 2.0 16V de 145cv e torque 19kgfm. Até os 100km/h, são necessários 7,2 segundos. Se o peso ajuda na aceleração e retomadas, não consegue vencer a aerodinâmica antidiluviana, que segura o carro a 190km/h. Como a rigidez torcional fica longe dos atuais esportivos, qualquer velocidade deve ter emoção multiplicada.

MODA ANTIGA

Falta espaço para os vidros e o modelo dispensa até o porta-malas

O interior também ecoa tradições no volante de madeira da Moto-lita e nos instrumentos Smiths. Em nome do purismo, a direção não tem assistência hidráulica, e os freios também dispensam assistência. Ainda que o interior seja repleto de madeira e couro, o conforto fica restrito à opção de aparelho de som CD/MP3, além da capota opcional – em um roadster do mundo antigo, ficar seco na chuva é o maior luxo. Nem um porta-malas foi incluído no projeto.

O 4/4 especial se diferencia dos demais por uma faixa em preto fosco com o nome da série sobre o capô bipartido, além de ter rodas raiadas aro 15 pretas, retrovisores e maçanetas polidos. A série pode vir nas cores preta, vermelha e branca. O preço também exibe essa exclusividade artesanal. São 32.291 libras esterlinas, o equivalente a R$ 92 mil, dinheiro que leva um BMW Série 5 para casa na Inglaterra. Se você gostou e quer entrar nessa moda saudosista, a família Morgan diz que entrega um novo modelo em qualquer parte do mundo em até 12 meses. Ou espere até sair a série de 100 anos de produção.