Está lembrado que o Vectra, há uns 10 anos, era o grande sucesso de vendas no segmento de médios no nosso mercado? E que foi substituído no pódio pelo Corolla, pois o sedã da Chevrolet não passa hoje de um remendo do Astra?
Essa virada nacional foi reflexo de um fenômeno mundial, pois a Toyota passou a GM para trás e se tornou a maior produtora mundial de automóveis.
Mas pagaram caro pela presença no pódio. A americana parou no tempo e no espaço, insistiu durante anos na produção de automóveis não adequados ao mercado, pagou pesados custos sociais e acabou falida.
A japonesa procurou acertar o gosto do consumidor, enxugar custos, tornar sua operação eficiente, produzir automóveis racionais, econômicos e de extrema confiabilidade. O sistema operacional da empresa, batizado de "toyotismo", virou padrão industrial de excelência, foi analisado e copiado em todo o mundo.
As vendas da Toyota aceleraram tanto que deu no que deu: foi para o espaço a confiabilidade de seus automóveis, pois seu controle de qualidade não acompanhou o ritmo da produção.
Já se percebiam, havia dois ou três anos, defeitos em seus modelos. Enquanto pipocava um probleminha daqui, outro dali, ninguém dava muita bola.
Até que, no fim de 2009, o acelerador de diversos modelos agarrou no fundo e provocou acidentes graves. O recall de mais de oito milhões de automóveis chamou a atenção da imprensa mundial.
E o pior: segundo disse na semana passada o presidente da empresa nos EUA, o recall pode não resolver o drama da aceleração involuntária, pois, enquanto ele corrige dispositivos mecânicos, não está descartada a hipótese de a falha se originar de sistemas eletrônicos.
Como desgraça pouca é bobagem, o Toyota Prius, que se tornou o mais famoso e vendido híbrido do mundo, apresentou problemas nos freios. E detectaram, em outros modelos, falhas no sistema de direção assistida. Tudo isso veio à tona nos últimos três meses.
O presidente mundial, Akio Toyoda, declarou que "temia que o ritmo de crescimento obtido por sua empresa nos últimos 10 anos houvesse sido rápido demais (...) e que tradicionalmente as prioridades da empresa sempre foram segurança, qualidade e volume. Mas, em seu período de intenso crescimento, essas prioridades se confundiram e não fomos capazes de parar, pensar e fazer melhorias na mesma escala que anteriormente".
A Toyota está vivendo seu inferno astral?
Sim, em função de uma conjugação de astros (e principalmente estrelas), que foram, no caso, os próprios executivos da empresa. Falharam no controle de qualidade e demoraram para reconhecer os defeitos.
(Por falar em estrelas, está na hora de o sr. Toyoda dar um pulinho no Brasil, onde sua fábrica nega o problema no Corolla, apesar de vários deles ?produzidos aqui ? já terem apresentado a falha da aceleração involuntária).
Toyota: inferno astral?
Presidente mundial reconhece que "não fomos capazes de parar, pensar e fazer melhorias na mesma escala que anteriormente"