Uma CPI da Assembleia Legislativa de São Paulo confirmou aquilo que já se sabia (ou se suspeitava) há tempos: companhias de seguros procuram reduzir - seja lá como for - os custos para reparar automóveis acidentados, nem que tenham de colocar em risco a integridade do veículo e a segurança dos passageiros.
Nada contra a redução de custos. É essencial para a rentabilidade e sobrevivência de qualquer empresa. Mas existe um limite a ser respeitado, principalmente quando a segurança está em pauta.
O malfeito começa ao se tentar impedir que o carro avariado seja levado à concessionária ou à oficina de preferência do dono. A seguradora "sugere" que o reparo seja efetuado numa empresa indicada por ela, ou se perde uma série de vantagens. Uma verdadeira chantagem contra o proprietário do carro.
É lógico que a "credenciada", a fim de engrossar seu faturamento e tão irresponsável quanto a própria seguradora, aceita suas imposições e cobra muito menos que a média do mercado para executar o serviço. Com as inevitáveis consequências na qualidade do reparo.
Além disso, outra fórmula para reduzir custos é substituir componentes por outros não originais. Ou seja, em vez de comprar na concessionária a peça que tem garantia de qualidade assegurada pelo fabricante do automóvel, a opção é partir para o mercado paralelo. Onde se adquirem componentes mais baratos que podem - eventualmente - ter a mesma qualidade dos originais. Mas com grandes chances de ser uma gambiarra feita em fundo de quintal. Quem faz o controle de qualidade?
No caso de uma peça do tipo cosmético, como para-lama ou grade, ainda vai, pois não interferem na segurança. Mas um componente do sistema de direção de qualidade duvidosa é de causar calafrios. Roda de liga leve quebrada raramente é substituída, pois custa uma nota preta e a seguradora manda, então, recuperá-la. Uma operação condenada e perigosa porém, 10 vezes mais barata.
Testes realizados pela Universidade de Campinas numa barra de direção oferecida no mercado paralelo revelaram ter sido produzida com aço do tipo vergalhão, o mesmo usado na construção civil. O especificado é o aço cromo. A diferença pode fazer o carro ficar literalmente sem direção. Uma falha de consequências facilmente imagináveis.
As companhias de seguro também têm suas queixas, pois são vítimas de inúmeras espertezas praticadas por segurados sem escrúpulos. Para receber o valor integral do seguro, por exemplo, usam de várias táticas escusas, até a de jogar o carro na ribanceira e alegar que foi roubado.
No frigir dos ovos, quem paga o seguro de um automóvel quer tranquilidade caso se envolva num acidente. Mas acaba se aborrecendo com os subterfúgios usados por algumas seguradoras para reduzir custos.
Um automóvel acidentado deve, em tese, ser reparado de forma a conservar as mesmas condições estéticas e de segurança no momento em que deixou a fábrica.
O problema é que, na prática, a teoria é outra.
Seguro de nada
O reparo de um automóvel acidentado deve conservar suas características originais. Mas na prática a teoria é outra