Um corretor de seguros contou outro dia que negociava com um cliente um seguro internacional de assistência médica. E que, em troca de um valor mensal relativamente barato, ele teria direito a tratamento médico, hospitais, ambulância e até helicóptero. E o cliente retrucou: "Mas, se eu não precisar de nada disso, vou estar pagando à toa". O corretor pensou em responder que tanto melhor, afinal, ninguém quer ter problemas de saúde. Mas percebeu que, diante de um argumento surrealista como aquele, seria inútil. Fechou a pasta e se despediu do cliente.
Com os equipamentos de segurança num automóvel, o raciocínio de muitos motoristas é mais ou menos o mesmo: para que pagar tão caro, se a probabilidade de acontecer um acidente comigo é quase nula?
Além dessa besteira, tem também o argumento de que os equipamentos são sofisticados e muito caros. O que não é verdade, pois o mesmo motorista que recusa freios com ABS equipa seu carro com rodas de liga leve, bancos em couro, som sofisticado, etc.
A eletrônica embarcada num automóvel não é mesmo barata. Mas é louvável e deve-se aplaudir o esforço das empresas que tentam quebrar o círculo vicioso do "é caro porque ninguém compra ou ninguém compra porque é caro?".
Palmas, por exemplo, para a Fiat Automóveis, que acaba de formatar um kit de segurança que ela chamou de HSD, que vem a ser "Direção com elevada segurança" (por que, em inglês, ninguém explica...). A montadora reduziu quase para a metade (de R$ 4,8 mil para R$ 2,8 mil) o custo do par de airbags e dos freios ABS, em toda a sua linha (exceto o Uno Mille). A iniciativa da Fiat foi tomada dois meses depois que a Bosch decidiu nacionalizar a produção dos freios ABS.
Pior que custar caro é que ainda tem montadora que complica ainda mais ao montar um "pacote" e obrigar o freguês a levar CD Player e/ou ar-condicionado, se quiser comprar os de segurança.
Iniciativas como essa, da Fiat e da Bosch, além de aplaudidas, deveriam receber algum incentivo fiscal do governo federal. Perdão, leitor, receber incentivo de quem mesmo?
Recall
Por falar em desgoverno e segurança, uma excelente medida já adotada pelo Detran do Rio de Janeiro, que tem chances de ser estendida a todo o país: é a exigência de provar que o automóvel foi submetido ao recall para que seja licenciado ou transferido.
Novamente: a despreocupação do brasileiro com segurança é tamanha que mais de dois milhões de proprietários de automóveis chamados de volta às concessionárias para substituir - gratuitamente - itens de segurança defeituosos não compareceram para o conserto. Ou seja, você compra um carro usado sem saber que pode perder os freios, ou soltar uma roda ou os cintos não funcionarem, em caso de um acidente. Tudo porque o proprietário anterior não levou o carro à concessionária, para atender o recall da montadora. Em resumo, para brasileiro se preocupar com segurança, só forçado por lei.
Segurança na marra
Empresas como Bosch e Fiat estão quebrando o círculo vicioso que encarece o custo dos equipamentos de segurança