Um amigo me contou que assistiu, há uns 15 anos, a uma conversa numa concessionária VW entre o gerente de vendas, o avaliador de usados e o dono do usado que entraria como parte do pagamento de um Gol zero.
O gerente queria efetivar o negócio, por interesse profissional e também por ser amigo do cliente. Mas o carro era um Lada...
O avaliador, constrangido, veio conversar com o gerente e o cliente depois de examinar aquela obra-prima da indústria soviética.
- É o seguinte, os pneus estão muito ruins e a pintura precisando de reparos?.
- Mas, quanto podemos pagar no carro?, perguntou o gerente.
- Bem, é que o motor está vazando um pouco de óleo e o sincronizador da segunda tem que ser trocado também, responde o avaliador.
- Ok, diz o gerente, mas quanto dá para oferecer no Lada do nosso amigo?
- É que os amortecedores estão vazando e tem um curto na parte elétrica.
- Já entendi, disse o gerente meio irritado. Mas vale quanto o carro?
- Nada, dispara o avaliador, olhando para o teto...
E o gerente, para não perder o negócio nem ? talvez ? a amizade, manda R$ 800 no Lada.
Essa história vem a propósito dos carros chineses que estão chegando ao Brasil. Claro que lá se produzem bons automóveis, principalmente nas fábricas locais associadas a marcas internacionais como a GM, Citroën, VW, Audi, BMW etc. Mas existem também as 100% nacionais que ainda estão engatinhando em termos tecnológicos, não incorporaram um know-how atualizado e o que fazem com perfeição, por enquanto, é copiar modelos de outras marcas. Claro que, dentro de alguns anos, os chineses terão atingido patamares superiores em termos de qualidade. Mas, por enquanto...
Um exemplo típico dos tropeços dos automóveis importados da China pode ser conferido na última edição da revista Quatro Rodas. Ela realiza testes de longa duração, cerca de 60 mil quilômetros com o veículo. E depois o desmancha para analisar o estado dos principais componentes. No caso do chinês Effa M100, o carro desmanchou sozinho muito antes dos 60 mil quilômetros. A direção da revista decidiu interromper o teste, preocupada com a integridade física de seus funcionários. E a importadora confessou que a qualidade dos serviços de assistência técnica deixa tanto a desejar quanto a do próprio carro...
Fosse apenas a qualidade, o problema se restringiria à decepção do freguês com o produto. Além da provável sucessão de aborrecimentos, ainda vai ter que ouvir, na hora da troca, que seu chinês vale tanto quanto valia o russo...
O pior é a segurança. Como ainda não existe no Brasil nenhum órgão apto a realizar os testes necessários para verificar se um automóvel se enquadra dentro das exigências da nossa legislação, o governo teve uma saída ?brilhante?: a fábrica emite um documento certificando que o seu carro está dentro das especificações exigidas pela lei.
Vale perguntar: será que o tal Effa M100 se enquadra?
Russos e chineses
Uma importadora de carros chineses confessou que a qualidade de sua assistência técnica é tão ruim quanto a de seus produtos